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ARTIGO. “Lula está sujeito à lei. E por isso é inocente até prova em contrário e não poderá ser pré-julgado”

Por HELENA CHAGAS, originalmente publicado no portal Fato Online

As maiores vítimas dos ambientes políticos radicalizados são a lógica e o discernimento, elementos fundamentais em qualquer escolha, seja política ou pessoal, individual ou coletiva. Mais do que isso, momentos de acirramento de ânimos podem embaçar a visibilidade das situações reais, a ponto de colocar em dúvida – e, portanto, em risco – valores universais como verdade e justiça.

Por que essa conversa? Porque passei o fim de semana mergulhada na repercussão da mídia e das redes sociais em torno da Triplo X e das denúncias sobre a propriedade do triplex do Guarujá e do sitio em Atibaia que teriam sido reformados por empreiteiras, que levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao olho do furacão como investigado pelo Ministério Público.

O episódio adicionou alguns galões de gasolina à fogueira da radicalização, que não chegou a se apagar depois das eleições de 2014, mas vinha tendo as chamas moderadamente controladas. Mas a temperatura voltou a subir, o Fla X Flu  recomeçou e o cenário começa a ficar imprevisível.

As hashtags #LulaNaCadeia e #LulaEuConfio foram parar nos trending topics do Twitter, com suas afirmações desrespeitosas, brincadeiras de gosto duvidoso, grosserias e ofensas. O mundo dividiu-se entre os que garantem que Lula é inocente – e atacam todos os seus adversários e denunciantes – e os que já o condenaram, e também a seus parentes. Ninguém discute razões ou argumentos. É só paixão. E aí é preciso fazer justiça com os dois lados, igualmente competentes na baixaria.

Fora do mundo virtual, também se vive o império das paixões. O fim de semana já trouxe os sinais da superpolitização do assunto. O governador Geraldo Alckmin afirmou no sábado que Lula é o retrato do PT, “partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética”. Tudo o que os petistas queriam. O Instituto Lula reagiu com nota lembrando as denúncias de desvios na administração paulista nas obras do metrô e na merenda escolar. O presidente do partido, Rui Falcão, já havia afirmado que a intenção dos investigadores é destruir Lula porque têm medo dele em 2018. Por aí foi e, ao que tudo indica, irá.

A politização interessa a Lula e ao PT porque desqualifica as acusações e desperta o ânimo e os brios da militância para a defesa de seu líder maior – nas ruas e em qualquer outro lugar. Apesar do desgaste na imagem do ex-presidente, do partido e do governo, o campo petista ainda tem influência sobre amplos setores do movimento social, daqueles que sabem fazer muito barulho.

Da mesma forma, a oposição e o fã-clube dos acusadores de Lula programam manifestações pró-impeachment que terão como ingrediente principal os ataques ao PT e a seu líder. Apesar do  esvaziamento nos protestos mais recentes, esses movimentos esperam que o acirramento de ânimos, somado à evolução negativa do quadro econômico, reanime a classe média a ir às ruas.

Com isso, março tem tudo para ser um mês quente em todos os sentidos.

Enquanto a luta ficar circunscrita aos ambientes da política, da mídia e da Internet – que, segundo alguns, ocuparia hoje a função que era das ruas – a vida continua. Se extrapolar, porém, com manifestações diárias de lado a lado, confrontos e distúrbios, o cenário é imprevisível. Pode ficar difícil até governar.

Muitos estarão argumentando a esta altura que não há como desviar o curso da Lava-Jato ou abafar investigações para evitar conflitos e radicalização. Não há mesmo. Lula, como qualquer brasileiro, está sujeito à lei e a suas punições. Mas, inclusive por isso, é inocente até prova em contrário e não pode ser pré-julgado ou submetido à execração pública. Tem direito a um julgamento com base em razões e longe das paixões, presidido por aquela senhora que, nas imagens, é retratada com venda nos olhos – a Justiça.

Isso deveria ser líquido e certo, pois as instituições estão em pleno funcionamento. Garantias de tempos mais civilizados, porém, só vamos ter quando a jovem democracia brasileira concluir sua tarefa inacabada, que nos permita ter um sistema de financiamento eleitoral que não seja convite ao caixa 2, fortes mecanismos de combate à corrupção, políticos menos vivaldinos, juízes que falem nos autos, procuradores sem estrelismo, delegados menos corporativos, etc…

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