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Outro céu azul e branco – por Márcio Grings

Lá de cima, bem do alto, enquanto o avião sobrevoa as nuvens, ele fica observando os chumaços brancos de algodão levitando na abóbada azul cerúlea. Toneladas de glacê no bolo que engloba toda a curvatura do Planeta. Da janela, o viajante observa o aglomerado de desenhos e rabiscos, semelhante àqueles mapas coloridos dos livros de geografia. A aquarela espelhada nos olhos do passageiro é também pontuada por tons amarelos e alaranjados, raios de sol que pincelam o céu junto à borda do horizonte. Como se tudo fosse estrategicamente programado pelo Criador, formando um bonito equilíbrio de cores.

Somos bilhões, tantas vidas, muitas direções a seguir, até que, em algum momento, paramos nas encruzilhadas e redesenhamos um novo traçado. Depois de meio caminho andado, não nos permitimos retroceder, ou tão menos não podemos ficar estagnados pensando por muito tempo, ou… Corremos o risco de ser estupidamente atropelados por um monte de coisas. Entre tantas alternativas e escolhas pessoais, quando decidimos dividir nossas experiências com alguém, há uma série de coincidências mágicas selando essas uniões.

Bem, mas da mesma forma que os caminhos muitas vezes se estreitam, o movimento de translação dos corpos também nos afasta um do outro. É como um grupo musical que gravou uma série de clássicos, mas um dia, inesperadamente (ou não) – a fonte seca, a inspiração desaparece ou a parceria não dá mais liga, e então – fim de papo.

No entanto, é óbvio, não dá pra descartar o que foi construído naquele espaço de tempo. Em outra pauta, também não podemos cantar a mesma velha estrofe um milhão de vezes e esquecer que uma nova melodia é soprada a cada segundo seguinte. E muitas vezes toda essa cantoria fica rolando bem no pé dos nossos ouvidos e nem ao menos percebemos.

É claro, quase sempre não visualizamos a exclusividade daquilo que estamos vivendo. Quem ainda não sacou essa lição? Só depois que há um afastamento do que foi sentido, e muitas vezes só dessa forma, entendemos que aquela experiência foi única. Enfim, já foi. Olhando adiante, a jogada é aproveitarmos ao máximo o presente, como uma benção diária. Quem sabe se deixarmos de lado o passado e esquecermos qualquer espécie de projeção futura, talvez possamos destituir resquícios que já não mais importam.

Ele continua observando atentamente as nuvens. Sim, é uma cena única e exclusiva. Nunca mais aquelas formas algodoadas serão moldadas pela natureza exatamente daquele jeito, sabemos disso. Nunca mais mesmo. Esse é o recado. Veja, repare, absorva e aproveite cada segundo como se fosse o último da sua vida.

O avião começa os procedimentos de aterrisagem. Com o rosto colado na janela, o passageiro acompanha todos os movimentos da aeronave e minuto a minuto percebe a metrópole se agigantando debaixo daquelas asas de aço. Depois do pouso, pega sua mala e procura um táxi. Aeroportos e rodoviárias são todos iguais. Partidas e chegadas. Reencontros e despedidas. Ledo engano. Lembre-se do recado das nuvens. Nada é exatamente igual. Só precisamos estar atentos aos detalhes, pois certamente as pequenas minúcias podem fazer toda a diferença.

“Pra onde vamos, chefe”, pergunta o taxista.

Por alguns segundos ele hesita em dizer o destino. Como se tivesse esquecido o motivo de estar ali. Sorri pra si mesmo, olha para o motorista e anuncia o endereço. O carro dispara rumo ao movimento das avenidas. Olha pela janela do automóvel e percebe uma nuvem gigantesca dando espaço para os raios de sol. Outro céu azul e branco diferente de todos os outros que já viu.

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