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A “descomercialização” de Santa Maria (I) – por Carlos Costabeber

Em 1976, ainda muito jovem, fui indicado pela “velha guarda” do comércio de Santa Maria, para presidir o então denominado Clube dos Dirigentes Lojistas (CDL). Com apenas 27 anos, recém havia retornado da Fundação Getúlio Vargas (em São Paulo), e assumido como Diretor Comercial da Uglione e como professor do Curso de Administração da UFSM.

Na época, a cidade havia se candidatado para sediar a 8ª Convenção Estadual do Comércio Lojista, a ser realizada no ano seguinte. E o pessoal queria “sangue novo” no comando daquele compromisso – que por sinal, foi um sucesso absoluto.

Mas foi naquele ano que escrevi em A Razão um artigo muito polêmico: “A Invasão Alienígena” . Com 38 anos de antecedência, já começava a me preocupar com a chegada das grandes redes de lojas à Santa Maria – como as extintas Imcosul, Casas Pernambucanas e JH Santos. Alertava então os meus colegas do comércio, de que deveriam mudar a maneira de gerir os seus negócios, frente à nova e poderosa concorrência que estava recém chegando.

E as minhas previsões acabaram acontecendo mais rapidamente do que imaginara, num processo irreversível. Isso que Santa Maria, na época, era a maior praça varejista do Estado, perdendo somente para Porto Alegre.

Acreditem! Nos anos 70 e 80, nossa cidade tinha um comércio mais importante do que Caxias do Sul e Pelotas. E isso começou a chamar a atenção das grandes redes do país.

Mas mesmo com um mercado pujante e em expansão, as empresas locais foram cedendo ao peso de seus próprios erros, e abrindo as portas para a “invasão alienígena”.

Assim, gradativamente as lojas da cidade foram perdendo terreno, e fechando as suas portas. Lembro bem, que na entrada da CDL havia uma placa, com os nomes das firmas fundadoras da Entidade. Eram as mais fortes e representativas do comércio local.

Pois bem! Todas deixaram de existir, com a exceção da Eny Calçados, Gaiger e Casa Macedo.

Os da minha geração ainda lembram das tradicionais lojas da cidade, que fecharam as suas portas ao longo do tempo: Casa Lang, Ferragem Santa Maria, Central de Máquinas, Relojoarias Troian e Pereyron, Farmácias Rizzatto e Fontenelle, Casa Escosteguy/Rui Ramos, Elegância Feminina, Stoever e Filhos, Irmãos Ugalde, Livraria Dânia, Casa Oreste, Autopeças, Casa Paris, Casa Cristal, Casa Gaúcha, Casa Vera Maria, Casa Hermann, Casas Roth, Casa Farroupilha, Casa Cohen,  Casa Leon, A Princesa,  A Facilitadora. Sem falar nas empresas do setor automotivo e de máquinas agrícolas, como a Sulbra, Irmãos Pisani, V. Biazús, Irmãos Fabrin, Autopeças, Azul Tratores.

Aliás, o segmento de veículos e máquinas agrícolas é o único em que as empresas locais dominam totalmente o segmento; são capitalizadas e com longa tradição no mercado: Uglione, Pampeiro, Sul Veiculos, Itaimbé, Veisa, Carhouse, Minami, Superauto, Super Tratores.

Essas tradicionais empresas do nosso comércio são na realidade multirregionais, pois atuam com suas filiais em boa parte do Rio Grande. É, sem dúvidas, o segmento que melhor representa o capital local.

Mas, em certa época, desenvolvi uma pesquisa acadêmica para tentar entender as razões desse fenômeno e cheguei a conclusões muito interessantes. Mas para não me alongar nesse texto, na próxima 2a. feira trarei as razões que levaram as principais lojas de Santa Maria a desaparecerem ao longo dos anos.

Confesso também que a ideia de escrever esse artigo, surgiu após uma conversa com o velho amigo e colega, Odilo Marion. Numa palestra que fiz na última 5ª feira para empresários no SEBRAE, o Odilo me provocou para escrever um artigo sobre a Desindustrialização de Santa Maria. Chocado com as suas palavras, decidi escrever antes de tudo, uma história que conheço muito bem – usando um título de sentido análogo: A descomercialização de Santa Maria.

Uma boa semana a todos.

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Um Comentário

  1. Incrível mesmo é que, tendo um capital intelectual dos bons em termos de conhecimento acadêmico na área, com suas faculdades e universidade, o setor comercial continua arcaico, de cotovelos no balcão, esperando passivamente Romaria e Vestibular para salvar seus lucros. Isso quando não são truculentos, ocupando espaços públicos com mesinhas e tal como se estivessem acima da Lei.

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