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Lágrimas de domingo – por Bianca Zasso

foto para BiancaSempre vi a arte como uma forma de aproximação. Parece algo mágico, mas a intensidade de certas obras é tanta que acabamos por nos sentir íntimos de seus criadores. É quase uma relação familiar. Aguardamos o novo filme de um diretor como se aguardássemos a visita de um amigo querido. Quando eles nos deixam, a tristeza toma conta, mesmo com a distância.

Esta semana começou com péssimas notícias para os amantes do cinema. Perdemos, num intervalo de poucas horas, o documentarista Eduardo Coutinho e o ator e diretor Philip Seymour Hoffman (nas fotos acima).

Coutinho, responsável por obras tocantes e humanas como Edifício Master e Moscou, foi encontrado morto em seu apartamento. O principal suspeito do crime é seu filho Daniel, que sofre de esquizofrenia. A situação de Hoffman também foi trágica. O vencedor do Oscar de melhor ator por Capote foi encontrado caído no banheiro de seu apartamento em Manhattan, vítima de uma overdose. O ator lutava contra o vício em heroína há alguns anos.

A notícia de ambas as mortes me causou uma tristeza que eu só lembro de ter sentido no dia 30 de julho de 2007, quando Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni deram adeus a este mundo louco. Fiquei alguns minutos em silêncio, pensando em como os filmes daqueles dois cineastas haviam mudado a minha vida e me dado uma outra visão de mundo, um novo frescor para as minhas ideias. Chorei baixinho e, motivada pelo meu sangue rebelde, me perguntei porque tanta gente ruim no mundo fica enquanto grandes homens se vão. Depois, mais calma, entendi que tanto Bergman como Antonioni estavam velhinhos e a lei da vida é assim mesmo.

Mas com a perda de Coutinho e Hoffman é diferente. Um caminho que podia durar muito ainda foi interrompido. Aos 81 anos, o diretor brasileiro não parecia satisfeito com sua cinematografia e, aos 46 anos, o ator americano ainda tinha muito que nos brindar com seu talento. É de se ficar imaginando o que eles poderiam ter feito, caso nenhum desses tristes fatos tivessem acontecido.

Lamentar não é o melhor verbo no momento. Vida que segue, é assim que tem que ser. A obra destes dois grandes homens do cinema está aí, e vai continuar a nossa disposição. Há um crime a ser resolvido. Um final trágico para um homem que sempre mostrou a beleza do cotidiano, que transformou diálogos banais em registros da capacidade humana de se reinventar. A família de Hoffman também terá que buscar respostas. E a nós, resta buscar as incríveis atuações que ele nos deixou. Sempre camaleônico, sempre intenso.

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