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Caso de S. André. Quando, de novo, a mídia grandona confundiu seu papel em nome da audiência

Só agora, passados alguns meses, há gente com vergonha da cobertura pra lá de sensacionalista do caso da menina que teria sido atirada pela janela, no famoso “Caso Nardoni”. Só que, agora, o estrago está feito. E, pior, se repetindo cotidianamente. Sempre tendo a mídia grandona (e a que se acha) como protagonista, jamais como expectadora suficientemente distante para expor o que acontecia e se acontecia. Não, isso não. Se dá audiência participar, por que não fazê-lo.

 

Minhas posições a respeito do comportamento da mídia grandona, e não apenas nesses casos ditos “populares”, mas em relação à sua atuação como um todo, são por demais conhecidas. Então, para que você não se fixe nela, trago outra, de alguém muito mais experiente, com passagens em inúmeras redações e hoje titular da seção “Circo da Notícia”, publicada no sítio especializado Observatório da Imprensa.

 

Me refiro a Carlos Brickmann, hoje consultor e que escreve magnificamente sobre a mídia e o episódio de Santo André, que mobilizou meio mundo e resultou na morte de uma garota de 15 anos, por absoluta ineficiência policial e com a colaboração direta de “colegas”. Aliás, a começar pelo título, o texto é brilhante. Confira e tenha sua própria opinião. A seguir:

“O fantástico show da morte

Do lado de dentro do apartamento simples em Santo André, SP, a tragédia: duas meninas ameaçadas por um homem armado, que terminaria por matar uma e ferir a outra. Do lado de fora, a festa da imprensa: repórteres, câmeras, celulares, entrevistas ao vivo com o seqüestrador, que a cada instante se sentia mais poderoso, uma celebridade. E transmissões diretas, que permitiriam que o criminoso acompanhasse, minuto a minuto, as manobras da polícia.

A liberdade de imprensa não pode ser limitada: a Constituição não o permite, e represar informações vai contra o interesse do país. Mas liberdade de expressão não significa, por exemplo, que alguém deva gritar “fogo!” num estádio lotado. E liberdade implica responsabilidade. Quanto mais liberdade, mais responsabilidade. Teremos sido nós, jornalistas, ao elevar a auto-estima do criminoso, ao revelar-lhe a cada momento os planos da polícia, co-responsáveis pelo tiro em Nayara e pela morte de Eloá?

Há quase 60 anos, um filme clássico de Billy Wilder sobre a imprensa, A Montanha dos Sete Abutres, com Kirk Douglas, já narrava como pode ser nocivo o envolvimento dos jornalistas com os acontecimentos. Jornalistas devem reportar, não interferir. E colocando no ar, ao vivo, um maluco homicida armado, a imprensa interferiu nos fatos: transformou-o em famoso, inflou seu ego assassino, ajudou-o a se sentir acima do bem e do mal.

Não há ganho de audiência, nem de circulação, que valha a vida de Eloá…”

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui para ler a íntegra da seção “Circo da Notícia”, assinada por Carlos Brickmann, no sítio especializado Observatório da Imprensa.

 

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