Carnis Valles (III) – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
Carnaval em regra é dia de festa. O que se denominou de festa popular, movimenta milhões, encanta o mundo. É mágico! Magia da beleza do carnaval, a arte protagonista de enredos e alegorias. Mágico pela grandeza do espetáculo. Uma festa celebrada na véspera com veemência, o carnaval de terça-feira, começa na sexta. Dias antes, semanas antes, meses antes.
O país do carnaval ainda é o mesmo que condena milhões de pessoas às filas de espera em postos de saúde; é o país de obras superfaturadas; é o país de mensaleiros; é o país dos miseráveis; é o país das desigualdades; das injustiças promovidas pela morosidade do judiciário, pelas irregularidades do executivo, pelo desinteresse do legislativo.
O carnaval carioca, o mais mágico de todos, é também de garis sambistas. O luxo das fantasias é lixo amontoado, decorrente de garis grevistas. No país do carnaval, democrático de direito, proíbe-se o uso de máscaras, aparelha-se o judiciário, consola-se (política da bolsa) a miséria e pune a greve com o corte de salários, com a arbitrariedade das sentenças.
Nossos carnavais são outros, a população vem fantasiada de trouxa, organizada em alas da impunidade, da desigualdade, lamentando a intolerância como destaque. A corte é outra, o rei deixou de ser momo, passou a ser devoto de si mesmo, envaidecido nos seus mandos, rodeado por quem o aplaude, mas não lhe admira. O país do carnaval também é da política oportunista. Um baile de máscaras!
O samba virou sapateio, transformou nossos anseios em pandeiro. O carnaval nos fez palhaços. O mágico da avenida é também o trágico mundo real. Em tempos de carnaval, nem tudo tem graça. O bloco é de luta, o confete, lamenta-se, é bala de borracha.
Vitor Hugo do Amaral Ferreira
@vitorhugoaf
Achei o texto muito bom. Entendi perfeitamente a metáfora, aliás muito bem construída. No entanto, acredito que vai ter gente que não vai entender, vai levar ao pé-da-letra e vai pensar que, segundo você, o carnaval é a origem de todos os males do país, o que não é verdade. Afinal, o carnaval dura só quatro dias; o pouco caso com o povo, no mínimo, quatro anos…