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O show dentro de campo e a xenofobia fora dele – por Anderson Santos e Dijair Brilhantes

Coluna Além das 4 linhas –  edição da semana de 22 de junho de 2012 – por Anderson Santos (editor) e Dijair Brilhantes

 

Os torneios realizados no continente europeu sempre são muito elogiados pela mídia mundial por sua organização. Isto inclui belos estádios, ótimos gramados, mas principalmente a pontualidade com o horário dos jogos, ao ponto de as torcidas fazerem contagem regressiva para o início das partidas. Algo que deveria sim servir de exemplo, principalmente para a Conmebol.

Mas nem tudo são flores por lá, como as que estão presentes no símbolo da Uefa Euro Cup 2012, realizada na Ucrânia e na Polônia. Brigas por motivos históricos e a xenofobia, já presente em torneios locais, também já deram as caras num torneio marcado pela eliminação da atual vice-campeã mundial, a Holanda, já na primeira fase.

UM “SHOW” DE TRANSMISSÃO E ORGANIZAÇÃO

É curioso assistir à Eurocopa e lembrar que é um evento que não é feito pelos estadunidenses, reis do “espetáculo”. Apesar de que se percebem as diferenças na forma em que ele é apresentado. Por mais que também seja tudo cronometrado, com apresentações artísticas antes de cada partida, o principal elemento ali é o jogo.

Todos os estádios reformados e/ou feitos na Polônia e na Ucrânia, principalmente neste último, são utilizados pelos clubes locais, o que evita “elefantes brancos”, como os que sobraram da Euro 2004, em Portugal, em que só dois ou três estádios conseguem se manter – evitando gastos públicos para isso.

Exigir que os estádios da América do Sul tenham tamanha modernidade como as arenas dos clubes europeus seria querer demais. Não será da noite para o dia que os clubes deste continente ficarão milionários. Mas pontualidade não exige dinheiro, apenas organização.

Nos torneios nacionais, até mesmo por conta das exigências da emissora de televisão que controla as transmissões – seja em transmissão aberta ou fechada –, isto já acontece há algum tempo. Mas a Libertadores é uma “várzea”, onde se pode jogar qualquer coisa em campo sem maior preocupação com punições.

No caso da Euro, a organização passa perto da perfeição.Até mesmo quando falta público para assistir aos jogos, caso de Suécia x França, a UEFA, arruma uma solução, colocando lonas para cobrir os “clarões”, e tudo certo.

O único problema veio da natureza, com o temporal que caiu sob Donetsk na sexta-feira, quando se enfrentavam Ucrânia e França. Ainda assim, com um bom esquema de drenagem, o jogo pôde voltar a tempo de não atrapalhar a outra partida da rodada, entre Suécia e Inglaterra. Não havia paralisações em jogos da Euro desde 1972!

O torneio dos sonhos de qualquer federação estaria sendo concretizado. Mas…

UM MODELO, MAS NEM TANTO

Este modelo de futebol europeu tem diversas vantagens. Acaba por mostrar a evolução do esporte, mesmo que este tenha se tornado um produto onde poucos faturam muito dinheiro. Mas existem coisas que devem servir de exemplo a não ser seguido sob hipótese alguma.

Se pensarmos que de vez em quando ouvimos personalidades estrangeiras reclamando da (falta de) segurança no Brasil – por mais que isso exista mais para quem é pobre, que tem a polícia mais como repressora, que para os ricos. O “Hemisfério Norte” não é tão perfeito assim.

Desde quando se soube que Rússia e Polônia cairiam num mesmo grupo, as preocupações sobre a segurança na partida estavam latentes. Os dois países têm uma complicada história política. A Polônia teve tido seu território invadido pela União Soviética em 1939, enquanto os nazistas dominavam o oeste. Após a Segunda Guerra, foi governada pelos comunistas ligados a Moscou.

A batalha campal promovida entre russos e poloneses no entorno do estádio foi um “duelo” de causar inveja a qualquer briga entre torcidas já vista no Brasil. Ambas as torcidas proporcionaram cenas lamentáveis, que foram replicadas para os mais diversos lugares do mundo, com direito a vídeos da confusão.Foram 15 pessoas feridas e 100 presos mesmo com um policiamento de cerca de 6000 pessoas.

Depois do ocorrido, mesmo após a desclassificação das duas seleções, os russos prometeram ir para a Polônia como uma forma de revidar. Ao menos por enquanto, e sem jogos de nenhuma das duas seleções, isso ainda não ocorreu.

Outro fato lamentável são as seguidas manifestações racistas que vem ocorrendo nos jogos da Euro 2012. O caso mais marcante foi do italiano Mário Balotelli, que mesmo antes do início da competição já temia por manifestações ofensivas. Na partida realizada na polonesa Poznan entre a Itália e a Croácia, no dia 15, os torcedores imitavam macacos a cada vez que Balotelli pegava na bola. Chegaram ao ponto de jogarem uma banana no gramado.

A Federação Croata de Futebol foi multada em 80 mil euros “pelo uso e lançamento de fogos de artifício e por conduta imprópria dos torcedores (gritos racistas e símbolos racistas)”.

Além do atacante italiano, a UEFA recebeu denuncias de outras três seleções, Rússia, República Tcheca e Holanda.

O que mais preocupa é que não são casos isolados. Nas competições realizadas na Europa têm sido recorrentes as manifestações. Um dos casos mais marcantes é o que acontece na Rússia, em que o Zenit St. Petersburg pé “proibido” por seus torcedores a contratar jogadores afrodescendentes, independente de sua qualidade técnica. Roberto Carlos sentiu o preconceito em partidas pelo AnzhiMakhachkala, chegando a se recusar a continuar um jogo.

Além disso, alguns eventos ocorreramdurante a carreira do camaronês Samuel Eto’o, também do Anzhi, quando ainda atuava por Barcelona da Espanha e Inter de Milão da Itália. Em um dos jogos pelo time catalão, o atacante chegou a ameaçar sair de campo caso as ofensas racistas continuassem.

A UEFA, por conta disso, em todos os seus torneios carrega o lema “Respect”, com a leitura de documento contra o racismo pelos capitães de seleções em partidas decisivas, as tarjas de capitão trazem o lema da campanha e foi produzido um vídeo, em que estrela o holandês Clarence Seedorf – dizem que há caminho do Botafogo.

A FIFA precisa unir se com as federações continentais, e banir este mal que atinge parte do mundo futebolístico. Ofensas morais são muito piores que qualquer falta que um jogador possa sofrer dentro de campo, e estes criminosos devem ser punidos.

(Para quem quiser nos ajudar criticando e/ou sugerindo novas propostas e assuntos, entre em contato através dos e-mails [email protected] e [email protected])

QUEM ESCREVE:

Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]) e Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo

Twitter da coluna: @alem_das4linhas

 

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