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Amores quietos – por Bianca Zasso

Alguns atores, independente das provas existentes de seus talentos para interpretarem os mais diversos personagens, ficam marcados por apenas um, quase sempre o que dá o impulso inicial de sua carreira. James Stewart será para sempre lembrado como o bom americano, Cary Grant como o elegante conquistador e Johnny Depp como o excêntrico. Porém, nenhum outro homem na história do cinema ficou mais marcado por um tipo quanto Clint Eastwood.

O homem sem nome, surgido em 1964, no primeiro filme da Trilogia dos Dólares idealizada pelo italiano Sergio Leone, Por um punhado de dólares, entrou na vida de Eastwood e nunca mais saiu. Com o sucesso das produções (os filmes seguintes foram Por uns dólares a mais e Três homens em conflito), o ator passou a encarnar um solitário pistoleiro atrás do outro.

Não se pode negar a importância que este cowboy teve para a carreira de Eastwood. O tipo calado, que se comunica com o mundo por meio das balas que sua pistola dispara ao invés de suas palavras conquistou o público, incluindo esta humilde colunista que vos escreve. O homem sem medo da morte, que atira sem medir consequências e segue sozinho, sem nenhum respiro ou romance que possa acalmar sua sina é encantador. Mas como nem todas as mulheres são admiradoras dos tipos rudes, Eastwood não garantiu muitas moças em suas plateias. Até o dia que ele mostrou ao mundo As pontes de Madison.

Inspirado no romance homônimo escrito por Robert James Waller, o filme conta a história de Francesca, uma mulher simples, que passa seus dias em função dos filhos e do marido. Quando este viaja para participar de uma feira de animais, surge em sua vida um par de olhos azuis quase invisíveis devido aos olhos cerrado de seu dono.

foto bianca zassoRobert Kincaid (Clint Eastwood, que também assina a direção) é fotógrafo da revista National Geographic e chega a cidade de Madison afim de fotografar suas famosas pontes. Eastwood troca o coldre pelas lentes e, com o charme que lhe é peculiar, conquista mais que os olhares de Francesca, interpretada com todo o talento e a intuição de Meryl Streep e eles vivem quatro dias inesquecíveis um ao lado do outro.

Francesca é daquelas mulheres que cada um de nós deve conhecer pelo menos uma: simpática, amorosa, mas que esconde em seu sorriso um ar de frustração. Não há violência nem gritos entre ela e o marido, mas também não há romance. Seu coração, que andava mais ocupado em bater do que em perder o compasso, descobre um novo ritmo quando ela inicia seu affair proibido.

Francesca redescobre sua feminilidade, o poder de sedução de seus pequenos gestos e que pode sim, ser desejada, mesmo que a juventude tenha se tornado uma lembrança no álbum de retratos da família. Ah, a família. Ela atormenta Francesca a todo momento, mas não impede que ela siga em frente nos beijos e abraços com Robert. Tudo com muita discrição, sem alarde.

Em tempos de redes sociais, onde casais entopem seus perfis com fotos no melhor estilo “eternamente felizes”, exibindo seus momentos juntos para quem quiser ver, As pontes de Madison soa como um hino ao amor quieto. Aquele que surge tendo apenas duas testemunhas, sem algazarra, nada fulminante. Nada contra demonstrar amor no mundo virtual, mas os melhores momentos da vida à dois devem ser vividos sem espectadores. Francesca e Robert possuem um segredo e ele basta. Não precisa ser comentado com ninguém, nem para os mais íntimos. E tem tanta intensidade quanto os que são declarados em alto e bom som.

As pontes de Madison também merece destaque por ter como protagonistas um casal maduro. A juventude é dona do cinema, isso não se pode negar. Talvez por isso seja tão bonito e tão tocante ver um homem e uma mulher com marcas no rosto se entregarem um ao outro. Os hormônios podem não ser mais os mesmos, mas o desejo move o ser humano até os seus últimos dias e merece ser vivido sem medo.

Clint Eastwood tinha 65 anos quando fez A pontes de Madison e deu conta de atuar e também comandar o espetáculo atrás das câmeras, sempre cumprindo o cronograma de filmagem à risca e enchendo a tela de cenas encantadoras, como a dança que os personagens compartilham na cozinha da casa de Francesca. Depois do filme, muitas moças, algumas integrantes da trupe que fazia cara feia para o pistoleiro solitário dos anos 60, passaram a soltar suspiros pelo homem grisalho e de traços másculos.

Como manda a tradição da boa crítica, não vou revelar o final de As pontes de Madison, caso algum dos leitores ainda não tenha visto o filme. Mas não posso deixar de dizer que a grande mensagem deste trabalho de Clint Eastwood é uma só: grandes amores não precisam tomar conta da nossa vida. Uma breve e intensa estadia basta. E é lindo do mesmo jeito.

As pontes de Madison (The Bridges of Madison County)

Ano: 1995

Direção: Clint Eastwood

Disponível em DVD

 

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