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As esquerdas e os resultados eleitorais em Santa Maria – Por Leonardo da Rocha Botega

No total, centro-esquerda e esquerda terão 7 vereadores, um terço da Câmara

Após os processos eleitorais, os diferentes campos político-ideológicos realizam seus balanços. Com canetas, calculadoras e teorias na mão e na mente, dirigentes e militantes observam dados, números, fatores quantitativos e qualitativos, com o objetivo de analisar as relações entre a construção de uma narrativa sobre o passado, a definição de uma tática de atuação no presente e o apontamento de uma estratégia futura.

É a hora e a vez das análises de conjuntura. Análises que podem ser otimistas, cautelosas, receosas ou pessimistas, dependendo da posição que cada qual ocupa no novo cenário político, como vencedor ou perdedor eleitoral. É da segunda posição, a da derrota, que parto nessa análise das esquerdas e dos resultados eleitorais em Santa Maria.

No que tange as candidaturas majoritárias, as esquerdas em Santa Maria estiveram no Primeiro Turno divididas. A Frente Ampla, Democrática e Trabalhista foi composta pelos partidos do campo de centro-esquerda (PDT – PSB – PV e Rede), mais o PC do B do campo de esquerda. A Coligação “Você na Prefeitura” foi formada pelo PT e pelo PSD, partido que transita conforme a realidade local entre a centro-direita e a direita.

Já PSOL, PCB e PSTU não lançaram e não apoiaram oficialmente nenhuma candidatura majoritária (o PSOL optou por apresentar apenas candidaturas à vereança). Findado o Primeiro Turno, Marcelo Bisogno (PDT) obteve 12.515 votos e Luciano Guerra (PT) obteve 31.843 votos. Ambas as candidaturas não avançaram ao Segundo Turno.

Tal resultado levou a maior parte dos eleitores e militantes identificados com a centro-esquerda e a esquerda ao constrangimento político de ter que definir uma posição em uma disputa interna ao campo de direita. Para piorar a situação, as esquerdas mais uma vez se dividiram. O campo de esquerda se dividiu entre o voto nulo, orientado pelo PT, pelo PSOL, pelo PCB e pelo PSTU, e a indicação do “voto crítico” no candidato Jorge Pozzobom (PSDB) feita pelo PC do B.

O campo de centro-esquerda (PDT-PSB-PV), por sua vez, definiu apoio ao candidato Sergio Cechin (PP) que reivindicava diretamente o discurso do bolsonarismo. Em sua maioria, os eleitores e militantes de esquerda e de centro-esquerda acabaram seguindo o “voto crítico”. Usando a tese do “mal menor”, votaram na postura neoliberal-gerencialista do tucano, para evitar a vitória do candidato assumidamente bolsonarista.

Em linhas gerais, em termos de constrangimentos ideológicos (que normalmente promovem muitos traumas entre os eleitores e os militantes das esquerdas), os partidos do campo de esquerda foram menos derrotados do que os partidos de centro-esquerda, pois souberam se autonomizar diante de uma disputa que não envolvia propriamente o seu campo político.

Apesar desses constrangimentos políticos e da derrota no Primeiro Turno, se olharmos para os resultados das eleições proporcionais a derrota das esquerdas em Santa Maria não foi tão avassaladora como parece. O PSB elegeu dois novos vereadores, dobrando a sua bancada (em 2016 havia elegido um, que ao longo do mandato trocou de partido). O PC do B elegeu um vereador e voltou a ter bancada na cidade após quase três décadas. O PT elegeu três vereadores (um a menos que em 2016), um foi reeleito e dois são novos vereadores.

O PDT, por sua vez, reelegeu a única vereadora que havia sido eleita em 2016 e perdeu o vereador que havia conquistado ao longo da legislatura 2017-2020. Por fim, o PSOL, mesmo não tento eleito vereador, teve a candidatura mais votada da cidade e aumentou sua votação de 735 votos, em 2016, para 3.999 votos, em 2020.

No total, os partidos de centro-esquerda e de esquerda terão sete vereadores, um terço da Câmara de Vereadores (mesmo número que iniciou a legislatura 2017-2020). Tal número indica a possibilidade de as esquerdas terem na próxima legislatura um perfil bastante ativo.

Porém, para que tal perfil ativo ocorra é necessária a unidade. É preciso que os dirigentes partidários e os vereadores construam um bloco. Tomem uma iniciativa que não pode ficar restrita apenas a Câmara de Vereadores, mas sim, avançar rumo a construção de uma Mesa de Diálogo entre as esquerdas.

Uma iniciativa que unifique as pautas comuns que identificam seus programas partidários e projetos parlamentares com as ações das esquerdas nas comunidades e nos movimentos sociais. Sem rompantes hegemonistas, sem vacilações e sem oportunismos em relação as direitas. Com princípios focados naquilo que unifica e não naquilo que separa. Não tendo apenas as eleições de 2024 como não um guia de ação, mas sim como um horizonte político que depende da construção cotidiana.

Somente assim as esquerdas poderão transformar a derrota em um impulso que leve a sonharmos mais uma vez com uma Santa Maria que se desenvolva com justiça social.           

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

Observação do editor: A foto de José Cruz, que ilustra este artigo, é do Arquivo da Agência Brasil.

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Um Comentário

  1. Vamos de novo. Os trinta mil votos do PT (mais ou menos isto) no primeiro turno foram para Cladistone, o indigesto, no segundo.
    Já fiz comentários a respeito da esquerda antes mesmo da eleição, não vou repetir.
    Nos EUA, é bom mudar de lugar para abordar o assunto, pauta dos costumes nunca esteve tão em voga. Empresas dão treinamento de ‘sensibilidade’ para os funcionários tratar com as minorias, recrutamento aplicado na ‘diversidade’, etc. E, conclusão não é minha, Bernie Sanders que afirmou ser imoral a existência de bilionários está totalmente ‘jogado para escanteio’.
    Resumo da opera é simples, quando muitos estão preocupados em empurrar ‘narrativas’ é de bom grado prestar atenção nos fatos.

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