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Mapeando coletivos culturais e propagando a cultura livre: observatorio.cc – por Leonardo Foletto

Peço a licença nessa coluna para falar de um projeto que estou envolvido e que, neste último domingo 30 de novembro, teve finalizada a 1º parte: o Observatorio.cc. Em uma frase, dá pra dizer que é um projeto de identificação, capacitação e fortalecimento das redes de cultura gaúchas. Talvez isso não te diga muita coisa objetiva, caro leitor, do que, então, complemento dizendo que, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado, através do edital de “Desenvolvimento da Economia da Cultura RS FAC”, realizamos pelo Observatório.cc uma série de atividades, que incluíram mapeamento, entrevistas, debates, oficinas e feiras em cinco cidades do estado – Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas, São Borja e Santa Maria – além de um piloto em Porto Alegre.

Alguém que persistiu na dúvida sobre o que de fato é o projeto pode se perguntar: “Oficinas, mapeamento, feiras, debates…ok, entendi. Mas oficinas, feiras, mapeamento do que mesmo?”. Começamos pelas oficinas. Falamos, essencialmente, de cultura digital, hackers, ativismo e produção cultural. Assuntos que trabalhamos enquanto grupo na Casa de Cultura Digital Porto Alegre, coletivo a qual faço parte desde que voltei ao sul, em fevereiro de 2014. E que me são caros desde quando a Casa de Cultura Digital entrou na minha vida, em meados de 2010, ainda em São Paulo, quando saí cansado de um emprego tradicional no jornalismo (no caso, na Folha de S. Paulo) e louco por ares mais autônomos e flexíveis. Encontrei estes ares em abundância na CCD de SP e encontro na de POA, embora ambas sejam bem diferentes entre si – lá, um grupo de várias empresas/pessoas/coletivos reunidas por amizades, afetos e alguns temas em comum, sendo a cultura e o software livre os principais. Aqui, um coletivo (não uma empresa, nem uma cooperativa) ligados nestes temas já citados e nos ativismos diversos daqueles que buscam um pouco mais de autonomia e menos preconceito em todas as esferas da vida cotidiana, da ocupação dos espaços públicos e da alimentação sem agrotóxicos a bicicleta como meio de transporte, passando pelas causas feministas, LGBTs, negros, quilombolas e outras minorias e também pela participação social nas esferas micros e macro da política.

Mas voltando ao Observatorio.cc. Eram três as oficinas que realizamos nas cidades: “Essa tal cultura digital”, em que apresentamos temas centrais de cultura digital como os hackers, o software e o hardware livre, os direitos autorais, ativismo na rede, remix, compartilhamento, comunicação digital; “produção cultural de guerrilha” era a segunda, em que mostramos táticas mão na massa de como comunicar um evento em menos de 48h; e, por fim, “Botar o Bloco na Rua: tópicos sobre projetos”, que tratava de planejamento e produção, leis, editais, gestão de projetos, ferramentas digitais de gestão, articulação de redes para novos projetos.

Todas as três eram maleáveis e mutantes de acordo com público e lugar. Por exemplo: em Passo Fundo e Pelotas, fizemos junto a universidades, num sistema mais parecido com aulas, embora com temas nem tão falados assim em sala de aula: hackativismo, copyleft creative commons, ferramentas livres para produção cultural, pirataria, direito autoral, entre outros vários. Em outras, como Caxias do Sul e Pelotas, fizemos junto a coletivos culturais num esquema mais aberto, sem classes e auditórios – em Pelotas, a última cidade, fizemos as oficinas na rua mesmo, projetando os conteúdos num muro e com o pessoal a sentar em lonas, panos e meios-fios da calçada. Nas últimas atingimos um público menor e mais restrito a uma certa “bolha” de pessoas interessadas em arte, música e ocupação de espaços públicos; nas primeiras houve um público maior e de bolhas mais “diversas”, ainda que em sua maioria universitários. Todas foram experiências enriquecedoras.

Após as oficinas, rolou um “dia da cultura livre”, uma feira de trocas diversas em um espaço público, em geral praças. A ideia do Dia da Cultura Livre foi a de ser uma celebração da cultura livre e dos artistas, produtores e cidadãos que fazem uso dela, com o objetivo de debater/realizar/educar sobre os princípios do uso e criação de cultura livre e promover artistas locais que apoiam a livre difusão do conhecimento. Dá uma olhada de como foram as de Passo Fundo, Caxias do Sul e Pelotas.

Por fim, a terceira parte do projeto, e que ainda continua, é a do mapeamento propriamente dito. Em cada cidade, entrevistamos alguns coletivos de cultura para entender de que forma eles se organizam e sobrevivem no cenário cultural local. Nos próximos meses, até pelo menos março de 2015, vamos analisar estes dados das entrevistas para apresentá-los junto a uma plataforma de rede (a provisória já está em observatorio.cc/forum) que vai unir e, se der certo, fomentar e potencializar a articulação em rede no RS. 6 cidades, mais de 40 horas de oficinas, 5 edições do dia da cultura livre, 27 entrevistas e 2.932 km de kombi pelo RS são alguns dos números provisórios da 1º parte do#observatoriocc.

Deixei para falar de Santa Maria, a 4º parada do Observatorio.cc, por último. Sim, não sei se você leitor do site de Claudemir Pereira sabe (se acompanha o site deve ter visto a notícia por aqui), mas realizamos as oficinas e o dia da cultura livre entre 21 e 23 de novembro, as oficinas na sede do DCE da UFSM, na Professor Braga (em cima da por hora fechada boate do DCE) e o dia da cultura livre na praça dos Bombeiros. Foram dois dias de cultura digital, hackativismo, binários, produção cultural, software livre, copyleft, direito autoral, crowdfunding e outras pautas más que abordamos nas oficinas. Também demos sequência ao mapeamentos de coletivos culturais do RS com cinco entrevistas com grupos locais – da TV OVO, Rinoceronte, Teatro Por Que Não?, Uivo do Coyote e Revista O Viés foram os escolhidos a partir da nossa metodologia flaneur de pesquisa.

No dia da cultura livre, mesmo com problema no nosso gerador (valeu pela ajuda com a energia, taxistas!), as atividades seguiram com energia noite adentro com a oficina/instalação “Soap Opera“, em que Fernando Krum mostrou seu controlador de vídeo interativo feito com arduíno. E, por fim, o Cineclube CCD, projetado numa tela montada entre as árvores da praça, que nessa edição contou com a exibição de “Remixofagia“, doc-remix produzido pela CCD SP, e “Junho – o mês que abalou o Brasil“, produção da TV Folha sobre os protestos de junho de 2013, que fez o público permanecer na praça até passado das 22h30 em pleno domingo à noite. Ouvimos uns “façam mais vezes!” que, sentimos, é uma pedida de mais eventos culturais nos espaços públicos da cidade. Então a bola agora continua com vocês, Santa Maria. Façam mais vezes!

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