Paz, amor e guerra – por Bianca Zasso
Bastam os primeiros acordes da música Aquarius para nossas idéias serem invadidas pelas imagens de jovens hippies com suas roupas coloridas, dançando por uma América cheia de mudanças e contestações. Aí está mais uma amostra da força do cinema na nossa imaginação.
Lançado nos cinemas em 1979, o filme Hair veio no embalo do estrondoso sucesso do musical da Brodway de mesmo nome, que encantou a chamada “Geração Paz e Amor” com suas canções contra a guerra do Vietnã e defendendo o uso de drogas como forma de libertação do corpo e da mente. Mas Hair é muito mais do que uma produção recheada de boas músicas e coreografias divertidas e originais. É antes de tudo um filme sobre guerra. Um dos melhores, diga-se de passagem.
A trama, dirigida pelo tcheco Milos Forman, é centrada em um grupo de hippies que circulam por Nova York levando a vida que pediram à Deus: sexo, drogas, rock’n’roll e protestos contra a guerra. Neste cenário, o rapaz do interior Claude Hooper Bukowski (clara referência ao ator e diretor Dennis Hooper e aos escritor Charles Bukowski) chega a cidade americana para alistar-se no Exército e lutar por seu país no Vietnã.
Mas o que parecia ser apenas uma noite divertida com os novos amigos liberais torna-se uma amizade sólida, que fica na memória de Claude durante todo o árduo treinamento para enfrentar o campo de batalha. Uma armadilha do destino vai fazer com que o front seja o destino de outro jovem e não o de Claude. Surpresas da trama que esta que vos escreve não vai revelar para não estragar a sessão de quem ainda não experimentou Hair.
O Hair filme é diferente do Hair musical. Seus autores, James Rado e Gerome Ragni, ficaram insatisfeitos com o resultado nas telas que, segundo eles, não era fiel ao tema pacifista do musical. Porém, não há como negar que o Hair do cinema é muito mais divertido que o Hair dos palcos. Tive a oportunidade de assistir, em DVD, uma montagem de 1971 e confesso que esperava mais. Tirando algumas canções ótimas que não estão no filme, a peça me pareceu caricata e com uma abordagem didática demais para o meu gosto.
Lembra muito aqueles discursos pseudo-revolucionários que a gente vê por aí, cheio de frases de efeito e poucos argumentos. Milos Forman deixou os discursos de lado e fez um filme sobre a guerra e suas coincidências. Mesmo colorido e bem-humorado, Hair tem sempre por perto a sombra do Vietnã e seus soldados que não sabiam muito bem o que faziam naquele ambiente lamacento.
Os anos 60, sempre lembrados como uma década animada, foi na verdade um tempo de conflito. Revoluções aos montes, mas a realidade nada tinha de romântica ou poética como parte da mídia conta. Eram tempos negros que despertaram uma geração para tomar as ruas e expor suas ideias. Mas será que todo mundo que estava lá sabia o que fazia ou pelo que lutava? Aí está uma pergunta difícil de responder.
Hair pede um espírito livre para ser assistido com gosto. E mesmo que a guerra impere e leve de casa jovens que só queriam saber de ser felizes, o que sempre vai ficar na memória são as canções.
Hair
Direção: Milos Forman
Ano: 1979
Disponível em DVD
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