O combustível e seus males – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
Sem demagogia, já escrevi aqui sobre o assunto, e creio que é hora de retomar a pauta. Há diversas motivações e entremeios no que convencionamos a chamar de ocupação e protestos. Não faço juízo e valor a nenhum deles. Por certo, todos encontram pontos de equilíbrio e razões que lhe garantem a legitimidade para o manifesto.
Faço sim, a retomada do registro de que: 1) notável é o movimento estudantil que se ocupa de pensar a educação; 2) louvável é o movimento estudantil que se ocupa de lutar por igualdade e melhores condições; 3) triste é ver a educação não se pré(ocupar) com os dilemas que vive; e 4) vergonhoso é nos ocuparmos da inércia de quem deixou de fazer algo diante da função que ocupa.
Estamos estáticos assistindo a Petrobras afundar, o preço dos combustíveis aumentar, na sequência vem a suba dos alimentos, os serviços, o transporte público. A sociedade que, por vezes, ocupa-se de não se ocupar das suas mazelas também é prejudicada, passa a ser conivente aos descasos com a prestação do serviço público.
Deixamos a história julgar os fatos da contemporaneidade. Quem sabe, ainda que eu me arrisque a acreditar em ideais, as grandes conquistas se deram a partir dos movimentos sociais.
Ainda creio que os motivos que fazem pessoas se organizarem por melhores condições são justos quando, lamentavelmente, a saúde é negligenciada, as salas de aula são carentes de professores, a dignidade nos é roubada.
Antecipo a pauta! Sem nenhuma genialidade, daqui uns dias estaremos discutindo o aumento das passagens do transporte público em Santa Maria. Antes disso precisamos acordar para o que acontece no Brasil, os protestos de julho de 2013 precisam ser retomados. Por bem menos já se fez bem mais.
Discutir o transporte público não é pauta recente, tampouco passível de solução em um apanhado de dias/meses. Reconheço a pertinência de se questionar valores, planilhas, meios e entremeios de se apurar custos que correspondam às passagens. Pois bem, o assunto é instigante, o que permite moldá-lo em diversos contextos.
Como já dito por aqui, vamos aos pontos cruciais! Em primeiro plano, saiam os palpiteiros de plantão; junto deles todos aqueles que se alimentam da desgraça, os que preferem o caos à ordem. Agora, façamos os seguintes apontamentos, e façamos bem feito:
– O estado das paradas;
– O fluxo em ruas e avenidas que passam ônibus;
– Qualidade dos ônibus, capacidade e lotação;
– Cumprimento e informação de horários;
– Ônibus reserva em dias de maior movimento;
– Respeito à acessibilidade e aos idosos;
– Informação sobre funcionamento de serviços;
– Estudo de alteração de rotas e trafego em ruas e avenidas principais;
– Ponto centralizado de embarque e desembarque;
– Linhas diretas aos bairros mais afastados;
– Planilha de custos, preço da passagem e licitação;
– Reorganização do Conselho Municipal de Transporte.
O importante é evoluirmos no debate. Os estudantes logo estarão nas ruas em eco – você aí parado, também é explorado! – Eu queria ver mais protestos, mais cidadãos nas ruas. Corremos o risco, antes do término da leitura deste texto, que a gasolina tenha subido novamente. Você aí parado…
Para o Brasil ter um transporte de primeiro mundo, a população tem que ter renda de primeiro mundo e educação de primeiro mundo. Alguém tem que pagar a conta.
O Brasil era para ser capitalista, mas como tudo por aqui, é só para inglês ver.
Sobem os combustiveís. Governo malandramente divulga preço nas refinarias. Procom notifica sindicatos e notifica postos por aumento abusivo. Baixa a poeira. Esqueceram que haviam distribuidoras no meio. Esqueceram que o ICMS é cobrado com um preço presumido, geralmente mais alto. Frete não se fala.
Sobe o custo de vida, que vai bate nos salários (uns 40% do preço da passagem). Protestos. Passagem não pode subir. Empresário que absorva a maior parte (diminuindo a margem) e a prefeitura que subsidie como puder. Lá no fim, o empresário que busque o equilíbrio economico-financeiro e talvez ganhe um precatório.
Por estas e por outras que aparecem as licitações desertas. E o poder público gosta de ir para a mídia e dizer que é culpa de um cartel que ninguém sabe se existe ou se é mentira descarada. Afirmações do tipo "estão ganhando muito" não faltam. Insegurança jurídica maior é difícil.
Alternativa para o empresário? Abandonar o transporte. Mudar de ramo. Final da década de 80 aconteceu na comuna. Empresa que fazia a linha para a UFSM fechou as portas. Umas duas semanas sem aulas. Surge o consórcio. E se não tivesse sido constituído? Os alunos teriam que ir a pé para Camobi?