Abaixo do fundo do poço – por Luciano Ribas

Se a incoerência na política já não causa surpresa, o deboche para com a dor alheia não pode ser perdoado.

O motivo é simples: não se brinca com os sentimentos de centenas de pais e mães, irmãos e irmãs. Nem se desrespeita a memória de 239 pessoas ou se trata como bobos os milhares de habitantes de uma cidade enlutada.

Pois os vereadores governistas fizeram tudo isso, com um agravante: passaram dias acusando a todos (partidários ou não) os que defendiam a instalação de uma CPI na Câmara de fazerem “politicagem”. Escoravam-se num sofisma, escondendo seu medo no (necessário) respeito às vítimas e suas famílias. Diziam que não precisávamos de mais uma instância investigando. Faziam-se de bons moços e moças. Faziam-se.

Pura balela. Com as assinaturas suficientes para instalar a CPI, mudaram toda a conversa, pisando não apenas na “coerência”, mas na própria humanidade. Um gesto baixo, triste, mesquinho, indecente. Um tapa na face de Santa Maria.

Quando eu era guri e alguém se achava muito espertinho, dizíamos que ele (ou ela) precisava de um ki-chute branco para “não escorregar na malandragem”. Até pensei em usar isso no título desse texto que, sei, está impregnado de emoção e até um pouco confuso. Desisti porque não há graça possível, ou mesmo ironia, envolvendo esse assunto. Não quero cometer o mesmo desrespeito que esse senhores e senhoras cometeram em nome de alguns cargos e muito interesses.

O consolo que me ocorre está no “princípio” que diz que sabe-se como uma CPI começa mas nunca sabe-se como ela acaba, mesmo que ela nasça de uma manobra de apavorados.

Espero que os vereadores mutantes sintam o gosto dessa verdade e sofram as consequências desse movimento que, moralmente, lhes levou abaixo do fundo do poço.