
Por Giulia Maffi (Com fotos de Arquivo das universidades) / Da Agência de Notícias da UFSM
Os jardins botânicos desempenham papel fundamental na conservação do patrimônio genético vegetal, além de serem espaços para pesquisas em ecologia, fisiologia e usos sustentáveis da flora. Com coleções vivas e catalogadas, contribuem para a preservação da biodiversidade e para o fortalecimento da relação entre o ser humano e o meio ambiente.
Na UFSM, o Jardim Botânico (JBSM) cumpre essa missão desde 1981. Com 13 hectares e cerca de 2.500 indivíduos catalogados, pertencentes a 349 espécies, é uma das principais áreas de preservação da flora e fauna do município. Além da conservação, promove visitas escolares, oficinas, exposições e trilhas educativas que aproximam a universidade, o meio ambiente e a comunidade.
Um espaço semelhante é o Arboretum da Universidad Nacional del Nordeste (UNNE), em Corrientes, Argentina. Coordenado pela professora Angela Maria Burgos, o Arboretum foi tema central do evento “Painel Brasil-Argentina: Jardins Botânicos como Estratégias para a Conservação da Flora”, realizado em junho pela UFSM, por meio do Jardim Botânico e do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE). A atividade promoveu a troca de experiências sobre ações socioambientais desenvolvidas em jardins botânicos universitários nos dois países.
Papel dos jardins botânicos
Espaços como o JBSM e o Arboretum são essenciais para preservar ecossistemas nativos diante da crescente perda de habitat natural. Segundo Angela Burgos, a expansão das fronteiras agrícolas para atender à demanda por alimentos, fibras e madeira fragmenta biomas, resultando em redução da biodiversidade.
“Muitas vezes, para as plantas nativas, a única forma de sobrevivência é um jardim botânico ou arboreto que conserve um ou alguns exemplares do patrimônio genético, porque não conhecemos toda a variabilidade. Pode ser a mesma espécie, mas com diferentes genótipos e quimiotipos”, explica Angela.
Além da conservação ex situ, ou seja, fora do habitat natural, esses espaços funcionam como bancos genéticos vivos, auxiliando na restauração de áreas degradadas. Muitas vezes, as plantas mantidas tornam-se as únicas representantes de sua espécie fora do ambiente original.
Os jardins botânicos também têm papel educativo fundamental. As plantas são identificadas com placas que indicam nome popular, gênero, espécie e família. São promovidas ações socioeducativas para escolas, universidades e público geral, com o objetivo de sensibilizar para a importância da vegetação nativa.
No Brasil, segundo levantamento de 2024 do Instituto Federal de Minas Gerais, há 50 jardins botânicos em funcionamento, sendo 12 vinculados a universidades públicas, entre elas a UFSM. No Rio Grande do Sul, além da UFSM, existem jardins botânicos em Porto Alegre, Caxias do Sul e Lajeado.
Pesquisa, inovação, educação ambiental e impacto social dos jardins botânicos
Além da conservação das espécies, os jardins botânicos funcionam como laboratórios vivos para pesquisa científica, oferecendo condições para estudos em taxonomia, fisiologia, ecologia e genética vegetal. Eles possibilitam o desenvolvimento de soluções para desafios ambientais, como resistência a pragas e adaptação às mudanças climáticas.
Muitas das plantas mantidas nesses espaços são fonte de pesquisa para novas tecnologias, medicamentos, cosméticos e alimentos, promovendo inovação e sustentabilidade. Cientistas aprofundam o conhecimento sobre propriedades medicinais, bioindicadores ambientais e processos naturais essenciais à vida.
Um dos papéis mais relevantes dos jardins botânicos é a educação ambiental, atuando como espaços privilegiados para a alfabetização científica. Eles ajudam a população a reconhecer e valorizar a flora local e global. No Jardim Botânico da UFSM, o programa “Que Mato É Esse?” combate a chamada impercepção botânica — a dificuldade comum em identificar e compreender as plantas do cotidiano — por meio de oficinas, trilhas, exposições e atividades lúdicas. Assim, promovem a formação de consciência ecológica, sensibilizando crianças, jovens e adultos para a importância da conservação e das práticas sustentáveis.
Além disso, os jardins botânicos são importantes indicadores dos efeitos das mudanças climáticas. Pesquisadores monitoram floração, frutificação e outras fases da vida das plantas, observando alterações que podem sinalizar impactos do aquecimento global. Eles também auxiliam na testagem de espécies mais resistentes para projetos de restauração ecológica e recuperação de áreas degradadas.
Em ambientes urbanos, contribuem para mitigar ilhas de calor, melhorar a qualidade do ar e o conforto térmico, como ocorre no Telhado Verde da UFSM.
