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O destino do amor – por Bianca Zasso

O cinema produzido em Hollywood e algumas comédias contemporâneas francesas têm dedicados alguns rolos de película para contar histórias de amor herméticas e com quase nenhum tempero interessante. É a velha equação rapaz encontra moça, surge a paixão, algo dá errado, tudo é resolvido e eles vivem felizes para sempre.

Essa nuance de conto de fada insiste em estar presente por um motivo óbvio: a maioria das pessoas não gosta de ver um relacionamento se deteriorar na grande tela. É como se o cinema fosse obrigado a nos deixar sempre otimistas e acreditando que há sim um amor perfeito. O sofrimento, as lágrimas e os xingamentos são desconfortáveis. O diretor americano Derek Cianfrance  sabe disso e decidiu acrescentar a poesia dos primeiros tempos do amor para explicar como ele chega ao fim.

Namorados para sempre é um filme sobre duas pessoas que não se amam mais. O título piegas escolhido para a divulgação brasileira não combina em nada com a trama. O original, Blue Valentine, uma clara alusão ao Dia dos Namorados americano, retrata muito melhor o objetivo da história. Cindy e Dean são casados há sete anos e têm uma filha. O relacionamento não vive seus melhores dias, as brigas são constantes e a racional Cindy e o romântico Dean parecem nunca terem se entendido na vida.

Numa jogada inteligente do roteiro, as cenas da atual fase do casal são intercaladas com os momentos do início da relação, quando os dois acabam ficando juntos de uma maneira insólita. O espectador se depara com dois casais diferentes, porém iguais. A paixão sexy e bem-humorada se mistura com as conversas burocráticas e os gestos sem significados. No tempo do namoro, qualquer detalhe era uma dádiva. No atual casamento, mesmo em um quarto de motel, tudo parece obrigação. Os elogios e comentários trocados entre os dois provocam irritação ao invés de desejo e motivação.

As atuações realistas e tocantes dos protagonistas Michelle Williams e Ryan Gosling se devem ao fato de os atores estarem envolvidos com a trama desde a sua criação. Durante quase seis anos, Michelle e Ryan conversaram com o diretor do filme sobre seus personagens, opinando e ajudando a dar um novo rumo ao até então rascunho de roteiro. A dedicação foi tanta que os dois são produtores do filme que, mesmo com o orçamento módico e pouca estratégia de marketing, acabou caindo nas graças do público e da crítica e acabou indicado ao Oscar.

Não levou nenhuma estatueta dourada para casa, mas fez muita gente voltar para casa de coração apertado. Mais do que uma história verossímil com ótimas intepretações, Namorados para sempre é um filme que mete o dedo na ferida sem dó, mostrando onde o amor começa e fazendo o fim ser mais dolorido que o normal. Os dias felizes existiram, mas ninguém disse que iam durar para sempre. O filme nos abre os olhos para algo que pode acontecer com qualquer um de nós. Afinal, é mais fácil encontrar um amor que se perdeu do que um que durou para sempre.

Namorados para sempre não é uma experiência fácil. Se estivermos amando, ele nos causa dúvidas e medos. Se não suportamos olhar para quem está ao nosso lado, encontramos algumas respostas para entender o que deu início à batalha. E se estamos sozinhos, ficamos com um pé atrás. Será que o que parece uma paixão sem fim pode virar pó com o passar dos anos. O mesmo filme e muitas histórias. A magia do cinema também serve para nos fazer sofrer e, assim, continuar nos sentindo vivos.  Namorados não duram para sempre. E um dia de São Valentim solitário não mata ninguém.

Namorados para sempre ( Blue Valentine)

Ano: 2010

Direção: Derek Cianfrance

Disponível em DVD e Blu-Ray

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