Santa Maria, um belo exemplo de ciberativismo – por Luciana Manica
A comparação da criação da máquina a vapor e seu consequente impulso industrial fica devendo em relação ao uso da Internet pela sociedade e seus diversos efeitos fáticos, jurídicos e sociais, a partir da década de 90.
Pode-se assim dizer que o mundo pós-rede mundial de computadores (WWW – World Wide Web), criou situações jamais ocorridas pelo advento da “Sociedade da Informação”. Requereu regulamentação a crimes cibernéticos e e-commerce, além de exigir maior atenção aos direitos autorais pela facilidade de plágio. Possibilitou alterar diversas profissões criando o jornalismo participativo, inovou na própria advocacia por meio do peticionamento eletrônico e audiências por audioconferências, permitiu o ensino à distância, entre uma série de consequências.
Na seara social, deu voz a todas as pessoas que tivessem acesso à Internet, concedendo a possibilidade de agir em favor de uma causa social, denominando este ato de infoativismo, ciberativismo ou ativismo digital.
Esse novo fenômeno de comunicação via Internet deu azo às organizações não governamentais e entidades civis para utilizar a rede mundial de computadores a fim de reivindicar e desenvolver meios de mobilização pelos direitos da cidadania. Tal acontecimento foi consagrado no Fórum Mundial Social, ocorrido em 2001, em Porto Alegre!
Essa ferramenta veio em ótima hora, pois enquanto a globalização acarreta, por vezes, desigualdades das mais diversas formas, a Internet vem dinamizar as lutas das entidades civis em favor da justiça social. Sua atuação pode se dar em inúmeros campos: na área da saúde, educação, meio ambiente, ecologia, minorias e etnias, direitos humanos e trabalhistas, cidadania, defesa do consumidor, cooperativismo, etc., bem como de forma local, regional, nacional ou internacional.
Por certo, os ativistas, apesar de considerarem as redes sociais como uma ferramenta fundamental para articulação dos movimentos, rechaçam a ideia de que elas são ator principal dentro das revoluções. Eles ensinam como dar eficácia ao pleito, ou seja, como as pessoas podem atuar como “cidadãos globais” e ajudar movimentos sociais em outros continentes e, além disso, como elas mesmas podem protestar contra o que consideram injusto. Numa palestra sobre o tema, uma ativista espanhola com ascendência síria, em prol da liberdade de expressão, citou que o celular e o YouTube são meios muito poderosos para que os cidadãos quebrem o muro do silêncio na Síria. Complementou que a doação de celulares para esses cidadãos e a pressão via mensagens no Twitter a governantes que possuem perfis em microblog seriam de grande relevância.
Outro ciberativista ensina que ações simples como o uso de histórias e experiências reais de pessoas atingidas por um problema são mais profícuas que mostrar fatos isolados. Ou ainda, surte bom efeito a criação de páginas com links permitindo o envio de reclamações diretamente aos representantes de governos e corporações. E não menos importante é o foco, o qual deve estar no sentimento das pessoas, e não no impacto que o movimento causará.
Santa Maria, nesse contexto, é exemplo desse fenômeno. A tragédia ocorrida na Boate Kiss trouxe reflexos internacionais. Mais precisamente os santa-marienses e os aqui domiciliados prontificaram-se das mais variadas formas, recolhendo alimentos e água aos familiares, informando via Internet locais de coleta, permitindo que pessoas distantes da cidade pudessem colaborar enviando suprimentos ou depositando valores. Constantemente informações úteis eram prestadas por civis no intuito de auxiliar, divulgando local para liberação dos corpos, atendimento hospitalar, psicológico, estadia a familiares etc. Diversos movimentos como missas, caminhadas, debates sobre criação de monumentos, apresentações musicais, requisição de profissionais de diversas áreas surgiram via Internet e mobilizaram milhares de pessoas visando um afago, união, conforto, ajuda, justiça, enfim, força para superar ou saber conviver com o caos instaurado.
A implementação do Núcleo Experimental de Webcidadania (NEW) pela Fadisma – Faculdade de Direito de Santa Maria – é outro exemplo de ciberativismo em nossa cidade. Um dos seus objetos é composto pela plataforma local georreferenciada, com criação autônoma, mas adotada recentemente pela faculdade, permitirá aos cidadãos apontar sugestões, problemas em diversos temas (trânsito, meio ambiente, cidadania, consumidor, patrimônio público, etc.) para situações ocorridas em Santa Maria. Haverá a determinação exata do local e o devido vínculo legal direcionado ao caso concreto, no intuito de instruir a todos, colocando ainda em sintonia os acontecimentos com o Poder Público, que poderá se valer das informações prestadas para melhor agir e/ou informar seus cidadãos.
Por óbvio, considerando que a Internet concede voz a todos, há que saber utilizá-la, do contrário qualquer pessoa pode ser fonte de injustiça, atingindo indevidamente o mundo. Visando atitudes para o bem e não violentas, nas palavras de Olmo Gálvez, do movimento do 15-M e Acampada de Sol, que reuniu milhares de jovens espanhóis em acampamentos espalhados em 60 cidades do país, sugiro: “faça o que julga legítimo e compartilhe seu conhecimento” e, complemento, FALE COM O CORAÇÃO para atingir seu objetivo!
Concordo Jack Baranhas! Temos mais que agir, que simplesmente CURTIR! A caminhada da paz foi um exemplo de atitude! Que sigamos nessa linha! “Ação falando com o coração”, leia-se, para o bem! Abraços!
Não vamos confundir o Ativismo na Internet com o Ativismo no mundo real. É muito fácil ficar atrás de uma cadeira reclamando, criando eventos no facebook, compartilhando fotinhos que reclamam de nossos governos (olá vereadores da cpi).
Podemos classificar os motivos como nobres, mas a falta de engajamento social na vida real (dos ciberativistas) chega a ser comovente. Lembro da passeata organizada pelo fb contra o nobre prefeito. 2 mil pessoas tinham confirmado, 200 apareceram.
Enquanto isso, temos situações onde o ativismo na internet é tomado de assalto pelos ativistas da vida real. No dia 28, a caminhada pela paz tinha cerca de 5 mil confirmações pelo fb e tivemos em estimativas não oficiais quase 15 mil pessoas na caminhada.
Muitas vezes o ciberativismo acaba se tornando um cliqueativismo. É muito fácil clicar e curtir ou compartilhar. Mas onde está o debate real se não há engajamento?