Nunca mais – por Luciano Ribas

Eu desconfio muito de quem considera perda de tempo “remexer no passado”, pelo menos o passado que importa a todos nós. Para mim, quem falseia a história o faz por ignorância, por culpa ou por oportunismo e todas estas motivações devem ser combatidas. Sempre.

Sendo mais claro, nesse momento falo sobre as reações à instalação de “Comissões da Verdade” em órgãos do Estado brasileiro que estiveram relacionados, de alguma forma, à longa noite da ditadura militar. Geralmente, são tão rasas de sentido quanto desprovidas de argumentos: “vão capinar um lote”, “não tem uma pia de louça para lavar”, “quem trabalhava não se incomodava naquela época”, “esse governo petralha quer desviar a atenção”, “comunistas!”, passando por (diversas) palavras de baixo calão, proferidas por gente de pouca e de muita instrução.

Eles têm o direito a isso? Sim, tanto à incontinência verbal quanto ao desvario alucinado. Ao ódio e a querer impedir que assassinatos, perseguições, estupros, torturas, mutilações, banimentos, cassações, desaparecimentos e tantos outros crimes sejam postos à luz do dia, jamais. Muita gente boa sofreu na carne para que todos tenhamos o direito à livre expressão – até mesmo à livre expressão da própria imbecilidade.

Nesse país ainda há cadáveres demais em sepulturas clandestinas para que seja mais importante capinar um lote do que remexer no passado. Nenhum fascista, seja ele de antiga estirpe ou recém-convertido, que carregue estandarte da TFP ou que se esconda na interface do Facebook, poderá impedir isso. Enquanto houver gente de coragem e feridas abertas, não conseguirão, simplesmente porque não se trata de revanchismo, mas de conhecermos o lado obscuro da História para que não deixemos acontecer outra vez.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra este artigo é uma reprodução de internet.