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O mundo anda ao contrário – por Liliana de Oliveira

O mundo anda ao contrário ou talvez eu me sinta na contramão dos tempos. Talvez seja Datena demais e amor de menos. Talvez seja julgamento demais e compreensão de menos. Talvez seja punição demais e generosidade de menos. Talvez.

Fico assistindo com lágrimas nos olhos aquilo que muitos defendem com raiva nos olhos. E não são só nos olhos. São nos gestuais, nos discursos, nas palavras, nas posturas que desconsideram o outro como outro.

Esta semana me provocou um tanto de desconforto. Vi e ouvi tantas coisas que aviltam o ser humano que não posso achar que estamos todos bem. Na semana que passou vi um vídeo gravado por alguém que filmou dois homens com as calças arriadas transando na varanda de uma casa nas imediações da rua Venâncio Aires. A mulher que filmou e que não se deixou mostrar os chamava de vagabundos e dizia que da próxima vez os tiraria dali a bala. Se soubesse antecipadamente o teor do vídeo não o teria visto. Ver me fez muito mal. Você deve estar pensando que estou incomodada com a postura dos homens que invadiram uma casa que não era deles e que expuseram aquilo que deveria ser privado. Também, mas não só. Fiquei mais incomodada com o fato de alguém filmá-los e expô-los. Se eles erraram, quem filma, compartilha e diz que vai matá-los erra duplamente. Quem compartilha e ri daquilo de que não se ri, erra de novo. E assim seguimos errando todos.

Nessa mesma semana se tornou notícia amplamente divulgada em todo o país a morte de um médico assassinado na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro. Triste notícia. Triste saber que a vida foi banalizada. Você deve estar pensando que me refiro a vida do médico. Também, mas não só. Me refiro também ao suspeito pela morte do médico que é um menor de 16 anos que há muito tempo vive a morte em vida. Abandonado pelos pais desde muito cedo. A mãe catadora de latas, papelão e garrafas pet, relatou que sabia que o filho desde 2010 roubava e era usuário de drogas. O pai não ajudou a criá-lo e o viu apenas duas vezes na vida. O menor perambulava pelas ruas do Leblon à noite, onde os policiais registravam as ocorrências como abandono material e abandono de incapaz. Triste história de abandono. Mais triste ainda somos nós que queremos abandoná-lo a própria sorte.

O caso reacendeu o debate em torno de propostas como a redução da maioridade penal e a revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Entendemos que devemos mais uma ver punir aqueles a quem o Estado pune cotidianamente.

Sigo com lágrimas nos olhos e cantarolo a linda música de Nando Reis que nos diz que “O mundo anda ao contrário e ninguém reparou”.

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Um Comentário

  1. Perfeita colocação!
    São sentimentos…a raiva está na soberania dos sentimentos, infelizmente. Busco ter paciência e entendimento com muitas pessoas que não entendem sequer a tristeza que o ser humano carrega num olhar, trabalhar na socioeducação é um desafio de sentimentos diário, antes das pessoas quererem a redução maioridade penal, leiam Paulo Freire e não esqueçam que a vida não é generosa com todos, muitos não sabem dar amor porque nunca receberam amor.

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