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No concreto – por Luiz Alberto Cassol

Sim! Parei. Alguns segundos e está tudo comigo. Atravesso a avenida com passos rápidos para mais uma reunião. Todos os arquivos necessários estão virtualmente na mochila. Vi a cena que dá início a essa crônica. Conto. Sem arquivos.

Uma mulher, longos cabelos presos por uma tiara, agachada frente a um muro de concreto. De longe não se movia. Estátua. Quando aproximo vejo as grades verticais. Uma cerca de concreto. Prossigo fechando meu olhar de decupagem. Pronto! Cheguei.

Olhar reto. Sem dúvidas. Mulher e homem separados por aquele desgraçado concreto. Silêncio. Não resisti e olhei mais uma vez. Continuavam ali, inertes. Silêncio absoluto. Ela de camiseta branca e jeans. Ele com o uniforme de uma empresa e um capacete azul. Calados.  Ao fundo uma obra com cerca de cinquenta pessoas que trabalham com o mesmo uniforme do rapaz. Os que estão próximos prosseguem vagarosamente suas funções. Sua atenção é como a minha. Sigo caminhando também vagarosamente. O que iria acontecer?

Elevador e uma hora e meia de reunião depois a curiosidade era mantida. O que vi é absolutamente irreparável, intocável. Não há palavras.  Minha estocada com letras é no vazio de um sentimento que perdi nesse tempo da reunião.

Então ela coloca o rosto por meio das vigas de concreto. Ele vira o capacete e repete o movimento dela. Assim se encontram.

Um beijo real, concreto e abismal.

Os aplausos dos colegas tomam conta do ambiente. Estou ali como um intruso idiota. Paro e aplaudo junto. Minha tarde termina para qualquer outro tipo de concentração. O resto será pró-forma.

Vida mesmo ficou ali naquele beijo no concreto.

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