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O Oscar foi pro espaço – por Bianca Zasso

No último domingo, dia 2, muitos leitores desta coluna estavam curtindo uma ressaca ou se preparando para mais uma noite de folia. No entanto, não houve espaço para confete e serpentina para esta colunista. A 86º entrega do Oscar, prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas movimentou os cinéfilos com suas apostas e torcidas. A chuva, fraca porém presente, quase derreteu a maquiagem e tirou o volume de alguns vestidos. Mas como o nosso assunto aqui não é tecido e joias, vamos ao que interessa.

A vida real estava na festa. Dos nove indicados a melhor filme, cinco são inspirados em histórias verdadeiras. Saber que o que está na telona já foi parte do cotidiano de alguém sempre garante ao público uma dose extra de emoção, o que pode fazer com que alguns atores sofram para conseguirem uma atuação bem dosada do personagem real, mas que também obedeça às ordens dos diretores e os objetivos da trama.

A vencedora na categoria de atriz coadjuvante é uma prova disso. Lupita Nyong’o conseguiu encontrar a medida certa do drama no filme 12 anos de escravidão. Quem também soube encontrar o equilíbrio mesmo sob pressão mais uma vez foi Cate Blanchet, premiada por sua atuação em Blue Jasmine, o amargo último filme de Woody Allen. Ela superou as favoritas Meryl Streep e Sandra Bullock com louvor.

Assim como Matthew McConaughey, que levou o troféu de melhor ator devido a sua dedicação incrível em Clube de compras Dallas. A trama do filme, muito bem conduzida, é o ponto de partida para que ele mostre que não é um homem bonito, mas um ator talentoso e quer ser lembrado assim.

Com o tema Heróis de Hollywood, o Oscar premiou os corajosos. Jared Leto, mais conhecido por ser roqueiro que ator, levou o troféu como melhor ator coadjuvante interpretando um transexual no já citado Clube de compras Dallas. Leto perdeu treze quilos para interpretar o período mais crítico do personagem, característica que pode ter pesado para a Academia, já que é extensa a lista de atores que passaram por uma via crucis em nome da atuação e hoje ostentam um homem dourado na estante de casa.

O espaço também foi convidado de honra. Gravidade levou sete estatuetas para casa, principalmente nas categorias técnicas. Porém, a Academia se deu conta que o grande mérito do filme, por mais tecnologia que haja, está na condução dos atores, que conseguiram transmitir emoção mesmo pendurados por cabos de aço e atuando em cenários de fundos verdes.

A narrativa ambientada no espaço, com referências a Stanley Kubrick, levou uma atmosfera claustrofóbica para a ficção científica e Alfonso Cuarón, que demonstra seu talento desde o belo A princesinha, tornou-se o primeiro latino a vencer na categoria de melhor diretor. Uma escolha certeira já que Cuarón usou seu tempero mexicano e o resultado foi um dos filmes mais interessantes de 2013.

E a insistência também sentou em uma das primeiras fileiras da grandiosa apresentação. Spike Jonze, um dos mais inventivos roteiristas de sua geração perdeu o Oscar algumas vezes, mas seu momento de discursar e agradecer chegou em boa hora. Ela, drama que trata da tecnologia e da solidão de uma forma poética, levou o prêmio de melhor roteiro original.

Merecia ter tido mais indicações, assim como Nebraska, filme de Alexander Payne desvalorizado pela Academia mas que merece ser descoberto pelo público, devido a sua história inteligente e sua bela fotografia em preto e branco. O que valeu foi ver o veterano Bruce Dern sorridente na plateia. Lembranças de clássicos de ação das décadas de 60 estiveram presentes.

12 anos de escravidão, tido como o favorito da noite, ganhou apenas três estatuetas: melhor atriz coadjuvante, melhor roteiro adaptado e…melhor filme. Mas como pode, você deve estar se perguntando, tão poucos troféus para uma produção e ela ser escolhida a melhor do ano? A Academia tem mistérios que até os que lhe acompanham há décadas desconhecem.

O preconceito com a ficção científica, uma certa rejeição aos latinos que se aventuram na América do Norte e até mesmo a insistência dos produtores podem ter levado à tal escolha. O diretor Steve McQueen tem seus méritos, já que o grande diferencial neste seu drama racial é a reconstrução de um período não muito querido da história dos Estados Unidos e que abre algumas feridas. Porém, o filme, apesar de emocionante e belo, não se compara a Shame, filme anterior do diretor que foi esquecido pela Academia e que merece ser visto.

Escolhas insólitas à parte, o Brasil esteve presente no Oscar 2014 com uma triste lembrança. Num dos momentos mais esperados da premiação, a homenagem aos artistas e técnicos de cinema falecidos, a presença do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, assassinado no mês passado, foi emocionante. Ele merece ser lembrado sempre e suas obras devem circular por todos os públicos. Ele nunca ganhou um Oscar.

Lembrem-se: o homenzinho dourado é mais movido pelo marketing que pela emoção. Logo, não merece ser levado tão à sério. Há vários filmes por aí que nunca passaram perto da estatueta e ficarão para sempre na lembrança de seus espectadores. É o que vale. No fundo, é para isso que serve o cinema, para nos gerar memórias e nos fazer viajar para longe, ao lado de pessoas quase desconhecidas. Com prêmio ou sem prêmio, o que vale é escolher o que vamos assistir mais com o instinto do que com as informações da capa.

Bjus da Bia e até o Oscar 2015!

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