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A simplicidade e a sabedoria de grandes mestres – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa

Ataliba, meu amado e amoroso pai, possuía a alma expandida, leve, delicada e do tamanho da humanidade e, para nossa felicidade, suas mãos eram dadivosas. Nunca, ninguém foi capaz de presenciar o Ataliba discriminar, maltratar, ofender ou rejeitar alguém. Meu pai não fazia discurso amoroso, mas sua prática social era uma manifestação tácita de um coração que continha somente afetividades, bondade e amor.

O Ataliba fazia-se um sábio ao tratar das relações entre a terra e plantas. Agricultor e jardineiro da mais alta qualificação e, com todo seu vasto conhecimento construído a partir das necessidades de sua sobrevivência e de seus familiares. Penso que, enquanto mexia e escarafunchava a terra para, liricamente, fazer brotar vida, de forma ímpar suavizava sua alma e, com beleza e harmonia, praticava a bondade e, de forma singela, foi no devir da vida semeando as mais belas e intensas formas de amar. Como não pertencia à tradição privilegiada das sesmarias, em qualquer pedaço de chão produzia a fartura para nossa sagrada mesa.

O meu velho pai era apaixonado por rosas. Em todas as hortas que fez sempre reservava um cantinho para um canteiro de roseiral. Acho que meu velho constituía-se num empírico poeta e sua relação com as rosas vinha isso demonstrar. Sabia ele que a haste das rosas possuem espinho, mas seu encanto cromático sempre rima com seu sedutor aroma.

Isso tudo aportou em minha memória afetiva quando refletia sobre a aposentadoria, na UFSM, de dois grandes companheiros de trabalho. Dois sábios e grandes mestres na acepção verdadeira da palavra. Com muito carinho vieram em meus pensamentos a minha privilegiada convivência com Clovis Renan Guterres e Reinoldo Marquezan.

Almas leves e amorosas que com seu fazer histórico e ofício de Mestre auxiliaram na construção de seres humanos generosos. Seres que sempre levaram muito a sério os estudos e com espírito crítico que, como todo sábio, faziam de seu saber, de sua prática social e da sua simplicidade a propagação da tolerância. Clovis e Marquezan não andavam ruidosamente pelos corredores do Centro de Educação, isto sim, flanavam pelo nosso mundo do trabalho sempre com um cordial sorriso no rosto e, de forma solícita, abertos para um diálogo inteligente e fraterno.

Assim como meu amado pai, que remexia com carinho na terra para produzir a estética vida biológica, Clovis e Marquezan, com seus saberes e fazeres da Docência, influenciaram a alma de muita gente para criar uma vida social mais justa, menos egoísta e digna de ser vivida para todos. Tenho prazer de dizer que meu ser histórico carreia muita influência do Ataliba, do Clovis e do Marquezan. Estes Mestres tolerantes e pacificadores demonstraram e continuam demonstrando, com seus fazeres, que sabedoria não rima com arrogância.

O Clovis foi um dos aguerridos militantes que ajudou construir nosso sindicato e tornou-se seu primeiro presidente. O grande poeta Lawrence filosofou: “As flores atingem a sua ‘floridade’ – e é um milagre. Os homens não atingem a sua humanidade – e é uma pena.” O Ataliba, O Clovis e o Marquezan foram sábios propagadores da afetividade e do amor.

No jardim da vida, os meus Mestres, assim como os pássaros, as abelhas e as borboletas são semeadores de uma vida com um belo conteúdo estético e humanizado. Cronos dará um longo tempo para esta nova vida de aposentadoria para meus amigos Clovis e Marquezan e farão de seu tempo de ócio criativo o espraiamento de uma forma de vida amorosa.

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2 Comentários

  1. Comovente o texto de Luiz Carlos.Senti saudades dos " Atalibas" que eu conheci ao longo da minha vida e dos meus queridos Clóvis e Marquezan – gente que nos dá a esperança de mais alteridade e solidariedade,de mais simplicidade,leveza e alegria.

  2. Luiz Carlos. Somente hoje,25 de abril, tomei conhecimento do teu texto que muito me sensibilizou. Um grande abraço. Clovis Guterres

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