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Uma nova lição – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

Meus queridos afilhados, discursos diferem em pouca coisa. O roteiro é quase sempre o mesmo: olhar para trás, fazer um balanço do que aconteceu, de como tudo começou e apresentar perspectivas de um futuro que virou presente… mas na essência, cada discurso, é diferente.

Há dez anos, igual a vocês, estive aí, ocupando o lugar de formando. Nas minhas ideias, a humilde intenção de mudar o mundo estava nos meus planos. Pensamento ingênuo, mas necessário.

Pois é, dez anos se foram, outros tantos virão. Imaginem vocês, dez anos depois do dia de hoje!?

Da primeira à ultima aula, muita coisa mudou, vocês são diferentes de quando chegaram. São diferentes um dos outros, mas, por certo, um laço faz de vocês iguais: o desejo de vencer o mundo. Por certo, não somos o que deveríamos, não somos o que queríamos, mas graças a Deus, não somos o que éramos. Mudamos!

Confesso, aquele ingênuo menino que sonhava mudar o mundo, pensou também ser fácil a vida de professor. Tamanho engano! Descobri que repassar o conteúdo é simples, mas não basta ensinar ao homem uma especialidade. É necessário que adquira um sentimento. Dos nossos maiores sentimentos, sou fã da felicidade. Hoje tomo pra mim um pouco da felicidade de vocês.

Em discurso que proferi a 20ª Turma, deixei a eles o desejo que levassem pela mão a felicidade. Um ano depois, diria a vocês que levem também a esperança. A esperança que renovamos ao ver em vocês a vontade de vencer.

Incluam também os sentimentos de lealdade, serenidade, igualdade, fraternidade, liberdade. Ah! Ia esquecendo, como ser alguém sem levar consigo o amor?

Meus afilhados, na sociedade que preza pelo que temos em detrimento ao que somos, vocês passam a ter a missão de mudar realidades, escrever uma história capaz de calar a mentira e libertar a justiça. O caminho não é fácil, tampouco tranquilo, mas meu discurso não está nas mazelas das carreiras jurídicas, sim na esperança que depositamos em vocês.

Muitos irão em busca dos concursos públicos, sonhando com a estabilidade financeira; não se estabeleçam, porém, como burocratas da lei, não façam da estabilidade sinônimo de acomodação. Anunciamos aos quatro cantos que o poder judiciário é moroso, mas saibam reconhecer o compromisso com a justiça e não apenas com a judicialização, saibam que o direito também cuida de vidas, desejos, anseios de pessoas que acreditarão em vocês … Sejam juízes, promotores, delegados, advogados… prometer o improvável é advogar pra si, distanciando-se da ética. Sejam capazes de abolir a ideia de que a justiça tarda, mas não falha; já disse Rui Barbosa, justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada.

Meus afilhados, meu maior desejo aos senhores, não está em nenhum livro, são coisas ditas no dia a dia, até banais… aquelas que pais repetem, como um mantra… E quando nos tornamos pais, passamos também a repetir aos nossos filhos. Na verdade amamos nossos filhos, por que neles está o nosso melhor.

Desejo a vocês os melhores sentimentos da vida, desejo coisas que eu gostaria que o meu filho Murilo levasse consigo, em especial a felicidade; mas não esqueçam: sejam leais aos sonhos, advoguem sempre ao lado dos valores éticos, sejam defensores da igualdade, cúmplices da liberdade, promotores da fraternidade e façam do amor um instrumento de paz.

Em tempos de caos, São Francisco nos deixou a Oração da Paz… E disse-nos ele:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz

Onde houver ódio, que eu leve o amor,

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,

Onde houver discórdia, que eu leve a união,

Onde houver dúvida, que eu leve a fé,

Onde houver erro, que eu leve a verdade,

Onde houver desespero, que eu leve esperança,

Onde houver tristeza, que eu leve a luz

Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado,

compreender do que ser compreendido,

Amar que ser amado,

Pois é dando que se recebe,

É perdoando que se é perdoado

E é morrendo que se vive para vida eterna.

Por certo, São Francisco é um santo para o nosso tempo.

O que talvez vocês não saibam, é que existe um verso omitido da prece da paz.

O verso perdido dizia: é esquecendo de mim que eu me encontro.

Eis um importante recado a todos; esquecer de si não é anular-se, mas sim ir além das próprias vontades, saber que o nosso encontro está na construção da paz, na defesa da verdade.

Eis o nosso tempo, sabemos que o tempo é muito lento para os que esperam, rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam, mas para os que amam, o tempo é eterno

Sejam eternos sonhadores e crédulos da esperança de mudar o mundo!

Dedico o discurso a quem deixou de sentar no centro da sala de aula, à dupla que fez da sua ausência um silêncio ensurdecedor nos corredores do prédio 13.

Meus afilhados, com a permissão de vocês, essa é também a turma do Marcelo e do Walter … longe dos nossos olhos, mas não dos nossos pensamentos.

Sejam meus afilhados, incondicionalmente felizes!

Muito obrigado!

Vitor Hugo do Amaral Ferreira

REFERÊNCIA: parte do discurso proferido na solenidade de colação de grau da 22ª Turma do Curso de Direito, do Centro Universitário Franciscano.

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