Os absurdos da semana – por Daiani Ferrari

É meia noite e eu não consigo dormir. Nem pensar. O legal seria escrever um texto bonito, cheio de metáforas que remetessem ao centésimo. Meio mulherzinha, talvez. Um texto abordando etapas conquistadas, entre elas o número cem. Mas não. Nada disso passa pela minha cabeça. Eu só consigo materializar na mente a palavra absurdo, que, acredito, seja a definição certa para essa semana.

Morreu Hugo Chávez e havia quem comemorasse o fato. Apresentadores de televisão quase sorriam ao noticiar a morte do presidente. A Globo não foi capaz de oferecer silêncio aos créditos finais no Jornal do Bonner. Chorão foi encontrado morto e as pessoas diziam que tinha ido tarde por não passar de um viciado. Pipocavam em diversos meios de comunicação versões sobre a morte, sempre envolvendo o pó branco encontrado no apartamento.

Você acha isso absurdo, mas aí abre o jornal e vê um playboy reclamando que um bombeiro negou uma máscara de oxigênio para que ele pudesse entrar na boate e ajudar a retirar outras pessoas (o que, na verdade, nem sei se confere, bem como o fato dos Bombeiros no RS possuírem máscaras de oxigênio). Também vê o depoimento de várias pessoas (desculpem a expressão) tirando o seu da reta. Um secretário municipal que não conhece a lei e um prefeito que está, desde o dia 27 de janeiro, merecendo ouvir a música “não sei se vou ou se fico, não sei se fico ou se vou…”. E para completar o quadro, outro dos suspeitos culpa os bombeiros pela demora na saída dos jovens de dentro da boate. Ele alega que a água das mangueiras teria dificultado o deslocamento.

Como, nos dias de hoje, pessoas comemoram a morte de outras? É esse tipo de evolução de que tanto nos orgulhamos? Em que mundo uma pessoa sem preparação acredita ser mais útil que um profissional treinado para situações como o incêndio da Kiss? Por acaso, alguém consegue aguentar o jogo de empurra que estamos vendo durante as investigações?

Gente, é um absurdo termos um prefeito completamente perdido, secretários sem a menor noção do quanto os familiares precisam de seriedade nesse momento para que sejam apurados os fatos o mais rápido possível. E não vou nem falar dos vereadores. E, da forma como estão vindo à tona informações sobre o funcionamento da Kiss, só posso acreditar que o proprietário queria uma máscara para ir até o caixa buscar o dinheiro antes que queimasse. Desculpem, mas ele não me deixa opção para pensar  algo diferente disso.

Eu só queria pedir uma coisa: deixem de ser moleques. Se não respeitam a vida das pessoas, que pelo menos respeitem sua morte. E, por favor, aos que estão contribuindo com as investigações sobre o incêndio na Kiss, ninguém é palhaço para vocês ficarem enrolando com conversinha mole e joguinho do não sei e não fui eu. Na minha terra, até mulher aprende a ser homem e assumir as consequências dos seus atos.

E esse é o texto número 100.