Claudemir PereiraPolíticaPrefeituraSanta MariaTragédia

CPI DA KISS. Começou errado, continuou mal e vai terminar pior ainda. Crônica de uma morte anunciada

Nesse momento preciso, a Câmara está ocupada por manifestantes (foto Gabriela Peruffo)
Nesse momento preciso, Câmara está ocupada por manifestantes (foto Gabriela Peruffo)

kiss seloNeste preciso instante, grupo estimado em 150 integrantes está ocupando o plenário da Câmara de Vereadores. Cogita-se, mas ninguém confirma, que um pedido de reintegração de posse estaria sendo impetrado pelo Legislativo. Os manifestantes, de todo modo, se recusam a sair até que suas reivindicações sejam atendidas.

Bueno, mas o que eles querem? A renúncia dos integrantes da CPI da Kiss e também a saída do procurador jurídico da Câmara. Imagina-se que pleiteiam, igualmente, a anulação da Comissão Parlamentar de Inquérito, cujo prazo para encerramento é o final desta semana.

Mas, por que se chegou a esse ponto? E qual o estopim para o que está acontecendo, justamente no dia em que a CPI anunciava a presença, ainda que com um grande APARATO de segurança, do prefeito Cezar Schirmer, na manhã desta quarta? E mais, justamente no momento em que, na finaleira dos trabalhos, a CPI estava convidando os réus principais da tragédia, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffmann (que não iriam, de todo modo)?

Repita-se: por que se manifesta uma indignação tão grande e qual foi estopim que levou ao que está agora mesmo na sede do parlamento, na rua Vale Machado?

Por partes.

1) A CPI começou mal.

Tradicional (e até constitucionalmente) um instrumento das minorias, era articulada pela oposição na Câmara. No entanto, numa manobra politica por demais evidente, a base do governo municipal, certamente temerosa dos efeitos que poderiam advir da ação oposicionista, se antecipou e protocolou seu próprio requerimento. De pronto, a oposição retirou-se e, enfim, o governo, no parlamento, passou a controlar as investigações. E frustrou qualquer inquirição, contrariando o que diz o nome do órgão.

2) A CPI continuou mal

No curso dos trabalhos, a que tiveram acesso a oposição (isso ninguém poderia impedir, regimentalmente) e também a Associação dos Familiares das Vítimas (convidada pela própria Comissão), praticamente todas as solicitações oposicionistas, exceto a oitiva de fiscais municipais e secretários, foram sumariamente rejeitadas.

Especial destaque, aqui, para os pedidos de que fossem depor os réus principais do processo, os empresários Kiko e Mauro Hoffmann. O primeiro, inclusive, por seus defensores, deixou claro o interesse em falar. A comissão se recusou. Como também sequer cogitou convidar os delegados que coordenaram o inquérito, Marcelo Arigony e Sandro Meinerz.

Diante da pressão, ou sabe-se lá por que razão, uma reunião houve, aparentemente no gabinete do vereador Tavores Fernandes, que entrava mudo e saia calado de todas as reuniões da CPI da qual fazem parte Maria de Lourdes Castro e Sandra Rebelato.

Nesse encontro, um assessor do parlamentar do DEM gravou toda a conversa. Sobrou pra todo mundo, inclusive esse editor, que chegou a ser chamado de “podre” por uma integrante da Comissão. Mas isso é o de menos: no encontro, de 42 minutos, deixava-se claro que a CPI não poderia dar em nada e que, de jeito nenhum, os réus deveriam ser convocados. E aí se chega ao agora.

3) CPI vai terminar mal

À tarde, polícia entregou fita que seria o estopim para o que está acontecendo (foto Luiz Roese)
À tarde, polícia entregou fita que seria o estopim para o que está acontecendo (foto Luiz Roese)

Não se sabe o que acontecerá a partir deste momento. Mas ninguém duvida que o estopim foi mesmo a gravação (que este editor chamou de “assombrada”). Enviada à polícia e com cópias entregues justamente nesta terça-feira ao parlamento e ao Ministério Público, a própria Câmara se encarregou de torná-la PÚBLICA.

E deu-se o bafafá. Afinal, uma manifestação de protesto, liderada pelo DCE da UFSM, com a participação decisiva da Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia e do Movimento de Luto à Luta (que também congrega familiares das vítimas), praticamente tomou conta da Câmara de Vereadores.

E agora? Só uma certeza há. Aliás, duas. A primeira é que não haverá qualquer depoimento nesta quarta-feira, inclusive por decisão da própria direção da Câmara. Outra é que a CPI ficou simplesmente insustentável politicamente. E anuncia-se, para algumas horas uma entrevista coletiva dos integrantes da Comissão. O que eles dirão? Não se sabe.

E daí? Daí que se está fazendo história. O que começou errado, seguiu mail, vai terminar pior ainda. Ou, como diria o prêmio Nobel Garcia Marquez, a crônica de uma morte anunciada. Simples assim.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

5 Comentários

  1. A Crônica de 242 Mortes Anunciadas e tantos outros feridos física e emocionalmente para o resto de suas vidas, por ganância e omissão. Lamentável.

  2. Os parlamentares esquecem que em tempo de acesso fácil à tecnologia praticamente não existe como esconder “a sujeira embaixo do tapete”. Ninguém aguenta mais CPIs de fachada, que servem apenas para fingir interesse em esclarecer fatos, quando na verdade servem para “maquiá-los” segundo os interesses políticos escusos.

  3. Caro Claudemir, não estou aqui para julgar,mas para ler´cenários, que é minha obrigação. Estou apavorado e um tanto triste.Desde que comecei a fazer cobertura política, há mais de 20 anos, a teu convite, inclusive, nunca vi uma situação tão tensa e confusa no Parlamento Municipal.E olha,que cobri todo o período, bastante tenso do segundo governo do Osvaldo Nascimento, com uma CPI atrás da outra,assim como acompanhei longas e tensas sessões envolvendo votações como o horário de funcionamento do comércio ainda nos anos 1990.No entanto, nunca presenciei uma invasão do Legislativo. Já vivi na carne episódios de ameaças em épocas passadas e sei que isso faz parte da rotina jornalística.Por isso,sem julgar a Câmara ou a própria CPI, repudio agressões a profissionais,tais como o “podre”, uma referência a tua pessoa.Espero que nosso Parlamento reflita sobre todas essas questões para o bem da cidade e dê a volta por cima.Porque,infelizmente,as pessoas com quem convero estão cada vez com mais raiva e ódio das instituições democráticas.E,só paralembrar: O Parlamento é essencial à democracia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo