Os argentinos estão “anestesiados” – por Carlos Costabeber
Voltei a Buenos Aires depois de um ano, e me deparei com uma situação ainda pior. Há 40 anos visito regularmente a Argentina, e mesmo sendo um analista amador, não tenho receio em elencar algumas das causas: (1) a (“eterna”) má gestão pública; (2) indústria sucateada; (3) elevadíssimos gastos com subsídios e consequente aumento no déficit; (4) insuficiência energética; (5) perda do crédito internacional; (6) preços das commodities em baixa; (7) falta de confiança nas instituições públicas; (8) imprensa cerceada; (9) controle pelo Governo do Parlamento e do Judiciário, entre outros.
Como consequência, temos: (1) inflação real de 50% ao ano; (2) crescimento negativo da economia; (3) reservas cambiais em queda; (4) restrição às importações, principalmente do Brasil; (5) câmbio paralelo muito acima do oficial; (6) controle total sobre a economia e da vida das pessoas; (7) desestimulo a poupança em pesos; (8) desilusão e falta de confiança nas ações do Governo; e (8) recessão e desemprego.
Mas por que cheguei a conclusão de que os argentinos estão “anestesiados”? (1) a classe menos favorecida, porque recebe muitos subsídios governamentais, como gás, energia elétrica e transporte público; e (2) a classe média, porque não vê no horizonte possibilidade de mudança, mesmo com uma eleição presidencial em 2015.
Depois de 70 anos de domínio peronista, a fórmula adotada está chegando ao fim. Só que o sucessor da Cristina Kirchner será um candidato apoiado pelo governo, o que deixa muitas dúvidas de que fará os duros ajustes necessários.
Para combater uma hiperinflação e o déficit público terão de ser feitos cortes radicais nos subsídios, que resultará em mais recessão, desemprego e redução nos investimentos. É um drama que algum dia terá de ser combatido. Será?????
É uma pena que um país que já foi o 3º mais rico do mundo na década de 20, autossuficiente em tudo, tenha chegado a esse ponto depois de décadas de gestões públicas fracassadas.
Para os brasileiros (que representam 70% dos turistas), só existe uma maneira de tirar vantagem dos preços em elevação: levar DINHEIRO VIVO, trocar no paralelo, e PAGAR TUDO EM PESOS; inclusive o hotel. Nessa semana troquei o real por 4,70 pesos (o peso argentino está tão desacreditado, que não é mais aceito nem mesmo no Uruguai). Sinto que a maioria dos brasileiros deixa de economizar, por inexperiência ou por medo de trocar dinheiro com os cambistas.
Mas enquanto a maioria dos argentinos está perdendo, imagino que muita gente esteja ganhando muito dinheiro (somente nesse jogo do câmbio negro, são milhões por dia).
Sinto escrever essas palavras, pois sou um apaixonado pela Argentina e pelo seu povo; gentil, culto e trabalhador. São essas pessoas que um dia terão de pagar a conta de tantos desmandos. Mais uma vez.
Pelo menos, Buenos Aires pode se orgulhar de não ser o Rio de Janeiro, dominado pelo narcotráfico, nem São Paulo, com crise no abastecimento de água.
Por fim, parece que o Governo Dilma se deu conta de que precisa mudar o rumo de sua gestão, pois caso contrário, caminharemos para o mesmo destino da Argentina.
A União Cívica Radical faz parte da Interncional Socialista. Partido Justicialista é o nome argentino do partido peronista, por lá não chamam de "peronista".
Kirchner reestruturou a dívida externa e conseguiu algum tempo, não resolveu os problemas.
A Argentina é o Brasil sem o plano Real. Simples. Agora tem um ministro da economia marxista-keynesiano. Tem tudo para dar "certo". E com toda esta confusão, se fizessemos uma auditoria no patrimônio da CK, será se diminuiu?
Desculpe…é Néstor Kirchner (não sei de onde tirei Carlos) e escrevi "pela" ministro, em vez de pelo ministro.
A crise argentina não vem de agora.
Desde o governo de Raul Alfonsín, da União cívica Radical, que a Argentina vem em crise, agravou-se com o governo neoliberal de Carlos Menem, do partido justicialista ( que é um saco de gatos, tendo setores de direita e de esquerda) e a dolarização feita pela ministro Domingos Cavallo.
A crise continuou com o governo Fernando de La Rua, da União cívica radical e continuou com os diversos interinos, até a posse de Carlos Kirchner (partido Justicialista), o único presidente que conseguiu melhorar a vida dos argentinos, após a ditadura militar.
Concordo que a Cristina Kirchner está perdida no cargo, mas essa crise remonta desde uma fracassada política dos governos Alfonsín e Menem. Política esta ortodoxa economicamente, seguindo os passos de uma malfadada reunião ocorrida em Washington, na década de 80 e aplicada nos países latino americanos, inclusive no Brasil, na década de 90.