A TENDA. Haverá consequências no Palacete, por conta da ordem para despejar os familiares da Kiss

Ao meio dia de sexta-feira, por ordem direta do prefeito Cezar Schirmer, foi suspensa a aplicação da notificação de despejo aos familiares das vítimas da tragédia da Kiss que ocupam uma tenda na praça Saldanha Marinho.

Aqui, o objetivo não é tratar exatamente da eventual falta de sensibilidade, pois restou claro que o Palacete da SUCV simplesmente não se sente bem ao ver e ouvir, a menos de 200 metros, as críticas habituais dos familiares que se sentem (e têm todo o direito) injustiçados.

Não, o objetivo é outro. Trata-se, no caso, de analisar politicamente a decisão. Que, por sinal, houve quem suspeitasse (não é o caso deste repórter) que se tratava apenas de uma tentativa de ganhar tampo, de vez que a decisão seria definitiva, do ponto de vista da Prefeitura.

Assim, sobram duas possibilidades. Ambas politicamente desastrosas.

A primeira é que o próprio prefeito teria, seguindo conselho sabe-se lá de quem, determinado o despejo dos familiares. Como caiu na esparrela, não se sabe. Mas é tão óbvio que esse tipo de postura só tem o condão de acirrar mais os ânimos, que parece difícil acreditar que o Chefe do Executivo, com toda a sua experiência, tenha se convencido dela. Tanto é verdade que voltou atrás, diante da grita natural que se sucedeu à entrega da notificação.

Se for essa a circunstância em que se deu a medida, ao prefeito não cabe outra coisa senão demitir o conselheiro, seja quem for. Se, claro, tiver algum cargo no Palacete. Foi uma avaliação absurda da conjuntura, em que se pensou com o fígado, e não com o cérebro. E, subsidiariamente, ocorrerá o pedido para sair dos que foram desautorizados, no final da manhã de sexta.

A segunda possibilidade é que o primeiro escalão, também responsabilidade do prefeito, tenha agido de moto próprio. Quem sabe até para, digamos, bajular o comandante. “Nós vamos tirar esse pessoal dali; aí o chefe não precisa mais ouvir o que eles dizem”, imaginavam as mentes “brilhantes”. Você acha improvável? Este repórter, não. O que não falta, no entorno do Gabinete do Prefeito, são aduladores. Dos quais ele gosta, diga-se, pois estão sempre à disposição e não obrigam ao contraponto.

Nessa segunda circunstância, inclusive depois da descompostura pública provocada pela “volta atrás” do prefeito, no final da manhã de sexta, há apenas uma alternativa: mandar embora quem tomou decisão de tamanha importância, sem consultar o comandante. Ponto.

OPINIÃO CLAUDEMIRIANA: Cezar Schirmer encontrará uma maneira de fazer do dito o não-dito, todo mundo continuará nos seus cargos e, como efeito colateral, conviverá com protestos e manifestações por mais dois anos e meio. Inclusive porque, em entrevista concedida ao repórter Marcos Fonseca, do jornal A Razão, quando do primeiro ano da tragédia, há pouco mais de duas semanas, declarou, TEXTUALMENTE: “o que um pai disser eu respeito, mesmo que não concorde.” Bueno, isso está acontecendo bem nas proximidades do Palacete da SUCV.