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Por uma cidade com mais sebos – por Atílio Alencar

Ser apaixonado por livros e não dispor de um orçamento que permita adquiri-los na medida em que nos enamoramos, a cada passada de olhos por uma estante ou vitrine, por um novo título. Quem não vive esse drama, ou possui uma biblioteca borgiana ou é imune ao acúmulo compulsório de livros. Ambos os tipos estão, de toda forma, aliviados da angústia de padecer em cálculos diante da dúvida se afinal pode-se ou não cometer a extravagância – mesmo que à custa de sacrificar outros itens de maior urgência no abastecimento doméstico. Compulsão que inclusive ignora a fila de espera de livros a serem lidos, e que poderiam, em alguns casos, exigir alguns meses de dedicação antes de esgotar-se.

O consolo para os bibliófilos de recursos escassos é a existência dos sebos, nome popular dado às lojas que fazem circular livros usados. Observem que não estamos falando necessariamente de colecionadores ávidos por raridades – que também podem ser garimpadas nos bricabraques literários -, mas de leitores médios (não medíocres, que fique clara a distinção), interessados em ficção, biografias, ensaios teóricos e eventualmente algum título técnico.

Nos sebos, além das vantagens de preço, há também um elemento que pesa consideravelmente na hora de optar pelo usado ao invés do novo: a surpresa de encontrar um título inesperado, alguma edição já fora de catálogo, quem sabe uma página rubricada pelo punho do próprio escritor. Isso sem falar na possibilidade da barganha, estratégia sempre recomendável e de comprovada eficácia para obter descontos em compras maiores.

Além disso, espera-se de um comerciante de livros usados a sensibilidade e o conhecimento literários que o funcionário das grandes livrarias não pode dispor, emboscado que está pelas condições de trabalho alheias a sua vontade. A indicação de uma boa leitura, a desenvoltura para comentar as particularidades de uma edição e o conhecimento geral sobre vida e obra de um autor, mais do que artifícios de venda, configuram um tipo de encontro que só tem lugar num sebo ou pequena livraria. São pequenas satisfações que o grande comércio descarta na relação com o leitor, tratado no mais das vezes como um mero portador de cartão de crédito, e não como o perseguidor obstinado ou simplesmente curioso por novas leituras.

Aqui em Santa Maria, apesar de contarmos com um cenário inexplicavelmente rarefeito de sebos para uma cidade universitária, o fato é que a versão mais econômica e com atendimento mais cuidadoso e melhor informado em relação às grandes livrarias (que trabalham centradas na comercialização massiva de best-sellers) tem se mostrado mais frequente, esboçando um pequeno circuito de pontos de ‘reciclagem literária’.

Embora ainda restrito a um conjunto de quatro ou cinco lojas dispersas pelo centro, o percurso de sebos locais oferece alternativas interessantes aos preços praticados nas maiores livrarias da cidade, e em alguns desses ambientes é possível entabular conversas bastante interessantes sobre literatura.

Na escassez de recursos para adquirir tantos livros como gostaríamos, que ao menos seja possível fruir de leituras de boa qualidade a preços justos, com mais conversas de rodapé e menos códigos de barras para a imaginação.

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