Uma Grande Universidade em uma cidade do Interior – por Felipe Martins Müller
O título acima poderia, muito bem, indicar que se trata de um texto sobre a UFSM e a cidade de Santa Maria. Apesar das semelhanças, vamos falar de uma viagem, quando (onde) fui representar o Grupo Coimbra das Universidades Brasileiras, na reunião anual do Grupo Coimbra das Universidades Europeias. Nessa oportunidade, participei das comemorações relativas aos 275 anos da Universidade de Göttingen na cidade de mesmo nome na Alemanha. São elas que dão o nome a esse artigo.
Durante esse evento participei, como painelista, de uma discussão sobre Governança, Integridade e Qualidade nas Universidades. Governança é um tópico no qual falamos sobre como administrar bem as universidades e como financiá-las, uma vez que na Europa a maioria das universidades cobra taxas acadêmicas de seus estudantes, mesmo quando são públicas (estatais). No quesito integridade, discutiu-se bastante questões relativas às cobranças extremas por produção científica e intelectual, que tem levado muitos pesquisadores a se valerem de métodos escusos ou pouco ortodoxos, para driblarem os prazos cada vez maiores para verem suas publicações impressas em revistas de grande impacto científico. Por último, falamos sobre qualidade, principalmente as questões de multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, coisas que tanto almejamos, mas quando vamos aplicar, na prática, as ações esbarram nas aversões e receios quanto a mudanças nos métodos tradicionais de ensino e aprendizagem baseados em conteúdos.
Dito isso, vou falar um pouco da cidade que visitei e da Universidade que conheci. A cidade de Göttingen se diz no coração da Alemanha e se intitula a Cidade da Ciência. Ela conta com um centro histórico bastante preservado e um entorno com toques de uma comunidade que cresce de maneira bastante pujante. Isso tudo reconhecidamente devido à existência da Universidade de Göttingen que foi fundada em 1734. O próprio guia turístico aponta que a fundação da universidade trouxe um grande impacto no desenvolvimento da cidade, renovando suas construções resultando em diversos marcos da arquitetura, inclusive o prédio principal daquela Instituição de Ensino que foi construído para as comemorações de seu centenário.
Durante o último século, pesquisadores da Universidade de Göttingen foram agraciados com mais de 40 prêmios Nobel, tais como, Manfred Eigen e Erwin Neher, ainda em atividade, e dentre os mais famosos, Adolf Windaus, descobridor da vitamina D, os físicos nucleares Otto Hahn e Max Born, fundadores da teoria quântica. Também já foi considerada o centro do mundo matemático, quando no início do século passado David Hilbert e Hermann Minkowski desenvolveram os fundamentos da Teoria da Relatividade de Einstein.
Entre tantos cientistas, trabalharam por lá Georg Cristoph Lichtenberg, que além de estudar a eletricidade estática, ainda introduziu materiais didáticos que conseguiam representar os pólos positivo e negativo da corrente contínua; Carl Friedrich Gauss e Wilhelm Weber, que desenvolveram os Fundamentos do Eletromagnetismo e construíram o primeiro telégrafo eletromagnético do mundo. Para mim, que estudei engenharia elétrica poder visitar as instalações onde esses cientistas trabalharam e poder ver alguns de seus experimentos originais na exposição “Objetos do Conhecimento”, durante as comemorações dos 275 anos da universidade, foi uma experiência única.
Além disso a Universidade de Göttingen proporciona à cidade inúmeras atividades culturais, como, festivais de teatro, música e literatura e nos seus 275 anos de existência tem o reconhecimento de que a cidade só existe até os dias de hoje, porque a universidade foi instalada lá.
Escrevi sobre isso para mostrar como é impressionante guardarmos a história e a importância de uma universidade em nossas vidas particulares e comunitárias. Tenho certeza que diversas pessoas encontraram paralelos entre a Universidade de Göttingen e a Universidade Federal de Santa Maria, entre a Cidade de Göttingen e a cidade de Santa Maria. Ainda não temos 275 anos e não fomos contemplados com prêmios da dimensão Nobel, mas nos orgulhamos de nossos 51 anos de vida, de estarmos no Brasil, no coração do Rio Grande do Sul, e de participarmos tão ativamente das atividades de nossa cidade e região.
Encerro, convidando a todos para participarem do 27º Festival Internacional de Inverno da UFSM, promovido na localidade de Vale Vêneto, na semana de 29 de julho a 5 de agosto, um exemplo, dentre tantas ações de integração de nossa instituição com a comunidade local e regional.
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