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Hoje tem esperança? Tem sim, senhor! – por Bianca Zasso

Muito da minha paixão pelo circo veio da convivência com meu pai. Os olhos deles sempre brilhavam mais que os meus diante de equilibristas, mágicos e malabaristas. Mas bastaram algumas apresentações para que nosso carinho pelo picadeiro ficasse empatado.  Depois de deixar a casa dos pais na “cidadezinha do interior” para ir estudar “na cidade grande” meu contato com o circo ficou restrito ao cinema, com um que outro filme sobre o tema. Mas nenhum tocou o meu coração tão fundo como O Palhaço.

Segunda experiência na direção do ator Selton Mello, após o ótimo Feliz Natal, O Palhaço tem uma doçura que há muito tempo não dava as caras no cinema nacional. A história é um clichê sobre um palhaço que não acha graça na vida. Ele faz todo mundo rir, mas quem vai fazê-lo gargalhar? O palhaço em questão é Benjamim, dono de uma inocência em falta no mundo atual, onde a lona remendada e as arquibancadas nada confortáveis parecem coisa de um passado distante.

Benjamim comanda ao lado do pai o Circo Esperança que, como toda trupe de artistas, vive como uma grande família. Mas a alegria, pelo menos para o jovem palhaço, só existe diante da platéia. Na coxia, as dúvidas o perseguem e ele já não tem mais certeza que o seu destino é ostentar um nariz vermelho e um par de sapatos gigante. O calor escaldante só aumenta a agonia. Benjamim, além de respostas, precisa de um ventilador.

E é este eletrodoméstico tão indispensável nos dias de verão que move o filme. O protagonista é perseguido pela imagem de ventiladores de todos os modelos e tamanhos. Hastes que movem o ar, que mudam os rumos. É justamente isto que Benjamim precisa, mudar de ares. E é isso que ele faz. Enquanto nosso palhaço experimenta um mundo de profissões comuns, o Circo Esperança segue seu caminho pelo interior do país e uma nova estrela começa a brilhar. Uma estrelinha, na verdade. A pequena Guilhermina, filha do mágico, sonha com o centro do picadeiro, acredita na magia dos artistas e no poder de trazer alegria que o circo tem.

Um personagem aparentemente simples, mas que rouba o olhar dos espectadores na interpretação reveladora da estreante Larissa Manoela.  O clima interiorano e meio bizarro, mostrado com muita inteligência na cena do jantar oferecido pelo prefeito da cidade aos artistas, é um charme a mais. O Palhaço não é nada pretensioso, um filme delicado, uma boa história contada de maneira precisa sem esquecer daquela boa dose de talento, que o diretor Selton Mello já havia mostrado em seu primeiro longa, Feliz Natal.

O Palhaço tem um ar felliniano, apesar da fotografia ter um tempero que lembra os filmes do diretor Wes Anderson, é pura fantasia, mas com um pé na vida nossa de cada dia, com suas pendengas e dúvidas. Selton Mello criou um Benjamim que pode viver em qualquer circo, um jovem que questiona as escolhas que a vida lhe impôs. Ou será que a escolha foi dele e a crise de identidade é apenas momentânea? As respostas estão no filme. Trazidas pelas diferentes e reveladoras velocidades do ventilador.

O palhaço

Ano: 2011

Direção: Selton Mello

Disponível em DVD a partir do dia 17 de março

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