Artigos

Só sei que foi assim – por Daiani Ferrari

Gabriela tem trinta e poucos anos, trabalha, tem o dinheiro dela, um namorado, sem filhos ou gatos ou cachorros. É quase a mulher perfeita, a não ser pelo seu gosto em fazer compras. Ela adora um carnezinho de loja. Um cartão, então, a tira do sério, sobretudo se for um cartão de loja de sapatos – ela não gosta muito de cartão de crédito de bancos. Acha meio impessoal, prefere de criar vínculos com o comércio.

As conversas sobre arrumar a casa, principalmente o quarto, para sobrar mais espaço para ele terminavam com a seguinte frase:

– Não se atreva a mexer nas minhas caixas de sapatos ou no meu guarda-roupa – aos gritos.

Não é só de sapatos ou roupas que ela gosta, mas também de eletrônicos. Tem os gadgets da moda, que a fazem pensar em como sobreviveu sem eles até pouco tempo atrás. “Justiça seja feita, eu não sou compulsiva”, pensa. Compra uma coisa aqui, outra ali. Termina um carnezinho e faz outro, alguns que não pode pagar. Está sempre comprando, já conquistou as atendentes das lojas que frequenta, tanto que ganha brindes por ser uma boa cliente.

Ao assistir um programa na TV, ouviu sobre o consumo exagerado. No programa, o entrevistado dizia que é mais saudável aquele que compra regularmente do que aquele que se segura por algum tempo e acaba fazendo uma compra gigantesca. Identificou-se com o primeiro exemplo, achou que estava fazendo compras da maneira correta e que não tinha problema algum. Não abusava (pensava), comprava habitualmente nas terças-feiras depois do almoço e no sábado antes do café no shopping com as amigas. Um dia era um sapato, no outro duas blusas, e no próximo três calças, e por aí ia. Mas estava feliz por saber (pensar) que fazia a coisa certa. No dia em que viu a reportagem na TV, chegou a conversar com o apresentador:

– Viu, eu sabia que eu não tinha problema nenhum. Eu gosto de comprar, só isso. De um jeito saudável, disse ela. E passou a comprar mais.

Foi quando ficou fascinada com uma promoção de um computador que sonhava há tempos e caiu no golpe da promoção em que as empresas aumentam o preço e oferecem descontos “maravilhosos”. Achou que sabia tudo sobre compras e que estava fazendo um grande negócio.

Naquele dia, foi rápido para casa, faceira, doida para mostrar ao namorado e ligar a máquina para os primeiros cliques. Chegou em casa com o computador ultra-mega-moderno, mas só encontrou um bilhete. “Espero que você seja feliz com suas compras e arrume mais espaço para elas, o que não foi possível para mim”.

Foi quando Gabriela ficou só e viu que roupas, sapatos e eletrônicos não a faziam feliz como ele. Ficou, também, com o carnezinho com as doze prestações do computador novo, que acabou nunca abrindo.

E foi assim que aconteceu.

As histórias, às vezes, não acabam com finais felizes, apenas acabam.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo