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Boca triste – por Bianca Zasso

biancaA semana começou pesada para os admiradores do cinema brasileiro. Perdemos o ator, produtor e diretor Claudio Cunha, vítima de infarto. Nos últimos anos, ele era mais conhecido por interpretar no teatro uma das criações do escritor Luis Fernando Veríssimo, o Analista de Bagé. Mas muito antes de bater recorde de público nos palcos do país, Cunha foi um dos nomes do cinema Boca do Lixo de São Paulo. Amada Amante, Snuff – Vítimas do Prazer e Oh! Rebuceteio são apenas três bons exemplos de seu trabalho.

Suas parcerias com diretores como Carlos Reichenbach e Jean Garrett renderam alguma das melhores produções do período da pornochanchada. Se você, prezado leitor, for integrante daquele grupo de torce o nariz para esta parte da história do cinema brasileiro, peço que sua leitura pare por aqui. Nesta coluna não há espaço para desculpas esfarrapadas do tipo “filme de mulher pelada” ou “não há conteúdo nestas produções”. Esta que vos escreve iniciou sua trajetória de estudos sobre o cinema da nossa terra assistindo praticamente todos os filmes da Boca do Lixo que estavam ao seu alcance. E só depois colocou as mãos e os olhos no tão aclamado Cinema Novo de Glauber Rocha e sua turma.

Amada amante tem nudez e tem sexo. Mas são detalhes. Antes de qualquer coisa, é a história de uma família do interior que se despedaça diante na nova realidade na cidade grande. As tentações são muitas e Cunha apresenta cada uma delas com o teor erótico típico do gênero. Eram tempos de censura e a presença de atrizes como Sandra Bréa mostrando o corpo na telona não deixavam de ter um gosto de protesto.

Não é novidade que os censores, além do teor político e das críticas contra o governo, também gostavam de mandar sumir dos negativos cenas consideradas “imorais”. Um bando de puritanos necessitados de terapia que não conseguiam lidar com a imagem de pessoas fazendo uma das coisas mais comuns do mundo: sexo. Cunha sabia disso e transformava o explícito numa crítica aos filmes “cabeça” que tanto agradavam a crítica. Foi as últimas consequências, ganhou desafetos, mas teve o público ao seu lado.

Claudio Cunha era acessível, disponibilizava seus trabalhos na internet e interagia com os fãs nas redes sociais e, o principal, nunca escondeu sua passagem pela Boca do Lixo, a pornochanchada e os filmes de sexo explícito, como fazem alguns de seus contemporâneos. É por atitudes assim, além do talento para o cinema, que Claudio Cunha fará uma falta danada. Um cara autêntico num mundo onde pose vale mais que história.

Acesse https://www.youtube.com/user/CunhaClaudio/videos

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