A próxima vítima – por Bianca Zasso
Os filmes catástrofes movimentaram a década de 70. Aviões em pane, incêndios e terremotos eram palavrinhas mágicas para os roteiristas contratados pelas grandes produtoras da época, que investiam em efeitos especiais e usavam as modernidades daqueles tempos para fazerem as filas dos cinemas dobrarem as esquinas.
O período rendeu bons filmes, muitos baseados na presença de astros e estrelas, afinal, quem não fosse chegado em explosões e correria, compraria o ingresso na esperança de ver seu ídolo. O diretor Larry Peerce, mais conhecido por seus trabalhos para a TV, optou por se valer da edição para fazer o seu cinema catastrófico. Pânico na multidão, lançado em 1976, segue a receita direitinho. Tem Charlton Heston no elenco, muitos figurantes e um mistério.
Pânico na multidão, apesar de colocar Heston como sendo o centro da trama no material de divulgação, não tem um protagonista físico. O que rege o roteiro e hipnotiza a plateia é um sentimento conhecido dos espectadores: o medo. A trama pode ser resumida como a ação de dois policiais (o já citado Heston e John Cassavetes, no papel de sargento da SWAT) e suas equipes para deter um atirador que está no ponto mais alto do estádio Coliseum durante a final do campeonato de futebol americano. Seu alvo é desconhecido, assim como seu rosto.
Contrariando a maioria dos roteiros, nos quais o público sabe as motivações do vilão, Pânico na multidão coloca a pulga atrás da orelha. E a deixa lá por um bom tempo. A condução das cenas é precisa, inteligente e tem estratégias que prendem a atenção, como o uso dos monitores da cabine de TV. Descobrimos táticas, possíveis vítimas e nuances do atirador junto com seus investigadores.
Ficamos ansiosos pela próxima cena e vamos sendo conquistados pelos coadjuvantes. O casal em crise, a família torcedora, o padre, o batedor de carteiras, cada um em sua cadeira, intercalando o interesse no próximo lance no campo com problemas pessoais em diferentes níveis. Conhecemos estes personagens em muito mais profundidade do que aquele que mantém nosso frio na barriga enquanto segura seu fuzil. Em cada pequena realidade, suamos frio na espera de que, em segundos, aquela história seja interrompida.
Óbvio que como um bom integrante de seu gênero, Pânico na multidão mostra confusão e pessoas sendo pisoteadas. São 91 mil torcedores correndo para fora de um local com apenas 33 saídas. O medo volta, mais intenso, mas também mais visual, fruto da ótima montagem assinada por Walter Hannemann e Eve Newman. Montagem esta que deve muito ao livro no qual o filme se inspira, escrito por George La Fountaine, conhecido por criar bons suspense em suas publicações.
Escritos à parte, Cassavetes está ótimo como o seguro Sargento Button, a breve participação de sua esposa Gena Rowlands no papel de uma mulher rejeitada pelo namorado e a presença do veterano Martin Balsam conferem ainda mais pontos positivos para o filme.
Pânico na multidão não tira o sono ou causa traumas como o clássico Aeroporto, mas cumpre seu papel assim como o livro em que foi inspirado. É diversão com suspense, amor, tiros e descobertas, sem nenhum resquício de pieguice. Sabe aqueles livros que não ganham prêmio Pulitzer mas conquistam nossos corações? É o que vale ter na estante: boas histórias.
Pânico na multidão (Two-Minute Warning)
Ano: 1976
Direção: Larry Peerce
Disponível em DVD
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