Livros e tênis – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Os livros e os tênis são objetos que nos cercam na vida cotidiana. O livro e o tênis possuem massa, forma e ocupam lugares em nossas casas. Uma linda bolsa, coloridas blusinhas, calça jeans surradinha e tênis de grife são para a maioria das pessoas, muitas vezes, objetos materiais bem mais importantes que os livros e, queiramos ou não, possuem lugares privilegiados em nossas vidas.
Os livros e os tênis são objetos que pertencem ao mundo das coisas materiais, mas em nossa sociedade produzem múltiplas e, por vezes, divergentes idéias. Os livros e os tênis estão ligados, de forma diferente, às plurais fantasias que construímos, subjetivamente, no perene fluir de nossa existência. Existe um infinito número de pessoas que são capazes de fantasiar e estarem “numa muito boa” quando desfilam pelo “Calçadão da Bozzano” com tênis caríssimo e de grife. E contrapartida, um bom livro é uma imensa nau que é capaz de nos fazer viajar, aportar e viver, colaborativamente, no salutar e magnífico mundo da imaginação. A questão central é: o que elencamos como prioritário para sermos felizes e termos dignidade em nossas vidas?
O poeta e escritor Armindo Trevisan, em 2011, na Feira do Livro de Santa Maria, quando questionado sobre os preços dos livros foi categórico ao afirmar: os pais preferem cuidar mais dos pés de seus filhos do que de suas cabeças. E teceu seu argumento dizendo que, comparando com o valor que os pais pagam por um tênis de grife, um livro se torna uma mercadoria muito barata.
Na esteira do argumento de Armindo Trevisan, podemos dizer que os pais não se incomodam em pagar centenas de reais por um lindinho tênis de marca para seus queridos rebentos, mas acham “o olho da cara” algumas dezenas de reais o custo de um recomendado e bom livro.
Os bons livros nos remetem, necessariamente, para uma vivência cotidiana orientada por reflexões, inclusive, sobre a ditadura do consumo. Bons livros nos educam e, ao mesmo tempo, são capazes de nos fazer enxergar o tipo de estética que vivificamos em nosso mundo social cotidiano.
A maioria da linda meninada que circula pelo “Calçadão da Bozzano” e pelos Shoppings Center de nossa cidade é capaz de reconhecer que marca e o valor que possui o tênis que um determinado transeunte esta usando, mas pode achar “sequelado” um vivente que passar com um monte de livro debaixo do braço.
A garotada sabe dizer para que atividade é mais adequado cada tipo e marca de tênis, mas não sabem quem foi e o que escreveram grandes expoentes da literatura tais como Clarice Lispector e Fiódor Dostoiévski. O tênis dá conforto aos nossos corpos, mas um bom livro alimenta nossas almas e dá longevidade ao bom funcionamento de nosso cérebro. Cuidemos dos pezinhos de nossos filhos, mas compremos livros para elevarmos suas almas e, sejamos capazes de melhor cuidar de suas cabecinhas.
Ótimo texto.Temos que alimentar mais nossas almas