Irmandade, substantivo feminino – por Liliana de Oliveira

“Irmandade é um substantivo feminino que define, entre outros significados, a relação de parentesco entre irmãos” (*). Muitas vezes nos referimos à irmandade quando queremos falar dos nossos irmãos de sangue, outras vezes usamos o termo querendo nos referir a algum grupo ou associação de ordem religiosa e outras vezes queremos falar dos laços fraternos que estabelecemos entre irmãos nascidos de ventres diferentes. Irmãos nascidos de ventres diferentes e que os elegemos ao longo da vida como aqueles com os quais devemos partilhar as coisas mais importantes e íntimas da nossa vida.

Sempre penso no contexto de aparecimento da noção de irmandade. Durante muito tempo acreditamos que éramos diferentes e que por sermos diferentes deveríamos ser tratados de modo desigual. A noção grega de justiça defendia que o justo seria tratar iguais como iguais e desiguais como desiguais. Tratar mulheres como mulheres, escravos como escravos e cidadãos como cidadãos. Sendo os últimos os melhores em inteligência e conduta ética. Sendo eles portanto, aqueles que deveriam ser tratados com honrarias e que deveriam conduzir a cidade nos interesses da cidade.

Notamos que aqui não temos a noção de Irmandade. Dizer que não temos na Grécia Antiga a noção de irmandade não significa dizer que não haviam ali laços de amizade, também não significa dizer que não estavam preocupados com os demais ou com questões éticas. Muito pelo contrário, o mundo antigo era fortemente marcado pela eticidade, pelos laços de amizade e comprometimento com o coletivo.

Com o advento do cristianismo, passamos a acreditar na irmandade assegurada pela igualdade. Igualdade garantida pelo fato de sermos todos criados por Deus. Se somos todos filhos de Deus então passaríamos todos a sermos irmãos.

Não vou aqui falar da noção de irmandade religiosa. Vou me restringir a falar de irmandadeenquanto as relações que estabelecemos entre os irmãos sanguíneos e os não sanguíneos eleitos pelos laços de amizade. Primeiramente, quero falar das relações entre nós e nossos irmãos de sangue. Irmãos que compartilham o mesmo ventre, mas que não escolhemos.

Por alguma razão que talvez desconheçamos nos encontramos todos dividindo a mesma casa, convivendo, brincando, brigando, entre outras coisas. Os irmãos nos são fundamentais à medida que com ele nos instrumentalizamos para a vida. Com eles aprendemos a brigar, disputar espaço, disputar afetos, competir, amar, entre tantas outras coisas. Acredito que todos aqueles que não têm irmãos se constituam de modo completamente diferente daqueles que têm.

Saliento, entretanto, que aqui não há nenhum julgamento de valor quanto a ser pior ou melhor ter irmãos. Apenas digo que com irmãos nos constituímos como sujeitos diferentemente do que nos constituiríamos sem eles.  Entretanto, mais importante do que os irmãos de sangue, são nossos amigos com os quais estabelecemos vínculos fraternos que definem melhor o que seja esse substantivo feminino. Irmandade, escolha afetiva que nos vincula fortemente pelo amor.

(*) Definição retirada de significados.com.br