Cândido ou o Otimismo – por Antonio Candido Ribeiro
Sempre me jactei (jactar-se, é legal, não?) de ser um otimista de carteirinha – para usar uma expressão tão conhecida e gasta pelo uso que não deixa dúvida sobre seu significado. Ou, como diria o coronel Odorico Paraguaçú, impagável e satírica personagem de Dias Gomes, um otimista “militante, praticante e juramentado”.
Sempre acreditei, por exemplo, no futuro de nosso país. Não em um futuro quimérico (quimérico? Está bem, fica assim!), irrealizável no curto ou no médio prazo. Não, nada disso. Sempre acreditei em um futuro que eu – e não apenas meus filhos e netos – poderia vivenciar, usufruir, depois de suar sangue, como milhões de patrícios, na sua construção, construção esta alicerçada em sonhos (ah, a quimera outra vez!) que, há muito, sonhamos juntos, coletivamente.
Aliás, sonhos que são sonhados coletivamente, ao contrário daqueles que sonhamos solitária e egoisticamente, tendem a se transformar em palpável realidade, pois esta, na maior parte das vezes, será consequência da disposição anímica que tivermos para criá-la.
Bueno, divagações à parte, “tipo assim”, voltando ao mundo real, à vida que cobra, que impõe, que humilha, que tripudia, que cria necessidades, além das básicas, e delas não abre mão, saca mano?, me deparo com uma insegurança – e vejam que tive muitas e a todas enfrentei –, que é nova e de certa forma me assusta, a mim que, com a idade que tenho, já não deveria me assustar com certos fantasmas.
Pois então, voltando à vaca fria, é isso que me assusta e angustia: a insegurança nascida da perda do otimismo que eu pensava ser inquebrável. Talvez, admito, meu otimismo seja (fosse) demasiadamente cândido, no melhor sentido voltairiano (de François Marie Arouet, que passou à História como Voltaire, uma das figuras do Iluminismo francês, e escreveu, entre dezenas de obras, o excelente e satírico Candide, ou L’Optimisme).
Bem, quem sabe este texto seja apenas um desabafo circunstancial, decorrente de uma segunda-feira pesada, de muito trabalho e escassa luz no fim do túnel, e amanhã e eu acorde otimisticamente recuperado e pronto para enfrentar mais um dia, mais uma semana, mais um mês, um ano, mais, sei lá, o resto da vida, brandindo minha inabalável certeza de que temos sim um risonho futuro pela frente e que esse futuro, logo ali, será um pujante presente.
Quem (sobre)viver, verá!
Otimismo é só uma reação bioquímica detro do cérebro. Nada que uma fluoxetina não conserte.
Brasil país do futuro, pois é, há os idealistas que acham que os desafios podem e devem ser enfrentados da melhor maneira possível e há idealistas que só desejam provar que um conjunto de idéias está certo. Se o mundo muda e as idéias não, é isto o que a casa tem para oferecer.