MÍDIA. A tesoura ainda vai cortar muito na RBS. E o diabo é que o jornalismo aparentemente é só detalhe
No jargão, dá pra dizer que a reportagem está muito bem amarrada. Nem poderia ser diferente, dado o autor. Luiz Cláudio Cunha, 63 anos, é o que se pode chamar de repórter. Comandou redações, as mais importantes do País, inclusive a Veja, quando esta ainda era uma revista.
Para ficar só num exemplo, é autor do livro “Operação Condor – o Sequestro dos uruguaios”. Publicado em 2008 , desnudou o colaboracionismo dos aparatos de repressão das ditaduras do Sul do mundo – a partir da operação conjunta das polícias das ditaduras do Cone Sul, que redundou na prisão de dois Hermanos em Porto Alegre no fim dos anos 70.
Mas é mais, bem mais: Cunha conhece a RBS por dentro. Foi repórter e chefe de redação da Zero Hora em Brasília. E conhece os meandros do grupo. Com esse retrospecto, e um sem número de fontes (sim, essa coisa meio em desuso no “jornalismo” que alguns tentam vender ao incauto público), produz um verdadeiro documento acerca da situação atual do Grupo RBS e do que vem por aí, na maior organização de mídia do Sul do País e hegemônica no território gaúcho.
O ponto de partida da pauta foi o “passaralho” de agosto, aqui noticiado como sempre. Mas a chegada é mais adiante, embora tenha começado há dois anos e tenha como prazo final 2018, quando a reestruturação em curso deverá terminar. Antes disso, até 2015, uma personagem conhecida por ter “mãos de tesoura” vai cortar fundo. E sobrará para o jornalismo, que parece ter se transformado, do ponto de vista estratégico, em mero detalhe, conforme se depreende da reportagem de Luiz Cláudio Cunha.
O material original e exclusivo está no jornal Já, da capital, detentor de vários prêmios de jornalismo (tanto quanto o autor do trabalho). E este sítio não poderia deixar de registrar. Aviso: se trata de texto longo e denso, mas repleto da matéria prima principal da nossa atividade: informação. A seguir, um trecho. Lá embaixo você tem um linque para a íntegra. Acompanhe:
“EXCLUSIVO: A tesoura que assombra a RBS…
…As receitas continuaram piorando no início de 2013 e o susto virou preocupação. Em julho daquele ano, consolidada a ideia de contratar uma consultoria externa para reorientar a RBS, começou a ser sussurrado ali um nome sonoro e desconhecido até pelos altos executivos da casa: um certo Cláudio Galeazzi. Os primeiros encontros reservados dele com Nelson e Duda Sirotsky aconteceram na sede da consultoria, que ocupa o sétimo andar de um prédio na avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, endereço nobre de alguns dos executivos e empresas mais destacados em São Paulo.
Ali, o trio selou a parceria, remunerada por uma taxa de sucesso sobre os resultados obtidos. Discreto, o consultor não foi visto uma única vez na sede da RBS em Porto Alegre, mas ficou clara sua entrada na vida do grupo. Sem aparecer, sem circular pelo QG dos Sirotsky no sul, Galeazzi despachou para lá um grupo pequeno de assessores para fazer o raio-X e agir sobre os problemas que rondam a empresa. Pelo que se sabe do contrato, a equipe de Galeazzi vai assombrar os corredores da RBS até meados de 2015.
A lâmina fria de Galeazzi Mãos de Tesoura mostrou publicamente o seu fio agudo numa segunda-feira, 4 de agosto passado, pela voz do próprio Duda Sirotsky, em uma das mais desastradas operações de Relações Públicas na história empresarial brasileira. Ele falou aos funcionários numa vídeoconferência e, no mesmo dia, reafirmou o que disse numa carta de duas páginas que pode ser definida como uma autêntica ‘carta-bomba’ — pela sangria na plateia, pelo estrondo na opinião pública e pelas feias cicatrizes na face da RBS como uma empresa moderna, pujante, vencedora, imune a crises e ao amadorismo no ofício da comunicação.
Nas 102 linhas confusas de sua ‘carta-bomba’, Duda fala cruamente em demissões, nega uma crise financeira, anuncia a quebra de paradigmas e conclama seus assustados ‘caros colegas’ — como diz no início de sua bombástica missiva — a imitar a RBS e a apostar no borbulhante mundo dos etílicos. Escreve Duda:…”
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Galeazzi é da velha escola do Banco Garantia, onde os resultados prevalecem sobre qualquer outra coisa. Meritocracia e resultados são as palavras. No fundo, é o que todos queremos: resultados convincentes! Doa a quem doer, é a realidade. Ou a aceitamos (e nos adaptamos à ela…) ou somos carta fora do baralho.
Será que sobrará vaga para comentaristas de posts em sites e blogues?
Quando as regras do jogo não agradam apela-se para a moral. É triste mas é da vida. O smartphone é para o jornalismo o que o caixa automático foi para os bancários. Existem listas de profissões condenadas a desaparecer. Carteiros, fiscais de impostos, reporter de jornal, etc.
E não é só a tecnologia que acaba com vagas de trabalho. Se ocorrer uma reforma fiscal no Brasil e o sistema novo for mais prático e simples, advogados e contadores irão perder empregos.