A arte e a reinvenção da vida – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa e Wagner Alves

É importante pensarmos, nos dias atuais, qual o significado da arte em nossas vidas: seja ela uma música que ouvimos em uma tarde de verão, ou uma tela que vemos como um olho mágico que nos enleva a um outro universo com diferentes texturas. A arte, é certo, se reinventa durante o tempo e inventa o ser a uma nova forma de perceber interpretar e explicar o mundo.

Gaston Bachelard, Professor, Filósofo, Historiador da Ciência e Esteta dizia que a “experiência primeira” é um grande obstáculo para que o ser humano desvele e explique, de fato, o mundo. Sem o uso da Razão; os nossos sentidos podem, perfeitamente, nos enganar. Para Bachelard o pensamento educa os sentidos em seus processos de investigar/olhar o mundo. Arte e Ciência, enquanto elementos da cultura humana são, extremamente, pedagógicas no processo de desvelamento do mundo vivido.

Poderíamos nos perguntar: o quê é um poema? Qual o significado de uma linda tela? Uma boa letra de Música? Uma Peça de Teatro? Para iniciar, podemos dizer que estas diferentes formas de linguagem não são formas “brutas” que com o olhar primeiro o artista descreve o mundo. O Artista se apropria dos elementos sociais, culturais e pictóricos que os cercam e através do exercício da reflexão transforma em linguagem artística a descrição do mundo circundante.

É aquela velha máxima; através da Arte transformamos o ordinário em extraordinário. Um Poema Social, Lírico ou Romântico, não expressa o sentimento momentâneo do poeta e sim a condição humana que está universalmente presente em seu processo criativo.  A pedra no poema de Drummond não é um míseroobjeto inorgânico e sim foi transformado numa grande metáfora para ele expressar seu pensamento sobre o mundo.

O arco-iris, a chuva, uma árvore, uma montanha ou uma cabana agreste é um mero ser existente; transforma-se em linguagem artística, numa tela, numa música, numa escultura ou num poema quando o artista coloca estes elementos pictóricos em seu pensamento e, num exercício nada fácil, transforma estas coisas da vida vivida em uma forma de linguagem elaborada manifesta através de sua arte. A Arte produz catarses, mas a verdadeira arte não é limpeza de chaminé do artista e nem manifestação de seu umbigo.

A Arte é uma reinvenção de mundo feita pela trajetória cultural, conhecimento e vivência do artista. A Arte não é a manifestação da experiência primeira ou o senso comum. A Arte, de forma pedagógica, quer romper com o senso comum e elevar seus interlocutores a um novo patamar de pensamento e produzir um novo senso comum; culturalmente elaborado.

Bachelard diz que a terra natal é menos uma extensão que uma matéria… é nela que materializamos nossos devaneios; é por ela que nosso sonho adquire sua exata substância. Diz ele que não pode sentar perto de um rio sem cair em um profundo devaneio, sem rever sua ventura. A água anônima sabe todos os segredos. Podemos afirmar que entre elementos sociais ou pictóricos é o pensamento que produz atos criativos na Arte.

A Arte e todas as formas de conhecimentos universalmente produzidos pela humanidade não estão no mundo para reproduzir a vida cotidiana e sim transformá-la. Quem sabe; se na vida cotidiana vivenciarmos mais intensamente as diferentes linguagens da arte poderemos construir uma nova forma de vida e um novo momento Ético Político. Quem sabe?