Mais do que espaços científicos, os jardins botânicos são locais de convivência e lazer que aproximam a sociedade da natureza. Promovem turismo sustentável, atividades culturais, artesanato e valorização dos saberes tradicionais, especialmente em parceria com comunidades indígenas, quilombolas e rurais. Projetos de hortas comunitárias, oficinas e eventos fortalecem o vínculo entre ciência, cultura e território, tornando o jardim um ambiente inclusivo e plural.
Arboretum da UNNE
O Arboretum da UNNE ocupa 2,5 hectares no campus da Faculdade de Ciências Agrárias e preserva espécies nativas das regiões fitogeográficas da província de Corrientes.
A equipe técnica é formada por engenheiros agrônomos, biólogos, docentes e estudantes que desenvolvem ações de extensão, trilhas interpretativas e palestras. “Essa interação ajuda os alunos a desenvolver habilidades de comunicação com o meio ambiente e a comunidade”, destaca Angela Burgos.
Entre as atividades educativas estão visitas escolares, nas quais as crianças aprendem a colher frutos, armazenar sementes e plantar mudas. Os “hotéis de insetos”, construídos com materiais naturais, são usados para ensinar sobre a diversidade de polinizadores.
“Costuma-se associar polinização apenas às abelhas, mas há muitos outros insetos importantes nesse processo. Os hotéis despertam essa percepção em crianças e jovens”, explica Angela.
Outro tema abordado é o papel das aves na dispersão de sementes e manutenção das florestas.
O Arboretum existe há cerca de dez anos, mas está aberto à visitação há cinco. Em 2023, recebeu cerca de 300 visitantes. A falta de asfaltamento no acesso é um entrave para ampliar o público. Durante sua visita à UFSM, Angela compartilhou experiências com a equipe do Jardim Botânico, especialmente sobre divulgação e aproximação comunitária.
Ciência e cultura ambiental
Fundado em 1981, o Jardim Botânico da UFSM é referência regional em preservação ambiental e educação científica. Desde sua criação, promove ações para a comunidade acadêmica e o público externo, conciliando conservação, sensibilização e produção de conhecimento.
Uma iniciativa atual é a catalogação georreferenciada das espécies vegetais, feita em parceria com o Colégio Politécnico. Já foram registradas 2 mil árvores da espécie Albizia niopoides; a previsão é alcançar 2,5 mil indivíduos até julho de 2025.
Esse banco de dados será integrado ao Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), permitindo cruzamento com registros nacionais e subsidiando pesquisas e políticas ambientais.
Entre as ações permanentes do Jardim Botânico estão: visitas escolares, trilha das plantas nativas, programa “Que Mato é Esse?”, jardins sensoriais, exposição de animais taxidermizados, Telhado Verde, coleção de plantas carnívoras, oficinas de PANCs e artesanato, horta em mandala, Trilha Encantada da Chapeuzinho Verde e projeto de plantas ameaçadas.
A Trilha da Chapeuzinho Verde, por exemplo, é destinada a crianças pequenas, com linguagem lúdica e explicações adaptadas. Já as oficinas de PANCs incluem caminhadas para identificação e degustação de pratos preparados com essas plantas.
Em 2024, o Jardim recebeu 8.367 visitantes — 3.139 em visitas escolares e 2.040 aos domingos. O evento Viva o Campus atraiu 1.461 pessoas. Segundo a gestora Simone Messina, o asfaltamento da via de acesso e o cadastro do espaço no Google como ponto turístico foram decisivos para aumentar o público.
“Hoje temos cerca de 10 mil visitantes por ano. Nossa meta é expandir o turismo científico e ecológico, atraindo públicos de outros municípios e estados. A demanda existe”, afirma.
Telhado Verde
Inaugurado em 2020, o Telhado Verde da UFSM é uma atração exclusiva do Jardim Botânico. Inspirado no sistema extensivo, reúne plantas com raízes superficiais — como gramíneas, suculentas, bromélias e cactos — sobre uma cobertura vegetal que integra paisagismo, educação e sustentabilidade.
“Mais do que um jardim suspenso, ele é um exemplo vivo de como integrar a natureza aos espaços construídos, melhorar a qualidade do ar e estimular soluções ecológicas. É um convite a repensar a relação entre arquitetura e meio ambiente”, destaca Simone Messina.
Agendamentos
Jardim Botânico da UFSM
Horário de atendimento: segunda à sexta-feira, 8h às 17h. Eventualmente aos domingos
Agendamento para escolas pelo link.
Público em geral: acesso livre conforme horário de expediente, não precisa de agendamento.
Instagram: @jardimbotanicodaufsm
Telefone: (55) 99193-8183
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