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Por quê? – por Daiani Ferrari

Preconceito é um assunto sobre o qual não deveríamos falar. Preconceito é um dos atos humanos tão sem sentido, tão sem razão de ser, que não deveria existir, mas quanto mais o tempo passa, o grau de esclarecimento e acesso a cultura e informação das pessoas aumenta, mais tomamos conhecimento de fatos que nos chocam de tal maneira que nos fazem pensar em nossos atos até agora a e o que podemos fazer a partir desse ponto.

Esta semana, um menino negro de sete anos foi vítima de preconceito quando estava com os pais em uma concessionária de carros. O vendedor teria mandado o menino se retirar, alegando que o local não era adequado para ele, sem saber de que se tratava de um filho adotivo do casal, branco e de classe alta. Muitos justificam o ato com o fato de que a maioria das crianças e jovens pedintes e que vendem bugigangas são negros, assim como a vítima, logo o vendedor teria apenas tido uma reação normal, baseada no cotidiano do país. Um mal entendido, segundo ele.

Meses atrás, um mendigo loiro e de olhos azuis foi encontrado nas ruas de Curitiba, o que virou uma comoção nacional, dadas as características físicas do moço, além do fato de constar em seu currículo a profissão de modelo. Cada vez que alguém dizia “pobrezinho dele, merece sair da rua”, ficava implícito que só ele merecia, que os outros, brancos, negros, pobres, sem família, gente que também perdeu tudo, não eram dignos da oportunidade que ele estava ganhando. Mesmo sem saber (sem saber mesmo?) e sem querer, expressávamos ali uma ponta de preconceito e a ideia de que drogado tem que ser preto e pobre.

***

Às vezes, o preconceito vem de onde menos esperamos, de pessoas que você acredita serem evoluídas o suficiente para aceitar, acreditar e propagar uma ideia. Dia desses, enquanto falávamos sobre filhos, gravidez e adoção, uma amiga disse que nem é bom adotar, afinal de contas não se sabe de onde a criança vem e personalidade pode ser algo determinante para que problemas aconteçam, transformando a adoção na pior escolha da vida de uma pessoa. Isso não me desanimou. É quando escuto coisas do tipo que tenho mais certeza de que eu realmente quero adotar uma criança. Esse é o meu desejo de ser mãe.

Por que eu juntei dois assuntos? Um: Existem dados de que mais pessoas estão entrando na fila de adoção sem a condição de que a criança precisa ser loira, de olhos azuis e ter menos de um ano de idade. As exigências estão diminuindo, o que nos prova que as diferenças físicas entre pais e filhos do coração estão ficando menos importantes. Barreiras estão sendo quebradas.

Dois: Vi uma foto no facebook com a inscrição “Adoção”, na qual estava uma mãe negra com um filho branco no colo, cuja sombra projetada pela luz dava a impressão de uma mulher grávida, ou seja, não há diferença alguma entre as mães de barriga e as de coração ou não deveria existir. Vou reproduzir uma pergunta que acompanhava a foto:

–   Por que tem pessoas que ainda não entendem que esse gesto é lindo?

Quando o assunto é preconceito, eu só me pergunto, por quê?

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3 Comentários

  1. São 3 assuntos distintos em um texto.
    Preconceito racial, Fragilidade social e Adoção.
    Creio que gera inconsistência e não esclarecimento.

  2. Daiane, teu texto me levou a pensar em outra coisa que costuma ocorrer em muitos casos de adoção. Por vezes, as crianças são devolvidas como se fossem objeto. Os pais adotivos não querem mais “brincar” com uma pessoa que tem uma história (e todas as crianças para adoção a têm)de maus tratos e abandonos, porque não estão preparados para as sequelas. E aí, as crianças são vitimizadas mais uma vez. Na realidade não estão preparados para o “outro”. Esta também é uma questão que precisa ser revisitada com mais afinco.

  3. Mais um baita texto, reflexivo e que nos provoca, faz questionar nossas atitudes e (pre)conceitos. Também vi, no Facebook, a imagem da mãe com a criança ao colo e a sombra que a projetava como uma gestante. Bela imagem, numa sociedade em que ainda (pasmem!), há pessoas que adotam crianças e escondem a adoção. Como se adotar, um gesto nobre, fosse motivo de vergonha, imperfeição. Coisas…

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