Este sítio, para orgulho (nada modesto) do editor, tem se constituído, para além das fontes oficiais, em espaço de debate das ideias que, de uma forma ou outra, se colocam a partir da longa greve dos docentes da UFSM. Sem prejuízo, claro, da análise do próprio editor – de resto bastante clara.
Agora, quem retoma a discussão, que tem tudo de provocativa para com os não grevistas (é a dedução óbvia, cá entre nós) – e cujo “outro olhar” você também teve, agora há pouco, em nota publicada mais abaixo – é um docente conectado com o movimento, por certo. E que não poupa a crítica a comportamentos que contrariam a posição dele. Bem, chega de trololó. Confira e tira, você, a própria conclusão:
“O inferno são os outros”
Por Luiz Carlos Nascimento da Rosa (*)
Meu amigo Ascísio, Professor de Filosofia de profissão e generoso companheiro político dos movimentos sociais, por convicção ideológica, têm falado em público que deveríamos resgatar a Ágora Grega. Só para lembrar os desavisados a Ágora era um espaço público, em Atenas, onde os cidadãos decidiam os destinos políticos, culturais e econômicos da vida social. Para os menos familiarizados, a assembleia democrática Grega chamava-se Eclésias. O homem que já tinha vivido dois anos de serviço militar tinha voz e voto.
Critiquemos a Ágora grega por ser machista, mas nos espelhemos no exercício público do debate. Em praça pública os cidadãos decidiam os destinos de Atenas. A herança grega para nossa cultura ocidental é admirável. Na Filosofia podemos citar nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles. Na literatura fico com Homero e Sófocles. Concordando ou não diria que é impossível não beber desse caldo cultural. Escrevo isso por lembrar, tristemente, que somos um país de analfabetos. Dizem as pesquisas que 65 por cento de nossa população é analfabeto funcional. Foi à escola, se apropriou do conhecimento escolar, mas não consegue decodificar a vida e explicar o mundo vivido pelo conhecimento que possui.
A outra categoria é o chamado analfabeto político. Na contemporaneidade é imensa a legião de analfabetos políticos. A individualização, triste marca da vida atual, esta fazendo com que as pessoas estejam se lixando para os outros e para a vida na polis. Tristemente eu ouço em meu lugar de trabalho e no calçadão da Bozzano que religião e política não se devem discutir. Tenho colegas que são exímios pesquisadores, mas só conhecem o estatuto epistemológico de suas áreas de conhecimento. Experiências de vida política nada. Não sabem e não querem saber o que é um movimento social. Por suas participações desastrosas em uma assembleia de nosso sindicato percebi que desconhecem o modus operandis de um debate democrático em assembleia.
Como é triste ver um mundaréu de Doutos como analfabetos políticos. A política coordena nossas vidas. É através da política que se decide orçamentos para a Educação, Cultura, Saúde, Segurança, etc. Como não discutir? Como não vivenciá-la. A clausura tornou-se a marca registrada de nossos dias. As pessoas cuidam e preocupam-se, exclusivamente, de seus próprios umbigos. Existe um ditado de senso comum, que materializa bem estas formas de vida: a minha liberdade vai até onde começa a liberdade do outro. O outro virou obstáculo ao meu eu. Para eu ter muito e ser mais livre, o outro tem que possuir menos e ser menos livre.
Jean Paul Sartre, romancista, Filósofo e Intelectual engajado, sobre um caixote, nas esquinas de Paris discursava sobre liberdade e defendia uma sociedade mais digna de ser vivida. O título deste texto é uma máxima sartriana. Ao conhecer a ideologia de uma vida construída sobre as sedutoras emanações do capital, o grande Sartre já antecipava que o outro, nesta vida desigual, pelas determinações do capital é meu inferno astral. Que o generoso desejo do Ascísio se consolide e o pensamento conservador e despótico não se espraie. Vamos construir nossa Ágora e discutir a vida pública em espaços públicos e, assim, talvez nos tornemos capazes de diminuir a orla de analfabetos políticos com título de Doutor que estão por aí.”
(*) Professor do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da UFSM
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