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Um roteiro para três amores – por Bianca Zasso

Um bom roteiro é eterno. Uma prova de que esta máxima é verdadeira está cinema dos nossos tempos: desde o final da década de 90, uma enxurrada de refilmagens invadiu as telas. Há para todos os gostos: filmes europeus adaptados para tramas americanas, clássicos oitentistas revisitados e até filmes considerados intocáveis, como Psicose, de Alfred Hitchcock, refilmado pelo cineasta Gus Van Sant em 1998. Nem sempre revisitar um roteiro rende bons resultados. Mas o cineasta Leo McCarey conseguiu a proeza de filmar duas vezes a mesma história e conseguir resultados inesquecíveis em ambas as tentativas.

Em 1939, McCarey, que já havia trabalhado com os Irmãos Marx e em alguns curtas de O Gordo e o Magro, resolveu criar para as telas uma história de amor um pouco diferente das que estavam em cartaz na época. Love Affair (lançado nos cinemas brasileiros com o título de Duas Vidas e em DVD como Poema de Amor) narra o encontro entre o conquistador Michel Marmet, interpretado pelo galã Charles Boyer, e a astuta Terry McKay. Os dois se conhecem em uma viagem de navio entre a Paris e Nova York e, mesmo comprometidos com outras pessoas, se apaixonam. A culpa inicial dá lugar a um plano romântico: seis meses após desembarcarem do navio, eles combinam de se encontrarem no alto do Empire State, o mais alto edifício da Big Apple. Seria o reencontro perfeito, mas Terry sofre um grave acidente que vai mudar para sempre sua vida.

O resultado? Sucesso de público e crítica. Tanto sucesso que, em 1957, McCarey refilmou seu próprio roteiro, sob o título de Tarde demais para esquecer. Para protagonistas, foram chamados os dois maiores astros da época: Deborah Kerr como Terry e Cary Grant como seu grande amor, rebatizado de Nickie Ferrante. Mais uma bilheteria gorda e quatro indicações ao Oscar, incluindo melhor roteiro.

Tanto em Duas Vidas como em Tarde demais para esquecer, o que cativa o espectador, além do drama vivido pelo casal central, são os diálogos. Por sua experiência na direção de comédias, McCarey deixava seus atores improvisarem, o que tornava as cenas ainda mais verdadeiras. Em ambos os filmes, o duplo sentido está presente em quase todas as falas, alternativa comum num tempo onde o Código Hays ainda imperava e não permitia temas como sexo e adultério nos filmes americanos.

Mesmo que Irene Dunne e Charles Boyer esbanjem química, é o casal da segunda versão que merece destaque. Deborah Kerr trouxe de sua experiência com musicais um ritmo de fala que faz com que nos afeiçoemos a Terry desde o primeiro momento. Já Cary Grant equilibra seu lado cômico com o charme de sempre. Ouso dizer que foram os percursores das comédias românticas inteligentes que seriam produzidas com mais frequência nos anos 60, a exemplo de Como roubar um milhão de dólares, de William Wyler.

Em 1994, o diretor Glenn Gordon Caron levou para as telas uma versão atualizada do roteiro de McCarey, intitulada na nossa terra brasilis de Segredos do coração. Mesmo tendo no elenco o casal Warren Beatty e Annette Bening e uma participação especial da grande diva Katharine Hepburn, a produção foi um fiasco, chegando a concorrer ao fatídico prêmio Framboesa de Ouro de pior remake. Mesmo sem sucesso, é mais uma amostra de que o romance lá de 1939 ainda emociona.

Aliás, um ano antes de Segredos do Coração, a diretora Nora Ephron lançou Sintonia de Amor, um dos melhores romances daquele ano. A cena do encontro de Meg Ryan com Tom Hanks no alto do Empire States é uma homenagem ao filme de McCarey.  É o amor (e os roteiros) se reinventando na tela. Sempre lindo.

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