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Democracia, manifestações sociais e desejos – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa

Com as manifestações de junho de 2013 e a saída às ruas no Brasil, agora em março de 2015, muitos afirmam que a sociedade brasileira acordou. Foram, felizmente, milhões de pessoas, em sua maioria, debutando em participação de movimentos coletivos. Só que é equivocada a premissa que a sociedade em geral “desembernou” de seu sono em berço esplendido.

Os brasileiros foram para as praças e ruas defender a legalidade na fatídica e obscura década de 60. Mesmo se configurando como anos de chumbo, com milhares de prisões e mortes, estivemos nas ruas exigindo Democracia, justiça social, controle social das instituições políticas e políticas de Estado que dessem liberdade e vida digna para todos.

Defendíamos de forma fervorosa, de peito aberto e nas ruas, sem medo da repressão, o trabalho, o trabalhador e a sociedade do trabalho. De forma ideológica, nos transformamos em milhões e, derrubamos o governo militar e demos cabo aos nefastos porões da ditadura e terminamos com os privilégios e os silenciamentos dos bajuladores dos que governavam a base da opressão, dos canhões e da tortura de brasileiros que defendiam um país livre do sustentáculo repressivo americano, mais justo e igualitário.

Defendemos, através dos movimentos sociais, a reforma urbana para dar direito a casa para quem não tinha onde morar e reforma agrária para distribuir terra para quem queria produzir. Fomos perseguidos e nossos nomes, hoje como parte da trágica História política de nosso país, constam na lista de persona non grata ao sistema totalitário que, pela força, queria apagar nossa ideologia que embasava a construção de uma sociedade não egoísta e formada por seres humanos generosos.

Nós sempre estivemos nas ruas em ação, vigilantes e na defesa do direito ao trabalho, ao salário digno e na busca, acirrada, da superação de todas as formas de discriminação e exclusão social, seja ela por pertencimento a classe social, etnia ou escolha de sua opção sexual. Para a desgraça das elites, seus ideólogos, os alienados e analfabetos políticos que os assegurava sustentação foi eleito um operário para governar o Brasil. Rompemos com 500 anos de uma visão política e social escravocrata.

Com todos os erros e contradições cometidos por esse novo governo, com gente oriunda da classe trabalhadora no poder, nunca se aplicou tanto em Educação, investiu-se tanto no processo produtivo e realizou-se tamanha redistribuição da riqueza. Sabemos claramente que é um fato desastroso o “mensalão” e a roubalheira na nossa mais poderosa estatal, a Petrobras, mas, também, em nossa república nunca a Polícia Federal e o Ministério Público trabalhou tanto e prendeu tantos políticos e empresários apaixonados pelo patrimônio público.

Quem acordou foi aquele que queria ter uma “escrava” domestica, mas não possui dinheiro para pagar, agora, salário justo e direito trabalhista. Foi para rua o analfabeto político que quer de volta o país do tanque de guerra e do coturno. Foram para as ruas as pessoas que nem a minha linda e senhora colega professora que acha um descalabro a sua secretária ter em casa uma televisão 42 polegadas, uma moto e um carro na garagem.

Lacan nos ensinou que o desejo é o desejo do outro. No campo social, as pessoas foram para rua berrar contra o término de seus privilégios, e defender seus desejos egoístas de apenas eles possuírem vida digna e acesso a produção da riqueza de nosso país. Nós fomos e sempre iremos para as ruas em defesa do trabalho, salário digno e a distribuição da riqueza para todos que a produzem.

Ou eu estou míope, ou na verdade não existia nenhuma faixa exigindo generosidade, redistribuição da riqueza, Educação de qualidade para todos e uma vida qualificada para o povo brasileiro. Perdoem-me o trocadilho, mas as ruas, no dia 15 de março, espelharam uma multidão de narcisistas, em contrapartida, nós manifestamos, nas ruas, nosso sonho e desejo de igualdade. Que bom que os alienados acordaram e descobriram o mundo da rua. Que maravilha que os analfabetos políticos se deram conta que possuem direito de protestar e aprenderam exercitar a cidadania.

Só que essas pessoas que estavam em processo de hibernação devem aprender que Democracia não pressupõe a escolha periódica entre as elites para, através do mundo da política, definirem as prioridades e os rumos de nosso país. Com a sapiência que lhe era própria, Sófocles (V a.C.) afirmou: apenas o tempo revela o homem justo; basta um dia para pôr a nu um pérfido.

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3 Comentários

  1. Pseudônimos camuflam a descarada falta de elegância, cultura e coragem de alguns "Bobos da Corte". Desqualificar o outro é bem característico de seres racionais que não possuem conteúdo para fazer uma contraposição elegante e ideologicamente referendada. Clarice Lispector ensinou: todos temos medos bobos, mas devemos ter uma coragem absurda! Mas isso é para pessoas com a alma leve e comprometida com o bem de todos e não para pragmáticos egoístas…

  2. Derrubaram coisa nenhuma. Gostam de mudar a história para se promover. Geisel assumiu e disse que faria uma abertura lenta, gradual e segura. Fez o sucessor e um civil só assumiu a presidência por eleição indireta, contrariando a vontade das manifestações da época.
    Lacan foi chamado de "divertido e auto-consciente charlatão" por Noam Chomsky. Tinha o costume de misturar topologia (campo oriunda da geometria e teoria dos conjuntos) com psicanálise. O único problema é que a matemática que usava só existia na cabeça dele.
    O resto não vale um comentário.

  3. muito bom disse tudo ou quase, faltou que um bando de derrotados do PSDB inflaram o protesto contra corrupção e esqueceram o próprio rabo…

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