Santa MariaTragédia

KISS. Elas é que sabem. E ninguém mais. Ninguém! Sim, são as “mães de janeiro” que conhecem sua dor

Maria Aparecida, Ligiane e Jaqueline: “vamos mover céu e terra para que a corrupção, a ganância, a omissão pague pelo que fez, doa a quem doer”
Maria Aparecida, Ligiane e Jaqueline, mães de janeiro: “vamos mover céu e terra para que a corrupção, a ganância, a omissão pague pelo que fez, doa a quem doer”

Se há algo que este editor sempre deixou claro é que, em relação ao episódio da Kiss, ele, mais do que em qualquer outro tema, tem lado. Muito cristalino. E, com as limitações possíveis e algumas até meio impossíveis, procura trazer as informações do ponto de vista das vítimas. E de suas famílias. Ponto.

Dito isto, é tocante o depoimento colhido pelos meninos (no melhor sentido do termo, por favor) da revista Viés. Que conversaram com três das “mães de janeiro”. Vale a pena conferir. Não para buscar explicações. Não, nada disso. Nem para entender – que isso só elas sabem da dor que sentem e do que pretendem, que não é outra coisa senão JUSTIÇA. Mas é preciso ler para compreender. No mínimo.

A seguir, com um linque para a íntegra lá no final, você tem o material assinado por Dairan Paul, Felipe Severo e Nathália Costa, com foto de Iuri Borowski. A reportagem tem como ponto de partida o encontro, há poucos dias, que reuniu familiares das vítimas da Kiss com os das que vivenciaram a tragédia da boate Cromañon, de Buenos Aires. Acompanhe:

Mães de Janeiro: “Não estamos pelos que foram, mas pelos que ficaram”

Jaqueline Malezan, Ligiane Righi da Silva e Maria Aparecida Neves não desistirão de lutar. Integrantes do grupo Mães de Janeiro, as familiares de vítimas da boate Kiss voltaram revigoradas após um encontro na capital da Argentina. As três mães e outras 30 pessoas que saíram de Santa Maria participaram de um seminário em Buenos Aires para discutir formas de prevenir tragédias. Lá, encontraram parentes de vítimas do incêndio na boate Cromañón, que tirou a vida de 194 jovens. O acontecimento completou dez anos em 2014 e destituiu o prefeito de Buenos Aires à época, Aníbal Ibarra. Dentre as pessoas condenadas no caso, estão integrantes da banda Callejeros, que se apresentava na noite do incêndio, e o proprietário da boate, Omar Chabán, falecido recentemente no dia 17 de novembro.

O processo jurídico por trás das duas tragédias é uma das diferenças apontadas pelas mães, uma vez que no caso Kiss ainda não há condenados. A outra é a solidariedade, segundo Jaqueline: “lá o povo todo apoia até hoje”. Por aqui, dia a dia, incansavelmente, estão os familiares das vítimas acompanhando o caso. Se outrora os motivos eram 242, os objetivos agora parecem ainda mais claros. “Todo mundo fala que a gente não quer descansar. Não é isso: a gente não quer que se repita”, esclarece Ligiane.

 revista o Viés: Como surgiu a ideia de fazer esse seminário reunindo tanto os familiares do caso da Kiss como o de lá?

Jaqueline Malezan: A ideia do congresso foi a seguinte: seu Aderbal Ferreira [presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes de Santa Maria] é que foi o convidado. Ele seria palestrante em um dia, e aí decidimos na reunião: quem sabe a gente não acompanha e vão alguns pais? E aí juntamos todo mundo, fizemos janta para arrecadar dinheiro e convidamos algumas pessoas que não eram familiares, como sobrou lugar. Deu 33 pessoas.

 Qual era o foco da discussão do seminário?

Jaqueline: Na verdade, a gente assistiu a abertura e duas palestras. Nosso advogado e o Paulo, um pai de São Paulo que também era um dos palestrantes, eles ficaram o congresso inteiro porque eram nossos representantes. Nós fomos mais por solidariedade, para conhecer eles [os familiares das vítimas de Cromañón], para retribuir a visita deles que também estiveram aqui no nosso congresso.

Maria Aparecida Neves: Mas pelo que eu entendi, [o objetivo do seminário] era mais por justiça. A força que eles [os familiares] nos deram para nós não desistirmos de lutar por justiça… Porque vai fazer dez anos que eles têm o memorial. Eles estão sempre lutando por justiça. Então pra nós isso foi muito importante, porque tem horas que a gente esmorece, não quer saber mais de nada. E a gente conheceu as Mães da Praça de Maio [movimento de mães que buscam seus filhos desaparecidos na ditadura militar argentina] lá. Uma senhora com 72 anos, mais ou menos, há 38 anos não acha o filho dela, não sabe se tá vivo ou se tá morto, e tá lá firme lutando na praça por justiça. E aquilo foi uma injeção de ânimo pra nós, porque a recém vamos fazer dois anos. Ainda tem muita água pra rolar embaixo da ponte, como se diz, e às vezes dá vontade de desistir. E com o que eu vi lá, eu não vou desistir de lutar. Enquanto a justiça não cumprir, eu vou lutar. Nem que seja meia dúzia de mães, nós não vamos desistir.

