Poesia e outras veleidades – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Que importa se os raios do sol não se fazem presente e, portanto, não dão brilho à visão que tenho para o mundo lá de fora? Se o brilho do sol fosse paradigma para a definição do belo, que faríamos com o profundo e harmonioso silêncio que gera o manto suave e negro que encoberta o tempo noturno e o incandescente brilho que formam o mar de estrelas na abóboda celeste?
Eu sou o senhor do meu tempo e o cinza que vislumbro pela minha janela me apraz. O que importa é que quero refletir e escrever, neste momento de ócio, algo sem importância sobre coisas que para nada servem, neste nosso nebuloso tempo de escravidão pragmática. Por que nos estressamos tanto com nossa perda de tempo, na vida cotidiana, se não nos damos ao luxo de parar para pensar na relação que existe entre nosso vir-a-ser e o devir temporal do outro, da sociedade e da natureza?
Que diferença faz se existe, ou não, o jasmim e seu aroma adocicado que invadem deliciosamente nossas narinas? Você já observou que um jardim de rosas é multicromático, possui pequenos botões, lindas corolas e sua haste possui espinho e, mesmo assim, o conjunto é altamente sedutor?
Na minha rua existem dois tipos de ipês: o amarelo e o roxo. O que mais me encanta com os ipês é que suas flores são lindas, mas absurdamente efêmeras. Emergem e caem com uma irresponsável e descomunal velocidade, mas formam um exuberante tapete colorido e lírico que encobre os inorgânicos paralelepípedos de minha rua.
O Jardim Lindóia, onde moro, é repleto de hibiscos amarelos, vermelhos e brancos. Quem os plantou os admira e ama. O beija-flor faz de seu néctar um verdadeiro banquete e eu, com a linda dobradinha, presencio uma obra de arte. A alegria, felicidade, tristeza e a dor são sentimentos que se explicitam nas pessoas que nos deparamos em nossa travessia da vida cotidiana. Com ações ou com palavras o eu generoso se solidariza com esse ser outro e, no coletivo, formamos uma nau que navega rumo a uma vida mais colaborativa e digna.
Veleidades nada pragmáticas para serem ditas num maravilhoso dia nevoento e frio. Drásticas rupturas com a vida interesseira, conveniente e utilitarista. Esse é o modus vivendis do ser poeta e este é um sensível olhar que, através de palavras, o pensamento se transforma em poesia. Inutilidades que dão mais conteúdo e forma a vida as formas de vida agitada, tecnologizada e egoísta que vivemos em nossa opaca e pouco graciosa contemporaneidade.
Sejamos mais humanizados e do lugar comum façamos emergir aromas, seduções e uma vida mediada pela singular poesia. A arte da poética não pode ser confundida com a educação, mas ler poesia e gostar do olhar poético pode nos ajudar a humanizar este nosso rude mundo social.
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