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Ruim da cabeça, doente do pé – por Luciano Ribas

Para esse retorno ao melhor site de política e notícias do Rio Grande do Sul, eu havia pensado em revelar que tenho alguns poucos genes (bem recessivos, felizmente) arenistas. Falaria do meu avô paterno, Venâncio Pinto Ribas, membro do velho PSD e dos seus sucessores, Arena e PDS, buscando conjecturar sobre suas reações à possível coligação da sigla que atualmente “traduz” a direita agrária e conservadora gaúcha, o PP, com os comunistas do PC do B.

Mas tive pena do velho Venâncio. Ele, que morreu antes de ver a milicada ser apeada do poder, deixou a vida convicto da ideologia que abraçou – coisa de família, aliás, visto que seu pai, Gerôncio Pinto Ribas, foi figura importante do Partido Republicano Rio-grandense e do castilhismo/borgismo em São Martinho da Serra – quando ser republicano era ser progressista verdadeiramente. Ver a senadora Ana Amélia dando uma de direita maquiada de moderna certamente seria demais para meu pobre avô. Por isso, o deixarei em paz.

Sem paz, porém, tem sido a vida de quem não segue o senso comum e evita balançar os quadris ao som do “hit do momento” – sob o comando de algum boleiro, de preferência.

Sem paz e sem perdão, somos os novos excluídos, os sem tchu-tchu-tcha-tcha, os desprovidos de tche-rê-rê, os miseráveis de assim você se me mata, os ruins do pé, em resumo. Na simplificação do chacoalho nacional, quem não adere à eterna “coreografia” insinuando algum ato sexual, só pode ser algum tipo de aberração.

Nessas horas só nos resta invocar São Renato Russo e tudo o que seus versos representaram e representam na minha vida, nas vidas de milhões, aliás. Lembro seus passos desconexos dançando “Geração Coca-Cola”, seus braços contorsivos cantando a estupidez humana, a estupidez de todas as nações. Seus giros entorpecidos contando como apenas uma pessoa era a cura para o seu vício de insistir na saudade de tudo o que ainda não havia visto. Nele me agarro, Nele construo minha fortaleza, Nele reconheço a origem da pedra que é o alicerce de uma geração que enxerga além das tardes do Faustão ou das matérias bobinhas do Globo Esporte.

A dança é uma arte, é claro, e quando se torna profissão evidentemente precisa dos seus códigos e sistematizações. Mas também é uma atividade ritual, primitiva, que sabe mandar aos infernos as convenções e os mauricinhos (ou seriam os thiaguinhos?) do compasso marcado nas noites daquela casa noturna que ajuda os embriagados a burlarem a lei de trânsito. Renato Russo sabia disso, podem acreditar, e acho que todos aqueles que o imitaram numa boate do DCE também sentiram isso um dia.

“Samba no pé tem cura, tome rock’n’roll”, dizia a camiseta feita pela minha amiga Ane Cerutti há alguns anos. Concordemos ou não, é radical, mas o é como nenhum pagode (ou sertanejo universitário ou até mesmo com PhD) jamais será.

Na minha opinião, rock também pode curar “doença da cabeça”, pois acho que quem toma doses elevadas do gênero musical mais universal é capaz de tornar verdade aquilo que Einstein dizia, que “a mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original”. Mas, para o bem e para o mal, cada um é livre para ouvir o que quiser e a liberdade é o nosso bem mais precioso.

Infelizmente, porém, ele não cura incoerência inexplicável, como a cruza de arenistas com comunistas. Esta, atravessa o samba (ou o rock) completamente.

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7 Comentários

  1. Parabéns meu filho.
    Não me surpriendo por
    te conhecer do teu
    primeiro minuto de vida.
    Um grande abraço.
    E ao Rejane Flores muito
    obrigado.

  2. -Parabens Luciano,tens pedigree. Chegou me arrepiar. Teu Bisavô Geroncio Ribas foi Conselheiro-Vereador e tinha algo em falta hoje em dia: Palavra, Coêrencia e Republicano como Ideologia.A Familia Pinto Ribas orgulha nossa Terra.

  3. Ribas, parabéns pelo texto. Coerente com tua trajetória. Resistente aos que não entendem o que está posto. Grande abraço.

  4. o maior e melhor exemplo dos que “atravessam” o samba vem do PT. Esses sim conseguiram acabar com a teoria da Luta de CLasses e juntar Lulla e Jose Alencar. Então, não adianta reclamar, quando se quer o poder à qualquer custo e pior, se encontra uma bela justificativa para isso. O resto é bla´, blá, bla´…

  5. Parabéns pelo texto e pela ode a Renato Russo, maior letrista do rock nacional em todos os tempos.

    A registrar, apenas que a prática política do PT se aproxima cada vez mais da ARENA, abandonando a sofisticação intelectual de basilares como Chico de Oliveira ou Florestan Fernandes em troca de amizade siamesa com luminares do atraso como Sarney, Collor e outros felinos de semelhante pelagem…

  6. Luciano em tempos de mediocridade me emociona um texto como esse teu.Acho qu como tu tenho algum genes bem recessivos dos caudilhos da fronteira em que o meu pai fazia parte mas felizmente comigo eles proliferaram.Acredito que o velho João Amazonas deve estar se virando na tumba em ver o PP junto com o PCdoB.Concordo contigo que somos os novos excluidos culturalmente pois ontem assisti um repoter de um canal da mesma Globo da Ana Amélia dizer que o grande escritor Ernst Hemirgway estava ultrapassado.Provavelmente essas pessoas também acreditem que Chico Buaque,Elis Regina também já eram, sorte que ainda temos jovens como tu e outros que conhecemos.Gladis Delgado

  7. Que maravilha de texto, Luciano. Pena que a dita cruza de “esquerdista” com “arenista” não tenha sido inaugurada pelo PCdoB. A incoerênia dos cruzamentos, penso que seja um um pouco mais antiga. Está no governo federal…só não está no governo do estado porque o PP recusou. E só não esteve em Santa Maria porque o “dr. Farret” recusou, ele sim, coerente com a sua história. Abraço.

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