Mídia. A traulitada que a Globo deu em Requião. E o pedido, pra lá de contrito, de desculpas
Vamos fazer o seguinte: a minha opinião sobre o que a mídia grandona fez nessas eleições (e a resposta que lhe deu a população) você já conhece. Mas há detalhes que merecem uma explicação melhor. Especialmente no que toca a pleitos estaduais. O do Paraná é, como diz o clichê, emblemático. Então, vou deixar para o artigo da revista Carta Capital, que já está circulando em Santa Maria, responder.
Trata-se, no caso, da reportagem do glorioso Pedro Bial, em meio à campanha eleitoral, e que acabou sendo desmentida pelos fatos. Só que, certamente não apenas por esse fator (mas inclusive por ele), Roberto Requião, do PMDB, quase perdeu a eleição para governador. Foram apenas 10 mil votos de diferença. Confira o texto da revista:
IMPRENSA
CONFISSÕES CONTRITAS
A Globo, uma nota de autocrítica e meses de erros factuais quando o assunto é o Porto de Paranaguá e o governador Requião
A Rede Globo de Televisão começou a se preocupar com o facciosismo de seu jornalismo político? Na sexta-feira 10 de novembro, William Bonemer Júnior, conhecido popularmente por William Bonner, apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, leu uma nota de autocrítica do programa:
O Porto de Paranaguá, no Paraná, está entre os que investiram na modernização. Mas, nesta semana, o Jornal Nacional errou ao mencionar filas quilométricas de caminhões em Paranaguá. Estas filas praticamente sumiram desde a implantação do novo sistema de controle de embarque de cargas, em 2004.
A confissão do erro referia-se ao fato de três dias antes, numa reportagem sobre a falta de investimentos nos portos do País, o JN ter dito que no de Paranaguá havia filas quilométricas, que se estendiam por 90 quilômetros, do litoral ao planalto, do porto a Curitiba.
É uma confissão contrita, pesarosa, quase arrependida. Os erros da Globo em relação ao Paraná, onde se travou a disputa mais acirrada das eleições para governador do País – o governador Roberto Requião reelegeu-se com uma vantagem de apenas 0,10% dos votos, no segundo turno -, não são poucos e merecem uma apreciação mais detalhada. Bonner não fez qualquer menção à reportagem do jornalista celebridade Pedro Bial, na famosa caravana do Jornal Nacional que percorreu o Brasil supostamente para ajudar os eleitores a tomar posição no último pleito. No dia 5 de agosto, em plena campanha eleitoral, portanto, o JN brindou seus telespectadores com uma história de Bial introduzida assim por Alexandre Garcia e Renata Vasconcelos:
No quinto dia de viagem, a caravana do Jornal Nacional chega ao Paraná (…) Hoje Pedro Bial mostra que a riqueza viaja sobre rodas com destino certo, o porto. Mas é preciso investir em infra-estrutura para atender a um desejo de quem transporta a produção.
E aí Bial começa: Os caminhoneiros sempre saúdam nosso ônibus como se agradecessem a companhia. As estradas do Sul costumam ajudar o trabalho deles. O maior problema não é a viagem, é a chegada. A seguir aparece ele no vídeo, tendo ao fundo uma fila de caminhões diante de um terminal de embarque do porto. Bial continua então sua narrativa: Dentro de cada um desses caminhões, a riqueza que o Brasil produz e nem sempre consegue exportar a preços competitivos, por causa dos gargalos no porto. É engarrafamento, mas pode chamar de custo Brasil.
A viagem de Bial prossegue com entrevistas com caminhoneiros que dão um ar popular à cobertura. Coadjuvantes na história, com uma palavra cada um, eles descrevem a carga que transportam: Madeira, frango, milho. Bial prossegue, sem explicar que estava diante de um terminal arrendado à iniciativa privada, o da Cargill. Ele diz: Em Paranaguá, uma situação crítica que se repete nos principais portos do País. E continua: No centro de triagem, onde os carregamentos de grãos são examinados, há de se ter muita paciência. A seguir, mais caminhoneiros dizem frases que completam a crítica. Um diz: Isso é todo dia, todo dia, todo dia. Outro diz: Demora quatro, cinco, seis, oito horas.
Até essa altura, Bial ainda não disse se está diante do terminal público ou de um terminal privado de Paranaguá. Mas, finalmente, ele desfaz a dúvida. Fala: Nos terminais arrendados à iniciativa privada, a coisa ainda anda. E a frase é acompanhada da imagem de um caminhão em movimento.
O golpe final no porto público de Paranaguá fica por conta do comentário de mais um caminhoneiro escolhido oportunamente: O poder público está parado, ele diz.
Os diálogos e a descrição das imagens da reportagem de Bial apresentados acima podem ser encontrados no portal Globo.com. CartaCapital recebeu também, do governador Roberto Requião, o texto que enviou à Globo a propósito de suas referências ao porto público de Paranaguá. Ele explica que o governo do estado reorganizou o porto e há anos ele já não tem mais filas, como as apresentadas no Jornal Nacional. Uma nova logística exige que os caminhões que chegam ao porto estejam com as suas cargas negociadas e prontas para ser descarregadas nos terminais e embarcadas nos navios. Diz ainda o governador: Se alguns terminais privados (caso os senhores não saibam há terminais privados no porto) não adotam a mesma logística e às vezes se enroscam em filas, a ineficiência acaba sendo atribuída ao terminal público, como fez Pedro Bial.
O governador comenta também outra destacada menção do jornalismo da Globo ao porto, feita por Mirian Leitão e Renato Machado, no Bom Dia Brasil, do dia 27 de abril de 2004. Nessa data, diz ele, a jornalista afirmou que regras inventadas pelo governador Roberto Requião, como a de verificar toda a soja embarcada para separar a transgênica estavam contribuindo para a formação das filas. E Renato Machado teria acrescentado: A separação da soja certamente deve demorar muito tempo. O governador diz, no entanto, que o exame para se verificar se a soja é transgênica ou não, não demora mais do que dois minutos, como qualquer pessoa bem informada sobre esse procedimento sabe…
SE DESEJAR ler a íntegra do texto, pode fazê-lo acessando a página da revista Carta Capital na internet, no endereço http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirSecao&id_secao=13.
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