Elegância, generosidades e outras querelas – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Adélia Prado escreveu: “A vida é muito bonita, basta um beijo e a delicada engrenagem movimenta-se, uma necessidade cósmica nos protege”. Quando, na vida cotidiana, ouço e vivencio certas indelicadezas, rapidamente recorro aos meus gurus poéticos para que minha alma leve não seja contaminada por tristes espíritos que andam pelos corredores da vida arrastando pesadas correntes do ressentimento, da raiva e da dor.
Quem medeia sua vida com as diferentes linguagens das artes, felizmente, vacina-se contra os impropérios e grosserias de alguns seres humanos embrutecidos. Após uma postagem nas redes sociais, onde defendi a poesia, a elegância e a generosidade como fundamentos para a beleza, o prazer e a sanidade na vida, uma bonita senhora afirmou que elegância não “caia” bem para homens gaúchos e dois “Doutos” senhores ironizaram minha liricidade e minha defesa de uma vida generosa.
A presença de bufões, fantasiados de homens gentis, é constante em nosso mundo do trabalho, no bar, no cinema e no bairro onde moramos. Como é triste e desagradável partilhar espaços, numa reunião, por exemplo, com um indivíduo que de manhã cedo nos parece sentir prazer em partilhar conosco sua horrenda e triste carranca.
O ímpar desabrochar de um lindo botão de rosa ou o sedutor aroma de um jasmim não encantam e nem alimentam o olhar obtuso do bufão contemporâneo. Colaborar com os outros não faz parte do mundo de broncos escolarizados, pois se configuram como verdadeiros homens e mulheres ostras. Suas carapaças lhes bastam. A deselegância desses indivíduos deve ocultar um amontoado de traumas, medos, fragilidades e fantasmas que existem nos porões de suas almas.
Patética forma de vida e bizarra Filosofia destes seres, humanamente, egoístas. Clarice Lispector, em Água Viva, poetizou: “Rosa é a flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta a alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As pétalas têm gosto bom na boca – é só experimentar”.
Como é elegante querer partilhar o belo e como é generoso pensar que o outro é fundamental para constituir, ontologicamente, nossa singela forma de vida. Colocar sentimentos em tudo que se faz é bom para a alma, para a saúde e para uma prazerosa vida social.
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