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Educação especial: uma conquista limitada – por Demetrio Cherobini

Há razões para festejar, mas não ainda há a necessidade de avançar bastante

A educação especial é uma conquista, principalmente para famílias da classe trabalhadora que possuem, entre seus membros, indivíduos com necessidades educativas especiais. Como qualquer conquista social, foi obtida com mobilização, organização, reivindicação, luta e tomada de consciência coletivas. Ela assegura a algumas dessas pessoas acessar o estudo, adquirir parte do conhecimento acumulado pela humanidade e receber uma formação que faculte o ingresso no mercado de trabalho, em atividades cujas configurações sejam adequadas à sua condição individual.

O mundo do trabalho precisa ser encarado com realismo e sem romantismo. Ele não costuma dar “refresco” ou apresentar facilidades, muito pelo contrário. É, no mais das vezes, árduo e cansativo, com concorrência acerba, submissão à rotina, disciplina rígida e desgaste de energias psicofísicas em prol do empregador que enche os bolsos e em troca de um salário que garante ao trabalhador meramente o básico – tudo isso em condições de trabalho frequentemente ruins e com constantes perdas de direitos.

Mesmo assim, é preferível adentrar o mundo do trabalho a viver abandonados e reclusos em espaços segregados como acontece ou acontecia há pouco tempo. Isso porque o mundo do trabalho também pode, com o tempo e a depender das situações, propiciar uma educação de outro tipo, calcada em novas lutas coletivas, que fomentem o surgimento de novas capacidades e uma consciência mais desenvolvida acerca da sua própria condição de trabalhador. Por apontar para essa possibilidade é que a educação especial deve ser considerada uma verdadeira conquista social.

Mas essa conquista mostra-se, no momento atual, bastante limitada. Sobretudo pela precariedade das condições materiais nas quais é realizada e pela escassez dos recursos humanos preparados para esse trabalho. Alguns dos obstáculos que saltam aos olhos são: falta de salas adequadas (ou prevalência de salas improvisadas) para a prática da educação especial e carência de professores especializados para o trato com a grande quantidade de estudantes incluídos no ensino regular.

Nesse sentido, deve-se sublinhar especialmente a sobrecarga de trabalho de professores que têm dificuldade em dar conta das inúmeras tarefas exigidas pela profissão. Por exemplo: estabelecer planejamentos individualizados e adaptados às necessidades dos alunos; preparar as aulas semanais e os materiais necessários a elas; atender e orientar familiares e corpo discente e docente da escola sobre os temas próprios à inclusão escolar; realizar formação teórica e prática com os demais colegas professores, para que saibam como trabalhar com os alunos incluídos; e, sobretudo, dispor de tempo para realizar um trabalho constante, intensificado e individualizado, com os estudantes com necessidades especiais.

Esta é só uma pequena e pálida amostra da realidade onde nos encontramos. Conclusão inevitável: devemos defender essa conquista que é a educação especial, mas visando ir além do que atingimos hoje. Precisamos reivindicar mais para a educação especial e articular essas exigências “parciais” com lutas “gerais” por uma sociedade melhor e verdadeiramente humanizada, capaz de proporcionar a todos o livre desenvolvimento das suas potencialidades e a possibilidade de se tornarem os sujeitos da sua própria história.

(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.

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