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Santa MariaTragédia

KISS, 1 ANO. O(s) dia(s) em que a jornalista chorou

Assisti ao documentário “Janeiro 27”, na tarde deste sábado. Dei meu depoimento a ele. Me emocionei na ocasião, ao assistir ao trailer e, claro, também agora, quando a obra foi apresentada integralmente.

Sabia o que aconteceria. Sim, me emociono e choro – como qualquer ser humano. Não sabia muito bem como relatar isso, embora tenha destacado no Feicebuqui o inesquecível apoio que recebi da querida Joyce Noronha, jovem colega do jornal A Razão, que me amparou (ela não imagina o quanto) no momento final da exibição.

Pois bem. Já em casa, percebo na rede social o relato de outra colega, com 18 anos de profissão, a querida Elisa Pereira. Não resisti e pedi depoimento exclusivo para este sítio. A cobertura do evento, a que ela se refere, você lerá, com detalhes, na edição de segunda-feira, de A Razão. Aqui, o assunto é outro. Inclusive para mostrar como somos, e não como alguns se acham e, sobretudo, como muitas vezes a sociedade nos vê. Com a palavra, Elisa (de cuja página do Feicebuqui roubei a imagem que ilustra este texto):

Elisa (com a filha Bianca): jornalista e profissional, sim. Mas, acima de tudo, humana
Elisa (com a filha Bianca): jornalista e profissional, sim. Mas, acima de tudo, humana

As vezes que chorei

Ainda na faculdade de jornalismo nos é ensinado que é preciso manter a isenção, a imparcialidade diante dos fatos para poder noticiá-los da melhor maneira possível. A meta é manter certo distanciamento para poder noticiar a realidade de maneira isenta.

Após 20 anos como jornalista afirmo que, em algumas ocasiões, isso é algo inatingível. Somos seres humanos, e como tal, nem sempre conseguimos nos manter frios e distantes diante da dor e o sofrimento alheio. Vemos no outro aquilo que poderia ocorrer conosco.

Na cobertura de matérias jornalísticas chorei pouquíssimas vezes. Lembro algumas, sempre relacionadas com a perda de vidas. No enterro de um ex-colega jornalista, o nosso tão querido Ricardo Cerati, no velório de um menino de oito anos que foi atropelado por uma motocicleta e tinha o sonho de ser bombeiro, no sepultamento de Antonio Augusto Ferreira, compositor nativista que admiro e que ao ouvir suas músicas reproduzidas no exato momento do enterro acabei chorando.

Não segurei e chorei sim. Assim como aconteceu em dois momentos da cobertura da tragédia da Kiss. No domingo do incêndio da boate Kiss eu estava escalada para trabalhar. Lembro que acordei por volta das 8h, ao sair do quarto me deparei com meu pai escutando o rádio e falando de um incêndio, que já era noticiado, em que se falava em algumas vítimas fatais.

Daquele momento em diante não desliguei mais o rádio e, aos poucos, a dimensão da tragédia era conhecida. Liguei também a televisão, e meio atônita, comecei a acompanhar tudo o que conseguia. Em um determinado momento da manhã, telefonei para saber que eu devia ir para o jornal, mas fui informada que vários colegas já estavam envolvidos na cobertura e que deveria ir para redação, à tarde, para trabalhar na retaguarda.

Hoje, percebo, que fui poupada, talvez por Deus, de presenciar tudo aquilo no dia da tragédia. Como mãe, acho que não aguentaria. Só na segunda-feira, no final da tarde, recebi a tarefa de ir ao Centro Desportivo Municipal, onde aconteceram vários velórios, para verificar a situação do momento.

Ainda restavam quatro caixões. Já na primeira tentativa de entrevista encontro uma amiga cujo filho era primo de uma das jovens cujo corpo ainda era velado no local. Ela tinha 19 anos e havia pedido para mãe uma calça vermelha nova pelo aniversário que ocorreria em poucos dias. A moça foi à Kiss vestindo a sua calça nova pela primeira e última vez.

Outro rapaz que estava sendo velado era filho único de uma senhora que havia perdido o marido quando ele ainda era um garoto. Uma mãe que criou o filho sozinha, e com o qual tinha uma ligação muito forte, se despedia dele naquele instante.

E assim eram todas as histórias, de sonhos interrompidos, de tristeza e sofrimento infinito. Chorei também naquela cobertura. Como não chorar? Neste sábado, no Congresso que lembra um ano da tragédia, também não segurei as lágrimas durante o discurso do presidente a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes, Adherbal Ferreira.

Em sua fala, enquanto era mostrado em um telão fotos das vítimas fatais, ele lembrou alguns momentos vividos com filha que faleceu no incêndio, dos cuidados dispensados a ela enquanto bebê, das inúmeras vezes que a levou e buscou na escola. Falou da dor que até hoje, e provavelmente para sempre, levará na alma.

Chegou a ficar com a voz embargada, mas manteve a serenidade. “O filho cresce, precisa de liberdade e aí entregamos ele ao destino. O destino é cruel demais”, disse ele. Sobre a tragédia comentou também “a nossa vida foi cortada, ferida”. “Hoje é preciso ter muita fé para viver”.

Penso que chorar, se emocionar mesmo que não seja o ideal para um jornalista também não é vergonhoso. Acima de tudo, em nenhuma destas vezes voltei ao meu local de trabalho sem condições de fazer a matéria, pelo contrário retornei para colocar um pouco do meu sentimento naquilo que redigi.”

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