DOMINGOS. Comércio aberto? Entidades do setor querem e 300 lojistas são convidados a se manifestar
Por MARCOS FONSECA (texto – e foto do Calçadão)
Em momentos de crise, é preciso trabalhar mais. Essa regra básica já é bem conhecida, mas tem poucos seguidores em Santa Maria. Basta dar uma volta no Centro da cidade em qualquer domingo para ver lojas, supermercados, confeitarias, cafeterias e até shopping de portas fechadas. No entanto, no que depender de entidades lojistas locais, essa realidade poderá mudar em breve. Uma proposta em discussão no setor prevê que o comércio do Coração do Estado passe a funcionar aos domingos para servir como um novo modelo de turismo na região: o de compras.
O motivo de o tema estar em pauta neste momento é a crise econômica do país, que vem provocando quedas nas vendas do comércio e fechamento de postos de trabalho. Quem coordena a proposta é a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato dos Lojistas (Sindilojas). O presidente do Sindilojas, Ademir José da Costa, é categórico: é preciso agir, e rápido, contra a crise. “Temos de fazer alguma coisa”, diz.
Um levantamento com cerca de 300 lojistas da cidade deve mostrar, ainda nesta semana, se eles querem ou não a abertura do comércio no primeiro domingo de cada mês. Será feita a vontade da maioria. Conforme Costa, se prevalecer a disposição de abrir, a meta é que, com o tempo, se passe a funcionar dois domingos, depois três, até que se crie a cultura das compras nos finais de semana. “É um investimento a longo prazo”, afirma Costa, que também é vice-presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS).
O Sindilojas mantém negociações com o setor dos supermercados, que há mais de sete anos não abrem mais aos domingos. Costa garante que há boa recepção à ideia. Também há conversações com imobiliárias e outros setores. O objetivo da medida é fazer com que os milhares de consumidores da região passem a fazer compras no município. No caso dos supermercados, seria a volta desses clientes de mais de 30 cidades da região que, com o fechamento dos estabelecimentos, deixaram de vir passear em Santa Maria aos domingos e de fazer seus ranchos.
O presidente do Sindilojas explica que Santa Maria poderá seguir o exemplo de cidades turísticas, como Gramado e Canela, que lucram com os turistas nos finais de semana e feriados. Nessas cidades da Serra gaúcha, as lojas abrem aos domingos. “Por que não criar essa cultura de as pessoas virem para cá?”, questiona.
Vendas estagnadas e desemprego em elevação
A proposta da CLD e do Sindilojas é reforçada pelos números. Conforme o setor, as vendas do comércio santa-mariense ficaram estagnadas em 2014. Alguns setores chegaram a amargar retração de 40% nos negócios em relação a 2013.
O resultado desse cenário de instabilidade é o crescimento do desemprego. O ano que passou foi o pior desde 2010 (veja nos números abaixo). Enquanto entre 2010 e 2013 o comércio teve saldo positivo de criação de empregos formais (com carteira assinada), 2014 se encerrou com retração de -10 postos de trabalho. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O saldo é verificado a partir da diferença entre trabalhadores admitidos e demitidos. Se há mais contratações formais o saldo é positivo, e vice-versa.
E 2015 começa com o pior desempenho para o emprego no comércio de Santa Maria dos últimos cinco anos. Embora, por tradição, o número de demissões em janeiro e fevereiro seja maior do que o de contratações por ser um período de férias e menor movimento nas lojas, em 2015 o desemprego atinge números recordes. O acumulado nos dois primeiros meses deste ano, segundo o Caged, foi de fechamento de 307 postos de trabalho no comércio local. Em 2014 haviam sido fechados 69 vagas. O pior ano havia sido 2013, com 213 postos de trabalho a menos.
“É a maior crise do setor dos últimos 20 anos”, aponta Ademir da Costa. Ele ressalta que a abertura nos domingos anteriores a datas importantes, com os dias das Mães, dos Pais e da Criança, não vem surtindo efeito. “Se continuarmos com o mesmo modelo, teremos dificuldade”, alerta.
O presidente da CDL, Jacques Eskenazi Neto, destaca que a abertura do comércio aos domingos é uma medida para o bem da cidade. “Não é nada de sacrifício, e o trabalhador pode ganhar mais”. O dirigente acredita que, com o funcionamento aos domingos, as lojas terão de contratar mais pessoas, o que pode frear a queda na geração de empregos.
A proposta das entidades já é realidade em dois shoppings do município. No Royal Plaza e no Monet as lojas já abrem aos domingos à tarde há bastante tempo.
A evolução dos empregos formais
Compare a variação no número de empregados e desempregados no comércio de Santa Maria entre 2010 e 2015, segundo o Ministério do Trabalho. Os dados contabilizam trabalhadores com carteira assinada. O saldo é a diferença entre admitidos e demitidos. Se há saldo positivo, é porque houve mais contratações do que demissões no período.
Acumulado nos meses de janeiro e fevereiro
– 2010
Saldo: 0
– 2011
Saldo: -36
– 2012
Saldo: -151
– 2013
Saldo: -213
– 2014
Saldo: -69
– 2015
Saldo: -307
Acumulado nos 12 meses do ano
– 2010
Saldo: 1.143
– 2011
Saldo: 859
– 2012
Saldo: 459
– 2013
Saldo: 591
– 2014
Saldo: -10
Fonte: Caged (Ministério do Trabalho)
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