Ligiane Righi da Silva: Essa senhora de 72 anos deixou um recado bem dado. Ela dizia: peleen [batalhem]. Não desistam. Então aquilo, lutar sempre. E elas [as mães das vítimas de Cromañón] têm aqueles gritos que dizem: nossos filhos, presente. Pra que nunca se esqueça. Se nós estávamos meio enfraquecidas, um pouco cansadas, aquilo fortaleceu de uma forma que viemos com todo o gás. Elas estão há dez anos na nossa frente. E a conversa delas, a forma de conversar com nós, a gente entendeu. Embora a língua não seja a mesma, a dor é a mesma. O que elas conversavam, a gente presenciou, a gente que viveu aquele 27. Porque muitas vezes as pessoas falam pra esquecer, pra deixar passar, pra descansar. Mas eu, que vivi aquele domingo, eu, que acordei às 5h da manhã para às 5:30h, ter certeza que a minha filha estava morta… não tem como esquecer. É isso que, de uma forma ou de outra, faz com que a gente lembre o porquê de estarmos aqui. Aí todo mundo fala que a gente não quer descansar. Não é isso: a gente não quer que se repita. Eu jurei no caixão da minha filha que não ia acontecer com a irmã dela o que aconteceu com ela. E é pela irmã dela, que tá viva, que eu tô lutando. Se a sociedade, principalmente a santamariense, entendesse que nós estamos lutando para que não aconteça, para que não se repita, estariam todos nos apoiando. Nós não estamos pelos nossos que foram, nós estamos pelos que ficaram. E com certeza os nossos têm que ser lembrados e nunca esquecidos – nem que seja por nós…”

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4 Comentários

  1. Por incrível que pareça os responsáveis por essa tragédia anunciada, ainda estão soltos, eu no lugar deles, sinceramente teria pedido para a polícia me prender, e ficaria preso o tempo que a justiça determinasse, isso seriao mínimo que eu poderia fazer para tentar aliviar o fardo da minha consciência e da minha culpa.
    mas não os envolvidos, cada qual quer pular fora de suas responsabilidades. O Prefeito, se tivesse vergonha na cara, teria renunciado e se colocado a disposição da justiça. Mas o ser humano é imprevisível, em primeiro momento todos querem se safar. Os donos da boate têm que ser responsabilizaos e punidos de forma exemplar, uma tragédia dessa proporções não pode passar incólume. Moro aqui no centro de Santa Maria, naquela madrugada não consegui dormir por causa dos barulho das cierenes, fiquei atônito, pois não sabia o que estava acontecendo. As 7h da manhã quando liguei o meu computador foi que fiquei sabendo do ocorrido, daí liguei a TV. Mesmo que eu não tenha perdido nenhum parente nessa tragédia, eu e minha familia, choramos muito, pois nos colocamos no lugar das dezenas de pais que haviam perdido seus filhos,com certeza é uma dor sem fim. Rezamos e continuamos rezando por todos, por aqueles que partiram e principalmente por aqueles que ficaram, pois somente Deus em suam infinita bondade poderá lhes dar um pouco de sentido as suas vidas. Vocês não pode DESISITIR JAMAIS, ninguém vai trazer os vossos filhos de volta, mas pela memória deles e para que tragédias como essa jamais se repitam aqui no nosso país, vocês devem continuar lutando e lutando até todos os responsáveis serem punidos. Fiquem todos com Deus. Abçs

  2. @oaranhanegra o gef ñ é um ser humano /// dizer o q diz de 242 mortes é pq ali ñ existe vida /// só existe política /// a pior política /// desprezível escrever o q ele escreve /// mesmo q escondido para alguns /// irracional /// digno de pena /// mas humano ñ é /// quem sabe quem ele é /// já está atravessando a rua para ñ respirar o mesmo ar /// e gente próxima lendo o q escreve também /// eu de itaara para o mundo dentro ou fora do eixo /// gef o …

  3. "Não está claro se existe alguém com legitimidade para falar em nome de todas as famílias…."
    Prometeu, que iluminou a Humanidade..Poderá perguntar. O que não esta Claro..246 vitimas famílias destroçadas. Isto e mais aquilo
    convenhamos…..

  4. Incendio da boate argentina ocorreu em 30 de dezembro de 2004. O julgamento começou em 19 de agosto de 2008 e terminou quase um ano depois.
    Tem mais gente esperando por justiça na comuna. Respeito é uma via com duas mãos.
    Apresentar o ponto de vista das famílias das vítimas não faz as controvérsias sumirem.
    Não está claro se existe alguém com legitimidade para falar em nome de todas as famílias. Não creio que exista alguém do lado contrário ao das famílias, só que algumas pretensões tem que, no mínimo, ser discutidas.
    Sempre que falam no tal memorial (com dinheiro público, óbvio), fico imaginando qual é o tempo de espera para fazer alguns exames pelo SUS na cidade. Endoscopia, tomografia…

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