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A máfia das mil faces – por Bianca Zasso

biancaO poderoso chefão, clássico dirigido por Francis Ford Coppola, instituiu no imaginário coletivo a figura do mafioso italiano. Fala-se em máfia, lembra-se de Don Corleone e seu charme para lidar com os apadrinhados e também com os inimigos. Cenários em tons amarelados, as tradições da família siciliana, é tudo encantador. Mas a melhor máfia, na humilde opinião desta colunista que tem lá no fundo de suas veias algumas gotas de sangue italiano, é a japonesa. Pelo menos no quesito cinema.

Conhecida como Yakuza, a organização conseguiu o feito de infiltrar nos sets de filmagens gângsteres legítimos. Além de prestarem assessoria sobre os rituais da máfia, alguns integrantes de gangues poderosas também atuaram como protagonistas de algumas produções. O documentário A Yakuza no cinema, de Yves Montmayeur, apresenta um dos melhores panoramas sobre o período em que a máfia mandava nas ruas e nas telas.

Com entrevistas e imagens de arquivo, a produção mostra como a inspiração para os roteiros vinha das manchetes de jornal, tão populares quanto as histórias da ficção entre o público frequentador de cinema. Se o prezado leitor é um novato no gênero, uma boa pedida, além do filme de Montmayeur, é o box lançado no ano passado pela Versátil Home Vídeo.

Cinema Yakuza reúne algumas das melhores obras sobre o assunto. Seu grande trunfo, além da qualidade de imagem e extras interessantes, é apresentar as várias faces da Yakuza. Não pense você que filme de máfia é tudo igual. Eles possuem elementos semelhantes, mas cada diretor imprime sua digital, tanto na estética como no roteiro. Guerra de gangues em Okinawa, de Kinji Fukasako abre o box. E que porta de entrada! Até os avessos a filmes de ação se encantam com o clima pop e os assassinatos lindamente filmados.

Mais pop ainda é Sonatine, de Takeshi Kitano, conhecido comediante da TV japonesa que produziu belos filmes em sua terra natal, além de conquistar o coração do guru dos jovens cinéfilos, Quentin Tarantino. Sem querer exagerar, mas se Tarantino comenta um filme, muitos correm atrás. Virou quase um selo de qualidade. E é o diretor americano que apresenta o filme nos extras. Um oportunidade para pais que cresceram com os filmes de Yakuza chamarem os filhos para uma sessão em família. Tem sangue, tem cenas lindas e tem poesia. Poesia de Kitano, ou seja, não espere doçura e final feliz.

Contos brutais de honra, de Kiyoshi Saeki, e Os lobos, do mestre japonês Hideo Gosha, são filmes tradicionais, que seguem à risca as marcas que tatuam em um filme a marca da máfia, essenciais para os apreciadores de histórias mais clássicas. Inclusive para esses, vale as duas surpresas da coleção.

Flor seca, de Masahiro Shinoda, traz um outro olhar para os bairros dominados pela máfia. O submundo da jogatina é pano de fundo para a história de um casal insólito que não sabe lidar com a própria realidade. O filme integra a chamada nouvelle vague japonesa, que dava tempero moderno a temas bem peculiares da cinematografia do país. Flor seca é perturbador, inteligente, tem ótimas atuações e dá uma aula de como dirigir cenas em conjunto e dizer tudo sem precisar de diálogo algum.

A marca do assassino, de Seijun Suzuki, mostra sua excentricidade já no protagonista. O ator Joe Shishido, com suas bochechas conquistadas com cirurgia plástica, passa longe de ser um bom intérprete, mas seu biotipo caiu como uma luva para dar corpo a um assassino de aluguel que tem fetiche pelo cheiro de arroz cozido e se vê atraído por uma mulher envolvida com uma gangue rival. Não espere uma trama linear. Suzuki gosta de pérolas soltas pela tela. E é uma mais surpreendente que a outra.

Prepare o saquê ou o chá, acomode-se na poltrona e esteja pronto para ser conquistado por todas as faces da Yakuza. Esta colunista garante que vale a pena. Arigatô!

Box Cinema Yakuza (3 DVDs)

Distribuição: Versátil Home Vídeo

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